Está mais perigoso ser jovem em Londrina. A conclusão pode ser tirada a partir da análise de dados sobre a criminalidade com envolvimento de crianças e adolescentes na cidade. A explosão no número de homicídios comparada a anos anteriores tem feito jovens como vítima preferencial. Até 1994, a principal causa externa de morte entre jovens era acidente de transporte. Em 2000, o homicídio passou a figurar como maior causa de falecimentos e, a partir do ano seguinte, assumiu a liderança no ranking de mortalidade entre adolescentes.
A última vítima da violência foi Everton Luiz Marcondes, de 14 anos, morto a tiros no início da noite do último domingo, no Jardim Nossa Senhora da Paz (zona oeste).
O quadro preocupante motivou professoras da Universidade Estadual de Londrina (UEL) a realizarem trabalhos de estudo e prevenção da violência. Os trabalhos, integrados há quatro anos, são 'Ação Interdisciplinar no Combate à Violência contra Crianças e Adolescentes', comandado pela professora Mari Nilza Ferrari de Barros, do Departamento de Psicologia Social, e o projeto 'Olho no Futuro', da professora Vera Lúcia Sugihiro, do Departamento de Serviço Social.
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De acordo com Mari Nilza, a principal causa da violência é a questão social. ''Na maioria dos casos, a história de violência está dentro de casa. Nosso objetivo é orientar os jovens, no sentido de superar estas histórias de violência, tanto dos que praticam como dos que sofrem atos de violência'', relatou. A psicóloga também destaca a ausência de políticas públicas, como na área do lazer, destinada ao público jovem e a influência do tráfico de drogas.
Em parceria com o Conselho Tutelar e participação de estagiários de direito, psicologia, comunicação social e serviço social, os projetos investigam a natureza dos problemas de violência nas famílias. Em encontros semanais, o grupo discute casos e encaminhamento do atendimento. Segundo a psicóloga, um dos objetivos do trabalho é evitar que a violência se torne um modelo de comportamento para crianças e adolescente.
Uma iniciativa do grupo foi a criação do Disque-Proteção, para denúncia anônima de casos de violência, através de convênio firmado em junho com a Sercomtel. O telefone para denúncias em horário comercial é 0800-400-8090. Este serviço combate o que é definido pela psicóloga como ''ditadura do silêncio''. ''Considero ditadura, e não pacto do silêncio, porque as pessoas querem denunciar, mas têm medo. Sentem-se prisioneiras dentro de suas próprias casas e bairros'', declarou.
Para Mari Nilza, um caso emblemático, atendido pelo grupo, mostra a verdadeira preocupação das mães em bairros de periferia. Segundo ela, uma criança disse numa entrevista: ''Minha mãe não me deixa sair de casa porque tem medo que eu vire ladrão''. ''Não é o medo da violência, mas de virar bandido'', analisou.
Até o fim do ano, o grupo deverá fechar dados numéricos sobre a violência, já que também pesquisa o envolvimento dos adolescentes no crime, com equipes atuando junto ao Instituto Médico-Legal (IML), Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Infrator (Ciaadi) e Promotoria Pública. ''A responsabilidade quanto ao problema da violência tem de ser de toda a sociedade'', enfatizou.