Uma sala de ensaio aberta ao público. Esta é a proposta do diretor curitibano Emerson Rechemberg, 28 anos, ao colocar o seu espetáculo "Colônia Penal", baseado em conto de Franz Kafka, na Internet. A menos de duas semanas da estréia oficial no palco, os ensaios e bastidores da montagem já podem ser conferidos pelos espectadores. Basta acessar o site www.coloniapenal.cjb.net.
No ar há apenas uma semana, a homepage já foi visitada por cerca de 400 pessoas. O número superou todas as expectativas. "Estamos recebendo um retorno médio de seis e-mails por dia, com comentários de profissionais e do público, além de reservas de ingressos", comemora.
A idéia surgiu após os primeiros ensaios reais da trupe, formada por quatro atores e o diretor. "Era preciso registrar o que estava acontecendo ali", diz Rechemberg. Utilizando uma metologia diferenciada de trabalho, em que a direção é mais participativa, ele optou por estender a experiência ao público.
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"Nosso trabalho é normalmente muito solitário, ninguém sabe o que acontece numa sala de ensaio", afirma. "Agora podemos ouvir mais o público e dialogar com ele". Rechemberg já considera um sucesso a criação da sala de ensaios virtual e comenta que possivelmente a iniciativa abra caminho para outras companhias curitibanas fazerem o mesmo. Segundo ele, a iniciativa ainda é inédita no Brasil. "Conheço apenas algumas companhias da Argentina que fazem um trabalho similar", diz.
No site estão sendo disponibilizados imagens de ensaios feitas pela fotógrafa Milla Jung, trechos da trilha sonora composta e executada ao vivo por um violoncelista, estudos de cenário dirigidos por Luiz Roberto Meira, ensaios e artigos, além de informações gerais e reserva de ingressos.
A idéia inicial da montagem de "Colônia Penal" surgiu há quatro anos, quando Rechemberg interpretou o conto num ciclo de leitura dramática no Teatro da Caixa, em Curitiba. "Minha escolha por este conto específico, dentro da vasta obra desse inquietante escritor, naquela época e ainda hoje, se dá por motivos simples: a crueza explícita da situação e a proximidade com minhas crenças pessoais", explica o diretor.
Ele se refere a possibilidade permitida pelo conto de "mostrar nossa fragilidade", seja diante de instâncias superiores, diantes dos outros ou, principalmente, diante de nós mesmos. Escrito em 1914, "Colônia Penal" talvez seja uma das obras menos conhecidas de Kafka.
Rechemberg explica ainda que o conto tem uma linguagem muito próxima da que pessoalmente ele gosta de trabalhar. O elenco da montagem é formado pelos atores Luiz Benkard, Ade Zanardini, Gustavo Bitencourt e Luiz Affonso. Um quinto ator, que interpretará o condenado, ainda está sendo definido.
Após esta primeira temporada em março, o espetáculo realizará outra em abril. No segundo semestre a trupe irá para a estrada e já há apresentações confirmadas em dez cidades paranaenses, além de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. O espetáculo tem o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.
Antes de "Colônia Penal", Rechemberg assinou o monólogo "Só", que realizou temporada em Curitiba e viajou para Belo Horizonte (MG) e Manaus (AM), além de várias cidades do interior do Paraná e de Santa Catarina.
Serviço: O espetáculo "Colônia Penal", de Emerson Rechemberg, estará em cartaz de 1º a 18 de março no Teatro José Maria Santos (Rua 13 de Maio, 655). As apresentações acontecerão de quarta a domingo, às 21 horas. Ingressos a preços populares de R$ 5,00.