As 63 creches filantrópicas de Londrina voltaram a receber as crianças normalmente nesta segunda-feira (19) depois de quatro dias de greve. O retorno às atividades veio após o decreto do Tribunal de Justiça do Paraná, a pedido da Prefeitura de Londrina, que considerou o movimento paredista como “ilegal”.
O Sinpro (Sindicato dos Profissionais das Escolas Particulares de Londrina e Norte do Paraná), que representa as mais de 1,4 mil professoras dos Centros de Educação Infantil filantrópicos de Londrina, tenta reverter a decisão.
Consultada, a Prefeitura de Londrina disse que todos os CEIs estão abertos e com cerca de 66% de presença. Ainda não há um balanço do número de professores nas unidades. O Sinpro confirmou que as instituições voltaram a receber 100% das crianças.
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Uma reivindicação justa
Por volta das 8h10, o movimento no CEI Cardeal Dom Geraldo Majella de Agnelo era modesto, mas a reportagem conferiu ao menos dois familiares deixando as crianças na unidade. De acordo com uma mãe, que pediu para não ser identificada, o retorno às atividades é um “alívio”, já que precisou da ajuda de parentes para cuidar da filha durante os dias de greve da categoria na semana passada.
Apesar da situação, ela garante que apoia a luta dos professores em prol de uma remuneração melhor, principalmente por exercerem uma profissão tão bonita. “É um direito deles e a gente precisa apoiar”, garante. No CEI, a direção não quis gravar entrevista, mas confirmou que o atendimento está normalizado.
O aposentado Nilton Teixeira, 67, estava deixando o neto, de três anos, na creche, que fica na Rua Goiás, e ressaltou a qualidade do ensino prestado pelas professoras, destacando que o pequeno gosta muito de frequentar as aulas. “Acho que toda movimentação em prol de melhores condições de trabalho e de melhores salários é justa”, opina. Ele pondera se a greve era o melhor caminho e reforça a necessidade de uma negociação que atenda todas as partes.
Durante a paralisação das atividades, ele e a esposa ficaram responsáveis pelo cuidado com o neto, já que a filha trabalha, mas que foi algo que mudou totalmente a rotina da família. “Agora fica mais tranquilo”, garante.
No CEI Ser Criança, na Rua Maragogipe, a coordenação também não concedeu entrevista, mas confirmou que o movimento estava dentro do normal, tanto de crianças quanto de professores. Em processo de transferência do CEI Anália Franco, na zona leste, a vendedora Natália Schmeiske, 40, estava levando a filha para fazer a matrícula na unidade no centro de Londrina.
Ela garante que os dias sem aula foram complicados, mas que, por sorte, conseguiu negociar e trabalhar apenas durante o período da tarde. Com isso, conseguia ficar com a pequena pela manhã e, à tarde, ia para o trabalho enquanto a mãe assumia o cuidado. “É difícil porque é sempre a mulher que acaba abrindo mão do trabalho”, relata.
Apesar disso, ela entende que a causa é justa e considera como “um absurdo” o fato de as professoras das creches filantrópicas receberem menos da metade do salário das que atuam na rede municipal. “É difícil para os pais, mas a gente ‘se virou’ porque é uma causa muito justa”, ressaltando que a categoria deveria receber “muito mais”, já que prestam um serviço muito importante: “eles cuidam da minha filha”.
Greve
A greve das professoras das creches filantrópicas começou no dia 13 de maio com a suspensão das aulas em dezenas de instituições de educação infantil. A reivindicação da categoria é em razão da diferença salarial para as docentes que são concursadas e atuam nos CMEIs (Centros Municipais de Educação Infantil, que chega a ser de 100%: a remuneração é de R$ 2.291.10 e de R$ 4.800, respectivamente. Pelo menos oito mil crianças frequentam as creches filantrópicas.
O pedido da categoria é de um reajuste escalonado ao longo dos próximos anos para reduzir a diferença salarial. Durante os dias de greve, o Sinpro encabeçou diversos atos para exigir uma revisão dos valores e uma negociação direta com a Prefeitura de Londrina.
Proposta
Na última sexta-feira (16), durante uma reunião no Ministério Público, o Sinpro, que representa os professores, chegou a um modelo de proposta de reajuste junto ao sindicatos patronais: Sinibref (Sindicato Interestadual das Instituições Beneficentes, Religiosas e Filantrópicas) e do Secraso (Sindicato das Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e de Formação Profissional do Paraná).
A proposta envolve uma reposição salarial de 4,77% para este ano, respectiva à inflação, além de outros 5%, sendo 3% deve ficar a cargo do município e 2% com as entidades. No caso daquelas que não tiverem recurso, os 2% deverão ser custeados também pela administração, sendo que o reajuste para 2025 ficaria na casa dos 9,77% para todas as professoras da rede. Para 2026 e 2027, o reajuste seria de 10%, além do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
Na data, a prefeitura disse que qualquer proposta seria analisada com cautela. A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação nesta segunda-feira, que confirmou que o documento segue em análise.
Suspensão da greve
No final da tarde de sexta-feira, o relator do Tribunal de Justiça do Paraná, o desembargador Carlos Mansur Arida, decretou que o movimento paredista foi “deflagrado de forma ilícita e abusiva”, entre outras coisas, por não respeitar a presença mínima de 60% dos professores no local de trabalho, já que esse é um serviço essencial à população, além do fato de o Sinpro não ter notificado o sindicato patronal com 72 horas de antecedência à paralisação.
De acordo com o Sinpro, “os profissionais mantêm o estado de greve, aguardam a reversão do quadro e posição da prefeitura” nesta segunda-feira. O presidente do Sindicato, André Cunha, está em Curitiba para conversar com o relator do caso. Ainda não há informações sobre o horário do encontro.
Cunha deve retornar à Londrina até o final da tarde, já que às 19h, na Câmara dos Vereadores, a sessão vai tratar da reivindicação da categoria.
