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Religião

Aumenta busca por exorcismo no Paraná

Diego Ribeiro/Equipe Folha
03 nov 2009 às 09:36

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‘O ofício (de padre exorcista) é exercido com muito cuidado devido a alguns exageros do passado’, explica o padre Jorge Morkis - Folha de Londrina
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Tristeza, dores e desânimo são sintomas comuns na vida moderna. E nem sempre a busca por médicos e explicações lógicas dá certo. Ao menos não para milhares de pessoas que já procuraram o padre polonês Jorge Morkis, 71 anos, um dos dois únicos padres exorcistas no Paraná autorizados pelo arcebispo metropolitano de Curitiba, Dom Moacyr Vitti. Desde 2007, mais de 4 mil foram exorcizados na Capital pelo padre Morkis, pessoas com diversos sintomas, até mesmo comportamento violento, com voz modificada e cuspindo.

Na entrada da livraria católica Nossa Senhora do Equilíbrio, no Centro de Curitiba, onde o sacerdote realiza o ritual, uma fila de pessoas que o aguardam mostra a força da fé. A cada mil pessoas ''atormentadas'' que são exorcizadas por ele, 30 estariam possuídas por demônios. O restante, conforme explica, estaria vivendo sob influência de demônios mais fracos.

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''Esse ofício (de padre exorcista) é exercido com muito cuidado por causa de alguns exageros do passado e de algumas incompreensões'', explica Morkis. Sem muito alarde, pessoas de várias partes do Paraná e até do Paraguai visitam o sacerdote.

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Com anos de estudo de teologia e filosofia para entrar no sacerdócio, Morkis é padre há 48 anos. Embora tenha uma longa história como pároco, tornou-se exorcista em 2007, após o suicídio de um jovem que participava de encontros católicos da paróquia São Vicente de Paula. Sem entender os motivos que levaram o rapaz ao ato extremo, buscou respostas na literatura de colegas italianos. ''É o mesmo que não acreditar no vírus da gripe. Não se vê, mas ele está aí'', comenta.

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Com muitas dúvidas, a educadora Amanda (nome fictício), 48 anos, antes vítima de depressão, conheceu Morkis. ''Quando entrava em algum lugar com força do mal, eu via nuvens e sempre tinha uma energia espremendo minhas costas''.


Ela conta que foi a médicos, tomou remédios e não melhorou. Ano passado, Amanda participou de um retiro e lá viu um rapaz possesso sendo ''libertado''. ''Ele até virava os olhos'', conta.

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Ainda receosa, Amanda foi exorcizada por Morkis. ''Estava com um crucifixo na mão, apertei forte e joguei''. A educadora relata que nunca mais precisou tomar remédios e retornou ao padre quando seus filhos, de 9 e 10 anos, diagnosticados com terror noturno, passaram pelo exorcismo e nunca mais sofreram para dormir.


Segundo o padre, nem todos os males, dores ou doenças têm influência demoníaca, mas muitos, como o consumo de drogas, podem facilitar a presença de demônios.

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E para afastar e expulsar esses espíritos chamados malignos, Morkis recebe essas pessoas, reza e, de posse do livro do Ritual de Exorcismo, fala as palavras do ritual em Latim.


Com apoio da água benta, sal e óleo, todos exorcizados, o padre orienta. ''A benção da água, do óleo e do sal confere a força de expulsar os demônios e afastar doenças e o mal'', comenta.

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A dona da livraria onde o padre recebe os ''atormentados'', Regina Turchnenske, tem testemunhado os exorcismos. ''Isso traz alívio para as pessoas, que vêm aqui desesperadas e saem sorrindo'', afirma.


Embora o assunto gere polêmica entre os próprios cristãos, o número de pessoas que buscam o exorcismo tem aumentado, conforme o próprio sacerdote. ''Não tenho quase dado conta''. Além dele, o padre Jan Glica é o outro exorcista autorizado no Paraná. Em viagem à Polônia, Glica não pôde conversar com a reportagem.

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Morkis acredita que deveria haver mais padres exorcistas. ''A necessidade aumentou. Muitas pessoas deixam Deus'', conclui.



Evangélicos também têm seu ritual

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Não só a Igreja Católica realiza o ritual do exorcismo. Com termos diferentes e algumas semelhanças, evangélicos também expulsam demônios. O pastor da Comunhão Cristã ABBA, Arno Pauls, acredita que a confissão é a base da ''libertação''. ''O Espírito Santo nos capacita. Ele tem dons para seus servos. Um dos dons é o dicernimento de espíritos.''


O exorcismo não é um termo usado pelos evangélicos, que acreditam na ''libertação''. ''Em todos os cultos há um horário específico de oração para libertação'', conta. O uso da palavra endemoniamento também é comum, ao contrário de possessão.


Durante o culto, o pastor chama quem gostaria de se apresentar a frente para ser libertado. ''Alguns casos manifestam demônios, mas a manifestação deles não é importante''.


Segundo Pauls, o próprio Jesus teria realizado libertações. ''Jesus ressurgiu primeiro para Maria Madalena. Ele já tinha expulsado sete demônios dela.''


A afirmação tem semelhanças com o que acredita o padre Jorge Morkis, que também explicou os exorcismos realizados por Jesus. ''Os demônio fazem as pessoas matar, roubar, destruir. Eles entram na vida pelo pecado'', afirma.


O exorcismo católico pode ser feito várias vezes até expulsar o demônio. Há casos em que padres exorcizaram pessoas durante muitos anos. Na liturgia evangélica, é diferente. ''Uma oração basta''.


Entretanto, há casos, conforme conta o pastor, que as pessoas precisam de uma ''cura interior'' e mais orações. ''Mas para expulsar é preciso apenas uma oração''.



'Possessões' são conceitos superados



O tema exorcismo não é unanimidade entre membros da Igreja Católica ou estudiosos de religião. Para Cesar Kuzma, diretor do curso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), o assunto é caso superado para a teologia e em grande parte para a Igreja Católica e demais igrejas cristãs. ''Sei que ainda hoje algumas igrejas cristãs e alguns movimentos da Católicos persistem em tal prática e insistem com seus argumentos. No entanto, eu, em minha opinião, vejo que isso já é algo superado.''


Ele argumenta que referências bíblicas ou na tradição da Igreja Católica devem ser vistos dentro de um contexto de época. ''Refiro-me aqui ao período contemporâneo de Jesus e o caminhar da história até a Idade Média e princípios da era moderna. É possível que Jesus também tenha entendido que estava exorcizando, mas temos que ter em mente que ele estava inserido num contexto que não era um ser isolado do mundo, mas influenciado por ele.''


Kuzma explica que a teologia tem a responsabilidade para com a Igreja de educar - e reeducar - em alguns conceitos. ''Muitos dos fenômenos tidos hoje como 'paranormais', como 'possessão demoníaca', podem ser compreendidos através de outros elementos psicológicos, antropológicos, científicos, sociais e culturais''.


Os ''transtornos'' da vida moderna podem levar muitos a uma fuga da realidade. ''Muitas vezes procuram algo, uma resposta, um sentido e não encontram. Isso talvez explique alguns eventos que ocorrem hoje. Não os vejo como possessões, para mim isso é algo superado. Forçar a isso pode levar ao fundamentalismo e ao fanatismo, ambos ruins para a religião e para a sociedade'', diz.

O teólogo defende que a mensagem de Jesus Cristo que deve vigorar nas igrejas cristãs é a do seu evangelho. ''Este é o pano de fundo da questão. É por aí que devemos entender aqueles 'exorcismos' e não num sentido figurativo demoníaco e paranormal.'' (Colaborou Marcela Rocha Mendes)


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