Muitas coisas se fazem em nome do amor. Sofremos, consolamos, poupamos o outro, fazemos suas escolhas. Mas devemos estar sempre em contato com nossos sentimentos e motivações mais verdadeiros, para não ''batizar'' de amor sentimentos tão díspares quanto dependência, intolerância e até mesmo o medo de amar.
O amor que tanto inspira os poetas, que tantas definições em verso e prosa já recebeu, que arranca tantos suspiros daqueles que sentem sua presença, também aparece equivocadamente usado em lugares que nem sempre lhe cabem.
Sofrer em nome do amor, proteger demasiadamente, abdicar de desejos, submeter-se exclusivamente aos desejos do outro, ou ainda, exercer imposições em nome do amor podem ser alguns dos exemplos do uso indevido do sentimento chamado de amor.
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Vamos considerar mais atentamente os exemplos citados nas linhas anteriores.
É inegável que quando presenciamos a doença de um ente querido, ou quando um evento indesejável ocorre com pessoas que nos são caras, podemos nos abalar, sofrendo a dor que tais acontecimentos despertam.
Mas isso não significa que estejamos condenados a sofrer porque amamos. Sofremos quando não nos encontramos aparelhados para lidar com as contingências que a vida nos impõe.
Porém, superar um episódio temporário difícil, ou adaptar-se a novos arranjos para conviver com aquilo que era imprevisível, não são sinônimos de eternizar o sofrimento.
Proteger demasiadamente como forma de demonstração de amor pode evidenciar, por exemplo, falta de confiança nos recursos de que dispõe a pessoa que é alvo desta proteção.
Guardadas as proporções das circunstâncias que nos inspiram a delinear cuidados especiais para com aqueles que amamos, modular a dedicação e manter a proteção num nível que represente a manuntenção de um relacionamento saudável, é imprescindível para o crescimento de todos os envolvidos.
Abdicar de desejos pessoais para provar o amor que sente, pode, entre outros, representar um meio potencial para se obter o 'status quo' de vítima numa relação. Sem contar que também pode servir para conferir um ''direito'' a acusações futuras sobre a falta de reconhecimento por tudo que se deixou de fazer por causa do bem-estar do outro.
Margareth Reis, psicóloga clínica e terapeuta sexual e de casais no Instituto H. Ellis (SP)