O fantasma das contas de luz atrasadas vem tirando o sono, há vários meses, do líder comunitário do assentamento Novo Amparo 2 (zona norte). Não é para menos: apesar de morar num local que ainda nem possui postes de energia elétrica, Milton Pereira tem em seu nome faturas mensais que ultrapassam R$ 1 mil.
O valor equivale ao consumo de energia das 65 famílias do assentamento, que é centralizado em um único medidor de luz. Nem todas podem pagar a conta e, com isso, a dívida vai se acumulando.
Por causa do atraso na quitação da dívida, o assentamento ficou sem luz nos últimos 11 dias. Crianças que estudavam à noite ficaram sem ir à escola. Outras, tiveram que fazer tarefas escolares à luz de velas, como a filha Jenifer, filha de Milton.
Sem televisão, alguns moradores passaram a se recolher no final da tarde. ''Desde que acabou a energia não lavo roupa'', acrescentou Ana Cristina Alves, 17 anos. Hoje à noite, depois que Pereira conseguiu pagar parte da dívida e parcelar os R$ 4,5 mil restantes, a luz foi religada. ''Agora vai ser mais uma batalha. Sair de porta em porta pedindo que as famílias paguem sua parte'', antecipou o morador.
As inúmeras horas de escuridão, insegurança, geladeira vazia e televisão desligada não teriam ocorrido se as famílias do assentamento fossem isentas da taxa de energia elétrica. É esse benefício que o governo estadual pretende conceder por meio de um projeto de lei que pode ser aprovado já na próxima semana na Assembléia Legislativa.
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O projeto prevê isenção da conta de energia elétrica para famílias cujo consumo não supere 100 quilowatts/hora por mês. Uma exigência relativamente fácil de ser cumprida pelos moradores do Novo Amparo 2, que sequer dispõem de chuveiros, os grandes vilões do consumo. Mas uma família de quatro pessoas que dispõe de eletrodomésticos básicos terá que se esforçar para se enquadrar entre os beneficiados com a isenção.
Os moradores do Novo Amparo 2 e muitas famílias podem, entretanto, esbarrar em um outro pré-requisito da isenção: possuir cartão referente a algum dos programas assistenciais do governo federal, como Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação ou Vale-Gás.
Se a lei de isenção entrasse em vigor hoje, a dona-de-casa Valdirene Aparecida Teodoro, 22 anos, não teria acesso ao benefício. Embora sua renda familiar não chegue a meio salário-mínimo, Valdirene ainda não conseguiu retirar os cartões dos programas federais. ''Já fiz cadastro há um ano, mas o cartão ainda não veio. Com os 24 reais que uso pra pagar conta de luz, poderia comprar botijão de gás pra mais de um mês. Mas pelo visto, vou ficar de fora de mais essa'', lamentou, ao tomar conhecimento do projeto de isenção.
Dados repassados em junho pela Secretaria Municipal de Ação Social revelam que cerca de 12 mil famílias de Londrina recebem algum tipo de auxílio do governo. De acordo com o superintendente da Copel, Roberlei Luppi Savariego, existem hoje em Londrina 44 mil famílias que consomem até 100 quilowatts-hora por mês. ''Mas não são, necessariamente, famílias de baixa renda'', pondera. Savariego aponta que o consumo médio de energia elétrica em Londrina é de 160 quilowatts-hora/mês.