Antes mesmo de encerrar a cerimônia em homenagem ao ex-presidente sul-africano Nelson Mandela no Estádio Soccer City, em Joanesburgo, na segunda-feira (10), uma polêmica em torno do intérprete de sinais que traduziu os discursos de autoridades como o presidente-norte-americano Barack Obama, o diretor-geral da ONU, Ban-Ki-moon, além de personalidades africanas, ganhou as redes sociais e acabou forçando uma investigação do governo da África do Sul para apurar o caso. Foi levantada a suspeita de que Thamsaqa Jantjies, o centro da discussão, era, na verdade, um impostor.
A deputada sul-africana Wilma Newhoudt, vice-presidente da Federação Mundial de Surdos, mostrou sua indignação ainda durante o tributo, por meio do microblog Twitter. Na rede social, ela pediu para que tirassem o intérprete ainda durante o evento e o criticou duramente. "Que vergonha esse homem que se chama intérprete no palco. O que ele está sinalizando? Ele sabe que surdos não [conseguem] vaiá-lo", escreveu.
Ontem o governo informou que estava apurando o caso do "falso" intérprete. Hoje, porém, após ser acusado de falsário e de ter simulado gestos, sem nenhuma proximidade com a linguagem de sinais, Jantjies concedeu entrevista a um repórter local se justificando. Ele disse que, durante o memorial com a presença de quase 100 chefes de Estado, sofreu um "episódio esquizofrênico".
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Segundo Jantjies, de repente, começou a ter alucinações e ouvir vozes. Ele disse que toma medicação para esquizofrenia e não sabe o que levou ao surto, se a magnitude do trabalho que estava fazendo, e pediu desculpa. "Não tinha nada que eu poderia fazer. Estava sozinho em situação muito perigosa. Tentei me controlar e não mostrar ao mundo o que estava acontecendo. Eu sinto muito".
O intérprete disse que, quando a empresa que lhe emprega disse que trabalharia no memorial, ele se sentiu honrado por fazer parte do momento histórico. Jantjies receberia o equivalente a R$ 200. Apesar das alucinações, que prejudicaram seu trabalho em um dos momentos mais importantes da despedida ao maior líder de seu país e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1993, ele disse não podia sair do local e, então, continuou a fazer gestos sem sentido.
"Esta doença é injusta. Qualquer um que não entenda essa doença vai pensar que eu estou inventando tudo", desabafou ele, que dividiu com o presidente sul-africano Jacob Zuma, várias vezes vaiado durante a cerimônia, o foco das críticas nos últimos dias. O jornal que fez a entrevista informou que o homem, de 34 anos, mostrou documentos que comprovam seu trabalho como intérprete, incluindo fotos ao lado de autoridades em grandes eventos.