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A beleza rara do continente gelado

Zeca Corrêa Leite - Folha do Paraná
21 jan 2001 às 18:33

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Um filme para televisão, registrado pelo sistema digital, espera para ser finalizado. "Antártica, Deserto de Cristal", rodado em l997 e l998 pelo cineasta Frederico Fullgraf, poderá ser visto no Brasil através do GNT (canal pago pertencente ao Sistema Globosat) e possivelmente no exterior. O entrave para a comercialização é justamente a sua finalização.

Diz Fullgraf que as demais etapas foram bancadas por ele: "Investi um volume considerável do meu dinheiro nesse projeto". Agora procura apoio da Secretaria de Estado da Cultura. Ele conta que a Associação de Vídeo e Cinema do Paraná (Avec) entregou uma listagem de obras que chegaram a esse processo para a secretária Monica Rischbieter, mas seu trabalho não está entre os títulos. "Ele também faz parte do rol", afirma.

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"Preciso colocar esse filme no mercado internacional", insiste o diretor. Empresas de dois países europeus acenaram com propostas mas é impossível chegar lá com copiões. Se cumprisse o caminho convencional de negociações, inviabilizaria o filme, pois isso demanda tempo, e os convites para as expedições chegaram de surpresa. Era pegar ou largar.

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A primeira vez que Fullgraf embarcou para o Pólo Sul, em 97, foi a convite da Siemens que edita a revista "New World". A finalidade era produzir uma reportagem com texto e fotos do local. Na bagagem o correspondente carregou uma câmara digital emprestada da produtora GW, de Curitiba. O segundo convite partiu da Marinha argentina, através do comando operacional antártico.

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Ao retornar de lá o cineasta acumulava 13 horas de material filmado e a vontade de montar um documentário diverso das produções "da linha Discovery". Até que em alguns momentos as imagens e narrativas são semelhantes, "mas a minha intenção estética é completamente outra. Este é um documentário com outra linguagem", explica.


Ele afirma que em um mês e meio quase não dormiu. "Filmei muito de madrugada, explorei muito as cores. As pessoas ficam espantadas com os planos que consegui captar com uma câmara digital compacta que não dispunha de recursos mais potentes". Toda vez que saía para as filmagens, dizia ao pessoal de plantão: "Estou subindo para mais uma aula de pintura".

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"A aula de pintura eram minhas tentativas ensaísticas de captar com a câmara as cores que eu via. É um diapasão que não conhecemos aqui; tem texturas, fantásticos jogos de luz e sombra, reflexos de luzes e cores que a gente não conhece. Pensava que a câmara estava me enganando o tempo todo".


Esse "olhar de espanto" é o que o documentário tenta traduzir, conforme o diretor. Tudo ali atravessa o inusitado: um continente gelado, sem vegetais, apenas quatro elementos: gelo, neve, água e céu. "Eles se complementar, criam um design que é completamente novo para o nosso olho. Lembrei dos ensaios sobre a cegueira de Saramago e Ernesto Sábato: eu me sentia um cego tendo que reaprender a ver. Era muita coisa para o meu olho".

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Soma-se a essa beleza magistral, como se expulsa do resto do mundo, um tocante silêncio, quebrado com selvageria pelo ruído incômodo dos helicópteros, que são meios de locomoção essenciais nesse lugar. Apesar disso, na opinião do cineasta, acabam por intervir "na fauna nativa de forma cruel pelo ruído e aparência".


Sempre que podia Fullgraf afastava-se da base e mergulhava na amplidão onde somente o vento imperava, varrendo a paisagem. "Várias vezes me entreguei a esse mundo de imensa paz, com um silêncio de eloquência impressionante. É demais toda essa vivência, para ser absorvida pelo seu coração em apenas algumas semanas. Mesmo assim você volta com o coração dilatado".


Toda essa vertigem de belezas registradas terá o amparo de uma trilha sonora escrita pelo compositor Koellreutter. "Convidei-o porque o meu encontro com as cores, a luz, o silêncio da Antártica requerem interpretação musical à altura", justifica. Porém, o desafio maior é o de passar adiante a emoção dessa vivência:

- Tenho imagens muito eloquentes nesse sentido; planos de três, cinco minutos com a câmera fixa e você só vê o movimento do vento batendo na paisagem, assoviando, e esse diálogo interno, esse solilóquio em alguns momentos vai ser reforçado pela palavra e pelo som de Koellreuter.


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