O psiquiatra e professor Ricardo Sbalqueiro, do Hospital San Julian, foi ouvido na manhã desta terça-feira (15) pela CPI da Saúde Psiquiátrica da Assembleia Legislativa, na última reunião do primeiro semestre de 2014. Com a experiência de atuação em CAPES, comunidades terapêuticas e clínicas públicas e particulares, ele traçou um panorama pouco otimista do setor e fez críticas contundentes à paulatina exclusão dos hospitais da rede de assistência à saúde mental. "Não é possível oferecer o tratamento humanitário que se pretende sem contar com hospitais e ambulatórios e sem um diálogo efetivo entre todas as instituições envolvidas", ponderou.
Ele, como os depoentes anteriores, acusou a falta de investimentos em hospitais que deveriam fornecer leitos psiquiátricos em número mais condizente com a demanda, o desinteresse do governo federal em relação aos programas de ampliação propostos, e os problemas no fluxo para internamento, que se agravaram a partir de 2012 em Curitiba e região metropolitana. No caso específico da Clínica San Julian, que atende pelo SUS e é tida como a única do estado especializada e equipada para o atendimento de dependentes químicos adolescentes, ele afirmou que há uma grande quantidade de leitos disponíveis diariamente, enquanto as famílias que recorrem às Centrais de Leitos são informadas de que não existem vagas disponíveis a curto e médio prazo.
Mais denúncias – Sbalqueiro entregou ao presidente da comissão, deputado Ney Leprevost (PSD), declarações de 37 famílias de várias regiões do estado que não conseguiram internar seus parentes, apesar da gravidade dos casos e da indicação do médico especialista. Uma família de Toledo, segundo ele, foi orientada a buscar uma comunidade terapêutica paga. Outro paciente, com encaminhamento médico para o CAPES 3, teve a internação negada por uma enfermeira e uma terapeuta ocupacional que prestam serviços naquela instituição. Para Sbalqueiro, o direcionamento ideológico e o desconhecimento estão levando cada vez mais à judicialização do internamento.
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O médico lembra que os hospitais psiquiátricos nada têm a ver com os antigos e desumanos manicômios, que visavam simplesmente excluir os doentes do convívio social: "A partir da década de 1970, as tecnologias foram aperfeiçoadas, novas terapias e novos medicamentos vieram modernizar o atendimento hospitalar, promovendo uma melhoria efetiva dos internados. A internação de pacientes graves, hoje, é por um período médio de dois meses", observou, acrescentando que "um discurso mais característico da esquerda defende a criação de um sistema de atendimento baseado em teorias da escola italiana, que estão sendo revistas no mundo todo, mas que ainda fascinam esses segmentos. Acontece que a prática põe por terra essas crenças, apontando seus graves equívocos. CAPES, UPAS e comunidades terapêuticas, da forma como estão constituídas, não estão aparelhadas para oferecer a assistência necessária a esse tipo de enfermidade".
Ele denunciou a ideologização do ensino, através de residências oferecidas por órgãos públicos, o estrangulamento dos ambulatórios e a dificuldade de articulação dos serviços públicos, que só fazem aumentar a dor dos pacientes. "As denúncias vêm sendo feitas há longo tempo pelas entidades de classe sobre o crescente descaso com a saúde mental no país. O Brasil anda na contramão da história. Enquanto no resto do mundo se detecta uma queda no uso do crack, aqui nos defrontamos com uma verdadeira epidemia, com todos os seus trágicos desdobramentos, famílias desestruturadas, atos infracionais graves ligados ao consumo por parte de uma população muito jovem. Não estamos conseguindo fazer a prevenção", lamentou.
Participaram da reunião desta manhã, além de Leprevost e Sbalqueiro, os deputados Felipe Lucas (PPS), relator da CPI, Duílio Genari (PP) e Professor Lemos (PT), e o presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria, André Rotta Burkiewicz.