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Crianças morrem mais em acidentes

Israel Reinstein - Folha do Paraná
10 jan 2001 às 10:33

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Bastou um descuido para que a pequena Gabriele dos Santos Pereira, de um ano e meio, ficasse mais de uma semana internada em um hospital. Tudo porque foi atropelada quando cruzou repentinamente uma rua próxima de casa. Por causa disso, a menina ficou com seqüelas e agora tem que fazer fisioterapia para recuperar os movimentos do corpo.

O caso de Gabriele chama a atenção, ainda mais porque não é isolado. Durante o verão, casos similares tendem a repetir e por isso, nessa época do ano, os pronto-socorros registram aumento de acidentes (ou lesões não intencionais) envolvendo crianças.

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Atualmente, crianças e adolescentes de Curitiba respondem por 30% dos registros levantados pelo Serviço Integrado de Atendimento Emergencial (Siate). Por mês, 85 crianças são vítimas de algum trauma grave, o que dá uma média de quase três ao dia. A maioria se envolve em atropelamento, afogamento e quedas. O pior é que alguns casos acabam em óbito.

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No último levantamento do Ministério da Saúde, esse tipo de lesão (denominada também como causa externa) foi responsável pela morte de 141 crianças da Capital, na faixa etária entre 1 a 14 anos. Esse número é superior aos registros de doenças respiratórias (48 mortes), doenças infecciosas e parasitárias (42 casos) e câncer (39 registros).

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"Quando se fala em morte infantil se pensa em desnutrição, mas são os acidentes a principal causa de morte em todo o País. E esse tipo de situação aumenta durante o verão", afirmou o cirurgião pediátrico, Marcelo Ribas Alves, que trabalha no Pronto-Socorro do Hospital Evangélico de Curitiba. Realizando um levantamento sobre as principais causas de acidentes na cidade, Alves considera que 90% desses traumas podem ser evitados.


Por enquanto, o levantamento do médico, que vai resultar em um mapa das lesões em Curitiba, ainda não está pronto. Porém, ele traça o perfil das situações mais comuns. A maioria dos incidentes acontece de sexta-feira a domingo, durante a tarde e próximo de casa, e afetam em maior escala as pessoas de classes sociais baixas que vivem na periferia de Curitiba.

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Os incidentes mais graves são atropelamentos, seguido pelas batidas de carros. Como é pequena, normalmente a criança acaba sendo atropelada por não ter a noção exata entre a distância e a velocidade dos carros.


Quanto aos acidentes de carros, o médico informou que muitos deles estão relacionados ao uso inadequado do cinto de segurança. "Os cintos não foram feitos para crianças, que precisam de um assento especial", disse.

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O médico afirmou que um dos maiores perigos no verão são os afogamentos. Pelos dados do médico, as cavas e rios no Parque do Bacacheri, Iguaçu, do Passaúna e nos municípios de Araucária, Rio Branco do Sul e São José dos Pinhais são os principais focos de afogamentos.


Para diminuir estes acidentes e outros ocasionados nessa época do ano, o médico sugere um trabalho de conscientização junto as crianças, que deve ser feito antes do início das férias.

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Para estimular a prevenção de acidentes entre as crianças, o médico Marcelo Ribas Alves disse que neste ano serão fundadas filiais da Organização Não-Governamental Safe Kids no Brasil. Atuando em diversos países do mundo, a Safe Kids trabalha com programas de prevenção que são realizados em escolas, comunidades e junto à iniciativa privada.


Com o patrocínio da General Motors e Johnson & Johnson, essa ONG vai se instalar este ano em três cidades do País - Curitiba, Recife e São Paulo. "E, durante cinco anos, vai se trabalhar para reduzir o número de acidentes envolvendo crianças", disse a jornalista, Alessandra Françóia, que integra a Ong. Segundo ela, nos EUA (onde a Safe Kids está há 13 anos) os traumas infantis reduziram em 40%.

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O projeto em Curitiba vai tomar como base o levantamento feito pelo médico Marcelo Ribas Alves. "Assim, o trabalho de prevenção será melhor direcionado, com atuação direto nas comunidades", disse.


Para prevenir os acidentes, as ações educacionais serão feitas em duas frentes. A GM vai financiar os trabalhos de orientção no trânsito. Nessa etapa, está prevista a fabricação de assentos especiais para as crianças, que serão produzidos por um preço acessível. Já a Johnson & Johnson vai estimular o trabalho de prevenção de acidentes dentro de casa. Panfletos e atividades de orientação em escolas (onde vai se ensinar como cruzar uma rua) serão outras táticas para diminuir os acidentes.

"Como a Safe Kids recebe ajuda do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), também é possível ajudar conseguir recursos para melhoria nos atendimentos de trauma", disse. Atualmente, Curitiba não possue um Centro de Trauma Infantil, que é um pronto-socorro especializado no atendimento de crianças. Dos três pronto-socorros da cidade (Cajuru, Evangélico e do Trabalhador), apenas o Evangélico tem um plano de construção de uma unidade específica.


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