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Em Londrina

Projeto quer valorizar artesanato feito por presas

Redação - Folha de Londrina
15 ago 2003 às 08:32

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Na cela do 4º Distrito Policial, o crochê ajuda a passar o tempo - Sérgio Ranalli
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Tempo é dinheiro, dita a lógica de mercado. Mas não é assim que as coisas funcionam para as detentas do 4º Distrito Policial (DP), na zona sul de Londrina. Horas vagas elas têm de sobra. Mas quando decidem preenchê-las com trabalho, o retorno financeiro é insignificante.

Mudar essa situação é um dos objetivos do projeto ''Tecendo a Liberdade'', que será inaugurado amanhã, às 10h30, no 4º DP. A ação, realizada pela Secretaria Municipal da Mulher em parceria com a Pastoral Carcerária e outras entidades, terá no artesanato o principal meio de geração de renda para as cerca de 30 mulheres presas em Londrina. Com isso, os organizadores do projeto também pretendem resgatar a auto-estima das detentas.

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Hoje, as futuras beneficiadas ainda não sabiam ao certo como iria funcionar a ação. Algumas nem tinham conhecimento do projeto. Mas todas concordavam que estava mais do que na hora de receber um reforço nos trabalhos manuais.

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Sozinhas, as detentas já realizam vários tipos de artesanato. Fazem toalhas, roupas, acessórios e bonecos usando técnicas de crochê, tricô e bordado. O material é fornecido pela Pastoral Carcerária e outras organizações que dão assistência esporádica às detentas. Não é muito, mas o que elas conseguem extrair de linhas e agulhas não faria feio em nenhuma feira de artesanato.

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''Aqui a gente faz de tudo. Só não faz a liberdade surgir lá fora'', diz Maria Virgínia Garcia de Almeida, 39 anos, presa há oito meses por tráfico de drogas. Enquanto a liberdade não chega, Virgínia vai ensinando as técnicas de artesanato a outras mulheres que passam por aquelas celas. ''Nunca tivemos curso. Aqui é uma que ensina a outra'', completa. Elas ressaltam a vontade de se aperfeiçoarem, aprenderem pintura e, principalmente, ganhar dinheiro com a produção.


Hoje, as peças são vendidas apenas para as visitas, a preços bem abaixo do mercado. ''Tem gente que não dá valor porque foi a gente que fez. Numa blusa que custaria uns R$ 30 lá fora a gente não consegue nem a metade do preço'', reclama a detenta Diocele Alves, 24 anos, presa há nove meses por homicídio.

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O dinheiro que ela ganha não serve para ajudar no sustento dos dois filhos, de 6 e 4 anos, que deixou em Ibiporã (14 km a leste de Londrina). A maioria das mulheres utiliza a renda do artesanato para comprar comida - segundo elas, ''a da cadeia é péssima''.


Mesmo sem retorno financeiro, as detentas garantem que os trabalhos manuais são a melhor forma de passar o tempo. ''Funciona como uma terapia, pra não ficar pensando em coisa errada. É como uma matemática, a gente fica tão concentrada que não vê mais nada'', afirma Diocele.

A colega Edna Regina da Silva, 20 anos, vai além ao justificar por que é tão importante ocupar a mente dentro da prisão. ''É muito ruim ficar trancada o dia inteiro, parede de um lado e grade do outro. Você dorme e quando abre o olho, pensa que está no inferno''.


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