O mercado europeu de Internet está iniciando sua fase de maturidade, o que na prática se traduz em uma boa notícia para algumas companhias e em uma péssima para outras tantas. Um trabalho conjunto da PricewaterhouseCoopers e da Fletcher Advisory, consultoria especializada na área de e-business, passou uma lupa grossa sobre as principais empresas pontocom do Velho Mundo e chegou a algumas conclusões interessantes. A principal delas surpreendeu muita gente: 38% das grandes companhias de Web da região já saíram do vermelho. Ou seja, está na hora de rever aquela idéia de que um negócio de Internet está sempre dando prejuízo. O número evidencia uma rápida consolidação do mercado, já que no último trimestre do ano passado apenas 28% das pontocom da Europa eram lucrativas.
"O crescente número de empresas lucrativas é tanto decorrente de um aumento das receitas quanto de um maior controle sobre os gastos", explica Toby Jennings, diretor da Fletcher Advisory, em entrevista ao WebWorld. Medindo a taxa de gastos de recursos e a performance das ações das 150 maiores empresas de Internet européias listadas publicamente em bolsa de valores, o trabalho mostrou que o setor começa a deixar de lado alguns hábitos da fase "infantil". O dinheiro fácil vindo por meio de investidores e venda de títulos nas bolsas de valores, por exemplo, está dando lugar à tentativa de equilibrar o caixa, cortando despesas e lutando para obter receitas. Nos primeiros três meses de 2001, as pontocom da Europa levantaram um total de US$ 171,5 milhões por meio de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs), substancialmente menos do que os US$ 787,8 milhões verificados no trimestre anterior.
Além disso, pela primeira vez desde junho de 2000, o crescimento das vendas entre as empresas de Internet está ocorrendo a um nível similar - e em alguns casos até maior - do que o crescimento das despesas dessas companhias. No terceiro trimestre de 2000, o crescimento dos gastos era, em média, 11% maior do que o incremento das vendas; no quarto trimestre, essa diferença baixou para apenas 1%. Chegar até aí não foi um processo fácil, nem indolor. Quase todas as pontocom tiveram que fazer acrobacias administrativas para deixar a casa em ordem, o que muitas vezes significou adotar uma política do tipo "vão-se os anéis para ficarem os dedos". Os anéis, no caso, podem ser entendidos como os gastos administrativos e em marketing e, não raro, também os funcionários dessas companhias.
Polarização do mercado
A pesquisa também deixa claro que a polarização do mercado que começou no final do ano passado está se acentuando. As 25% maiores empresas pelo critério de valor de mercado (preço das ações em bolsa) estão, em média, cada vez mais lucrativas, com rápido crescimento em vendas e com os gastos em marketing cada vez mais bem calibrados - ou seja, investindo menor quantidade de recursos, porém com mais eficiência. Por outro lado, o grupo formado pelas últimas 25% em termos de valor de mercado enfrenta a situação oposta: crescimento irrisório no volume de vendas e uma sufocante pressão para descobrir alternativas de ingresso de receitas. "A distância entre as companhias de sucesso e as que não obtiveram êxito está se tornando mais pronunciada", diz Jennings. "É muito provável que essa polarização leve a um aumento no número de fusões, particularmente no caso das empresas mais fracas que ainda possuem reservas atrativas de recursos".
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Muitas dessas pontocom entraram em uma rota que dificilmente desembocará em outro lugar que não no pedido de falência. Das 150 empresas analisadas, 18% apresentam um nível de queima de caixa que levou a PricewaterhouseCoopers e da Fletcher Advisory a emitirem um duro diagnóstico: expectativa de vida inferior a 12 meses, a menos que essas companhias consigam um novo aporte ou mudem radicalmente sua estrutura de negócios.
Quem vence o jogo?
O cenário que se desenha a partir daí é uma mistura de polarização e consolidação. Diversas empresas de Internet fecharão as suas portas virtuais ou vão se fundir para poder sobreviver, enquanto paralelamente começam a despontar as reais vencedoras do jogo. "As companhias pontocom de sucesso têm sido muito mais competentes em gerar receitas e, ao mesmo tempo, controlar seus gastos em marketing, o que é revelado por uma proporção mais saudável entre os gastos administrativos e as vendas", afirma Jennings. "Outra característica que essas empresas costumam apresentar é um time de diretores mais experientes".
Os provedores de acesso e serviços, os chamados Internet Solution Providers (ISPs), formam o grupo de companhias pontocom que está em melhor situação nessa fase de amadurecimento do mercado. Nada menos do que 50% dos grandes provedores da Europa já são lucrativos, contra a média geral de 38% de todos os tipos de empreendimentos de Web da região. Mais: as vendas no setor de ISP tiveram um crescimento da ordem de 29% entre o terceiro e o quarto trimestre de 2000, contra uma média do mercado que não foi além dos 7%. Em contrapartida, as empresas que atuam na área de comércio eletrônico voltado para o consumidor final (business-to-consumer, ou simplesmente B2C) parecem particularmente vulneráveis, com 19% delas valendo pouco mais do que sua folha de pagamentos.
Esse tipo de consolidação também deve ocorrer em outros mercado fora do Velho Mundo, como o brasileiro, por exemplo? "Nossa pesquisa não avalia o mercado fora da Europa", diz Jennings. "Mas diversas evidências sugerem que uma tendência similar está sendo observada nos Estados Unidos e provavelmente será experimentada no resto do mundo", afirma.
Segundo Kevin Ellis, sócio da PricewaterhouseCoopers, as empresas recém-criadas (start-ups) de qualquer setor sempre enfrentam dificuldades, e com as pontocom não é diferente. O executivo chama a atenção, no entanto, para o fato de que as companhias de Internet estão crescendo 14 vezes mais rápido do que a economia européia como um todo e, em um espaço muito curto de tempo, criaram uma capitalização de mercado que totaliza US$ 57,7 bilhões - o equivalente à capitalização total da bolsa de valores de Lisboa, por exemplo. Ou seja, a nova economia está bem viva, mas também muito mais madura. As empresas que sobreviverem a essa fase de ajuste - e a pesquisa mostra justamente que muitas estão se provando capazes disso - são as que devem dominar seus setores de atuação nos próximos anos e colherão os benefícios de uma administração competente.
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