A cena é tão chocante quanto indigna para quem o protagoniza. O menimo remexe uma caçamba de lixo e se refastela com as sobras de uma torta. A julgar pelos seus parcos 35 quilos distribuídos em 1,53 metro de altura, ninguém dá mais que 10 anos de idade. Mas já se foram 15 anos na vida de S.A.P., que há três anos trabalha como catador de papelão. Ele garimpa o lixo alheio para matar a própria fome, a dos pais e de mais quatro irmãos menores.
A miséria em Londrina já atinge uma segunda geração de londrinenses, como S.A.P. São filhos de pais pobres, nascidos em Londrina e que hoje são nada menos que 32% da população residente em assentamentos e áres invadidas.
Cerca de 60% deste contingente vieram de cidades vizinhas. Ou seja, a maioria quase absoluta (92%) da população favelada do municípo é formada por pessoas nascidas na região metropolitana de Londrina. Esta é a conclusão intrigante de uma pesquisa de campo elaborada pelo curso de direito da Universidade Norte do Paraná (Unopar) e intitulada ''Resgate da Cidadania, uma Questão de Direito''.
Em um ano e meio, estudantes coordenados pelo sociólogo João Batista Filho entrevistaram 5.354 famílias em 12 comunidades residentes em favelas, assentamentos e áreas de ocupações do município. Das pessoas entrevistadas, apenas 8% acusaram ser de outras regiões do Paraná e demais Estados.
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Estima-se que pelo menos 160 mil pessoas, cerca de 35% da população londrinense, vivem à margem, ou seja, em situação de risco social. São famílias cujo rendimento médio do chefe não supera os dois salários mínimos. ''Caiu-se o mito de que a pobreza e a miséria em Londrina é fruto de um processo migratório. O cidadão favelado aqui nasce pobre, vive pobre e pode morrer pobre'', avalia Batista Filho. Há 27 anos este professor com Phd em sociologia na França estuda o fenômeno da favelização de Londrina, segundo ele agravado a partir da década de 60.
''Essa população vive uma verdadeira exclusão. Estão fora da cidadania'', destaca o estudioso. A terceira maior cidade do Sul do país vive de contrastes dentro dos seus próprios limites territoriais. Um centro arborizado, desenvolvido e ocupado por prédios, shoppings e áreas de lazer, que parecem uma ilha em meio a 57 áreas ocupadas por uma população carente, vivendo em casebres e cheia de incertezas. ''Não estudo faz dois anos. Parei na quarta série. Meus pais vivem da coleta também então tenho que garantir mais uns R$ 150,00 que é para comprar a cesta básica'', diz o desesperançado S.A.P.
» Leia a reportagem completa na edição deste domingo da Folha de Londrina.