Em uma cidade onde há um sem número de pessoas sub-ocupadas ou sem ocupação alguma, qualquer lugar onde possa se improvisar uma moradia é benvindo mesmo com condições mais que precárias. No Vale do Rubi (zona oeste de Londrina), dois casais de origem indígena estão vivendo embaixo de uma pista de skate e dividem poucos metros quadrados com oito crianças.
Buracos de pouco mais de um metro são as portas das casas, o que não cabe dentro da ''casa'' fica espalhado embaixo das árvores. Um pilha de papel e materiais recicláveis mostra que as famílias estão ali há bastante tempo.
Valdecir Correia, que tem origem caigangue, conta que trabalhava na roça na reserva indígena de São Jerônimo da Serra (78 km ao sul de Cornélio Procópio), mas como o dinheiro era pouco, ele decicidiu tentar a sorte em Londrina. Agora, Correia cata papel para sustentar a família.
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Sem achar moradia acabou se instalando por ali junto com a mulher, que é branca, e os cinco filhos. As outras pessoas que dividem o espaço são mais arredias. O outro morador, visivelmente embriagado e cercado de cachorros, ameaçou a reportagem com um pedaço de pau.
A história do outro casal é bastante semelhante a de Valdecir. Segundo informações da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Londrina, a mulher é da reserva caicangue de Barão de Antonina, também em São Jerônimo da Serra, e o marido é branco. Eles estariam morando em Curitiba há algum tempo quando decidiram vir para Londrina com os três filhos.
Segundo a assistente social do órgão, Evelise Viveiros Machado, os casais estão morando na pista de skate há três meses. A Funai está negociando a remoção das famílias para suas reservas, mas eles resistem à idéia. ''O Valdecir está totalmente resistente e quer que a Funai pague aluguel para ele em Londrina, já o outro casal vive se mudando de um lugar para outro, é difícil'', afirma. Segundo ela, o pai de Valdecir, que é branco e reside em Ibiporã, também foi chamado, sem sucesso, para tentar convencê-lo.
A Funai espera agora que as lideranças indígenas ajudem a convencer as famílias. Representantes dos caciques das duas reservas devem vir nesta quinta-feira à Londrina para conversar com o grupo. O fato dos casais serem inter-raciais prejudica o andamento do processo. ''É outro tratamento'', afirma.
Enquanto a questão não se define, os moradores do Vale Rubi perderam uma opção de lazer. Na verdade, segundo a vizinhança, antes dos indígenas havia outros moradores na pista. ''Esses até que são calmos, antes tinha uma mulher meio maluca que jogava pedra nos meninos e ameaçava a gente com estiligue'', conta o estudante Fabrício Augusto Gomes de Oliveira, 14 anos e antigo frequentador da pista.