Fora do alcance das buscas de internet comuns está um mundo online secreto conhecido como "dark web", conexões globais anônimas e praticamente impossíveis de rastrear, usadas tanto por ativistas políticos como por criminosos.
"Você tem vários traficantes à disposição, então pode comparar os produtos. E os consumidores podem deixar comentários sobre os produtos de cada traficante também", diz um estudante americano, identificado pelo nome de David.
Ele explica que decidiu usar a "dark web" para comprar drogas ilegais, porque assim "você não tem que ficar cara a cara com um traficante na rua, onde pode haver um risco de violência".
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E não são apenas drogas que estão disponíveis neste mercado negro online. Há também passaportes falsos, armas e até pornografia infantil.
A "dark web" é formada por uma rede global de usuários de computador que acreditam que a internet deveria operar sem a supervisão da polícia e do sistema legal.
Ela permite que usuários como David, e aqueles que vendem drogas a ele, permaneçam anônimos. Com frequência, os usuários não sabem a verdadeira identidade das pessoas com quem estão lidando e é muito difícil - apesar de não ser impossível - que as autoridades consigam localizá-los.
Uma investigação da BBC conseguiu acesso online a vários usuários anônimos da "dark web".
Um deles contou que se sente "muito mais seguro na rede do que fazendo negócios no mundo real".
"Eu vendia drogas no mundo real. Agora, eu praticamente só uso a 'dark web' para o comércio de drogas."
Outro disse: "Se você é jovem e está tentando encontrar um contato para drogas mais pesadas que maconha, é praticamente impossível, sem correr risco de ser preso."
Para ter acesso à "dark web", é preciso baixar programas gratuitos da internet, com base em tecnologia peer-to-peer, que efetivamente embaralham a localização dos usuários e dos websites.
E o sistema não é apenas usado para o crime: a "dark web" vem se provando uma ferramenta crucial para esconder a identidade de ativistas políticos que vivem em países com governos opressores.
Ela teria sido usada para espalhar as mensagens de revolução durante a Primavera Árabe e serviria como proteção para dissidentes na China.
Ainda assim, o potencial para atividades criminosas é significativo.
Drogas pelo correio
Pesquisadores da BBC conseguiram acessar a rede e comprar o alucinógeno DMT, uma droga classificada, na Grã-Bretanha, como tão perigosa quanto heroína e cocaína.
Uma camada extra de sigilo é adicionada à "dark web" com o uso de Bitcoins, uma moeda digital que pode ser usada por criminosos para mascarar suas operações financeiras.
Após uma espera de cerca de três semanas, um pacote chegou pelo correio com selo da Espanha. Escondido entre duas finas tiras de papelão, estava um pó branco.
O laboratório da Universidade de St. George e do Hospital de Londres confirmou que o pó era DMT - e que a "dark web" funciona.
A BBC não tem ideia de quem enviou as drogas - que foram destruídas pelo laboratório. A posse de DMT na Grã-Bretanha pode resultar em uma pena de sete anos de cadeia, enquanto o tráfico da substância pode ser punido com prisão perpétua.
Mas o que está sendo feito para policiar a atividade na "dark web"? "Policiais dos dois lados do Atlântico dizem a mesma coisa: não temos tribunais suficientes, não temos juízes suficientes e não temos policiais suficientes para lidar com a escala real de comportamentos ilegais na internet", diz o consultor do governo britânico e da ONU para segurança na internet, John Carr.
"Isso significa que, cada vez mais, vamos ter que procurar soluções técnicas, vamos ter de apelar para a indústria da internet para ajudar a sociedade civil a lidar com esse enorme problema criado pela 'dark web'."