Depois de uma madrugada de tensão e ameaça do governo do estado de desmontar os piquetes pelo Batalhão de Choque, a manifestação das mulheres dos policiais militares foi marcada hoje pela manhã e em parte da tarde por uma trégua aparente. Muitas manifestantes deixaram os acampamentos para descansar em casa com a promessa de retornarem mais tarde. Os policiais que aderiram ao movimento informaram que continuariam a defender as mulheres e pediram o apoio aos demais militares que tentavam cumprir a ordem do governador Jaime Lerner de acabar com o protesto.
A manifestação contou com o apoio de outros grupos. Professores, estudantes e pensionistas colocaram faixas de solidariedade próximas ao quartel da Polícia Militar. O apoio fez com que as mulheres ganhassem um pouco de força. "Nós não vamos arredar o pé daqui. Vamos esperar até segunda-feira", prometia Isabel, uma das manifestantes, durante a madrugada.
Uma das preocupações era com a presença de policiais armados, que estavam ali para defender suas mulheres. O comando da Polícia Militar temia que pudesse haver conflito deles com os policiais que estavam dentro do quartel, orientados a seguir a determinação do governo de acabar com o protesto. Não houve incidente, mas as viaturas foram impedidas de deixar o quartel, até mesmo para atender ocorrências policiais.
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Um das mulheres que não arredou os pés do portão do quartel é a dona de casa Eny Cordeiro Rudnick, 71 anos. Esposa de um sargento aposentado e mãe de um soldado da Polícia Militar, ela passou três noites no local e garante que continuará até o fim. "Não suporto mais ver meu filho, minha nora e meus três netos muitas vezes não terem dinheiro nem para comprar o pão", afirma.
Pascoalina Aparecida de Farias, casada com um soldado da PM, também se manteve fiel ao movimento na madrugada. Ela disse que já está cansada de ouvir desculpas do governo e de esperar em vão por um reajuste de salário. "Enquanto não nos atenderem, os policiais continuarão fazendo operação tartaruga nas ruas e nós não sairemos daqui", avisa.
Pela manhã, as mulheres deixaram os portões dos batalhões. Elas cogitaram acampanhar em frente à casa do governador, no bairro do Cabral. Mas desistiram e preferiram ir para casa. O movimento tem sido marcado pela falta de uma única liderança. Cada uma delas toma decisões independentes, o que faz com que haja uma série de ações isoladas e descordenadas. Os boatos se espalham causando mais insegurança e contra-informações. Durante a madrugada, havia a notícia de que o exército agiria, mas a história não se confirmou.
Um grupo tentou impedir que a tropa saíssem do quartel. Após cinco minutos de negociações, elas acabaram concordando em retirar o carro que trancava o portão e liberaram a saída dos policiais à paisana.
Um dos pontos que causou instabilidade o movimento foi a decisão do juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública, Salvatore Astuti, de multar em R$ 100 mil por dia, as quatro entidades que representam os policiais militares. Estão passíveis de multa desde ontem a Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares Ativos e Inativos (Amae), Sociedade Beneficente de Subtenentes e Sargentos (SBSS), Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Associação das Esposas de Policiais Militares do Paraná.