Nas 12 horas em que protagonizou um dos episódios mais tensos da história policial do Paraná, Pedro Graciano da Silva demonstrou uma compulsão quase doentia pela mídia. No final da tarde, quando mantinha três reféns no prédio dos Juizados Especiais Cíveis, em Curitiba, sob a mira de um revólver 38, fez apenas uma exigência: a presença de três repórteres de emissoras de TV - Globo, Record e CNT.
Graciano dizia não confiar na polícia e insinuava que a presença de jornalistas próximo ao cativeiro aumentava suas garantias de integridade. Ao mesmo tempo, tinha uma preocupação fora do comum para a exposição que seu crime estava tendo na mídia. Perguntava se havia muitos jornalistas de plantão em frente ao prédio dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais e qual o espaço que o caso estava ocupando nos telejornais noturnos e nas emissoras de rádio.
Às 23 horas, quando as negociações atingiram um momento crucial e, dos jornalistas, apenas o repórter Sandro Dalpícolo, da TV Paranaense, permanecia no interior do prédio, Graciano exigiu a entrada de uma repórter do SBT. "Usei a sensibilidade feminina para ajudar a polícia a convencê-lo a se entregar", contou Joana Nin, de 28 anos, que conversou com o seqüestrador, por um ramal interno, durante 15 minutos.
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O desfecho do sequestro, à 1 hora de ontem, também se deu por meio da mídia. Ao se entregar, o vigilante desempregado fez questão de dar entrevista. Se mostrou articulado e à vontade com microfones, gravadores e blocos de anotações. Ao lado de motivações passionais para explicar o crime, disparou: "Só a minha mãe ligava para mim. Agora, olha quanta gente querendo me ajudar!", afirmou, referindo-se ao batalhão de jornalistas que o cercavam.
Perfil violento
O delegado do município de Lunardeli (94 km ao sul de Apucarana), Sebastião Elias Fernandes, não tem boas lembranças do tempo em que Pedro Graciano da Silva morava na cidade. Em 1998 Fernandes prendeu em flagrante Silva por porte ilegal de arma e desacato a autoridade. "Ele sempre foi meio pirado, mas ficou pior depois que separou da mulher", lembra o delegado.
Silva foi casado com Edna Moreira Ribeiro, em Lupionópolis, até 1997, com quem teve um filho. Depois da separação, Edna Ribeiro foi perseguida várias vezes por Silva. Ela o denunciou por tentativa de homicídio e invasão de domicílio. "Uma vez ele estava fazendo uma declaração de amor à ex-mulher com uma faca, no meio da rua, e tivemos que detê-lo", conta. Depois, Silva começou a andar pela cidade com um revólver de brinquedo.
Ele chegou a ser funcionário público municipal. É que Edna Ribeiro era filha do então prefeito de Lunardeli, Osório Ribeiro, quando se casou com Silva. "O prefeito deu emprego para ele ficar mais calmo, mas depois da separação a coisa piorou." Quando foi preso em Lunardeli, Silva estava com dois revólveres e 74 cartuchos de calibre 38 em casa. Por esse crime ele ficou preso na Delegacia de São João do Ivaí. Depois disso ele e a família se mudaram para Curitiba. Na Capital ele conseguiu trabalhar como vigia de um conjunto residencial durante quase dois anos, mesmo tendo ficha policial.