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Disco reúne curitibanos em trilha teatral

Katia Michelle - Folha do Paraná
16 set 2001 às 18:36

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Por mais que sejam muitas as tentativas, o cenário musical de Curitiba ainda parece inacessível aos ouvidos. E não é por falta de opções. Há pelo menos algumas dezenas de compositores e músicos que merecem destaque e garimpam lugar ao sol, seja através de eventos periódicos que aglutinam profissionais, seja por meio de shows isolados. Para mostrar um pouco desse universo, o Centro Cultural Teatro Guaíra resolveu investir na gravação de um CD que reúne nomes expressivos da música curitibana.
O disco "Canto Cantos desse Canto" acaba de sair do forno e será lançado no próximo mês. Foi gravado para o espetáculo homônimo da Escola de Dança do Teatro Guaíra, com estréia marcada para outubro. A temática, tanto do CD quanto do espetáculo – que tem a participação de cerca de 200 bailarinos – é a cidade de Curitiba.
A intenção é mostrar, através da arte, peculiaridades dessa cidade simbolista, como definiu o poeta da casa Paulo Leminski. Como critério de seleção para as composições foi utilizado justamente esse fator: ser autor curitibano de nascença ou adoção. Isso porque alguns músicos que integram o disco não necessariamente nasceram no berço da "cidade sorriso", mas a adotaram como tal. É o caso de Vadeco e os Astronautas, que participam com duas músicas (ou "movimentos" como define Vadeco). Não se espante se nunca ouviu falar do garoto de 22 anos. Ele é um dos únicos nomes que assina composições do disco que ainda não tinha um CD gravado anteriormente. Mas avisa que isso deve acontecer em breve.
Antes porém, as músicas "Truco" (Vadeco e Jorge Falcon) e "Tribos" (Vadeco e Sérgio Izidoro) devem ganhar projeção com a coletânea do Guaíra. Elas foram compostas especialmente para o trabalho, mas resguardam o dinamismo da banda que abriu o show de Tom Zé, no Vasco da Gama, no início do ano.
O estreante Vadeco, que tem como mote a música eletrônica e uma mistura original de rock e MPB, divide o disco com outros nomes da música contemporânea que atuam no opaco, mas significativo, cenário curitibano. "Tacundera", por exemplo, música que faz parte do disco Jubah Jabuh (1999), de Julian Barg, também está presente em "Canto cantos...". Barg ganhou o cenário nacional (e virtual) com o projeto Jubah Jabuh, que reúne diversas bandas eletrônicas. Ele foi procurado pelo produtor musical do espetáculo e do CD, Sérgio Izidoro, para fazer parte da coletânea.
Izidoro conta que se espantou com a quantidade de compositores e intérpretes em Curitiba. "Selecionei pelo menos 80 CDs para a pesquisa", revela. "É impressionante o número de bandas que existem aqui. Inúmeras, nunca ouvimos falar". Na coletânea estão presentes todos os ritmos, da música eletrônica à clássica, passando pela onda pop e (até) instrumental.
O grupo Fato, que também já conquistou parte do cenário musical do Brasil apresentando uma sonoridade própria, participa com a música "Passantes". de Antônio Fidalgo, que faz parte do primeiro CD do grupo (Fato, 1995). É uma canção bonitinha, nostálgica, dessas que fazem saltar lágrimas dos olhos saudosos de quem já não vive mais em Curitiba ou tem saudades daquilo que ainda vive. Mas o arranjo difere dessa sensação. E para o disco produzido pelo Guaíra o arranjo é ainda mais dinâmico do que o utilizado no primeiro disco do Fato. "Fizemos uma versão mais percussiva’, revela a tecladista do grupo, Grace Torres.
Há ainda três músicas ("Natureza","Gaivotas" e "Rainha dos Pinheirais" do cantor e compositor Plínio de Oliveira, que comanda o programa MPB Tons do Brasil, com transmissão pela CNT; participações de Paulo Vítola e Marinho Gallera; Jorge Falcon; Waldir Teixeira e Augusto Weber e Gustavo Weber, do grupo Wahari. Uma das boas surpresas é a versão mezzo eletrônica do compositor Paulo de Tarso para a música "As mocinhas da Cidade" (Nhô Belarmino e Gabriela). Ele conta que sampleou a versão original da dupla e outra interpretada pelo Coral Brasileirinho como base para a nova interpretação. "Foi uma desconstrução da música", define. Ele também participa da coletânea com a música "Descaração", em parceria com Julian Barg.
Mas nem só de novidades se apresenta o disco. Ele traz também relíquias como interpretações das músicas dos compositores Bento Mussurunga e Alceo Bocchino, interpretadas respectivamente pelo Quarteto de Cordas Alberto Nepomuceno e pela Orquestra Sinfônica do Paraná. Outra boa surpresa é a participação do violão mágico de Waltel Branco, que dedilha "Fantasia Daniel", com participação de David Chew e "As Cores do Leme", em que assina a composição e interpretação.
Mas se essa coletânea pode parecer uma fusão (quase) sem sentido quando se pensa em uma coreografia para as músicas que apresenta, o roteirista do espetáculo da Escola de Dança do Teatro Guaíra, George Sada, avisa que o sentido existe e foi determinado desde a seleção das composições. "Curitiba é uma cidade de contrastes", define Sada. E a coreografia, criada para as músicas do disco, pretende mostrar isso.
O ator e diretor George Sada assina os roteiros da Escola de Dança há cinco anos. "Esse ano achei importante valorizar as situações características de Curitiba por meio da música". Mas não é uma visão histórica, avisa Sada. Trata-se de um retrato da cidade, mas que não se limita a revelar o lado positivo. "Queremos buscar nossa identidade", conclui o roteirista do espetáculo.
A coreógrafa Marila Velozo Andreazza assina a direção e a coreografia de "Cantos Canto desse Canto". Conta que, como curitibana, se aproveitou das próprias sensações que a cidade oferece para criar os movimentos. "Os cerca de 200 bailarinos, com idades entre 5 e 25 anos, vão retratar no palco coisas que estão acostumados, da feirinha do Largo da Ordem ao futebol do final da tarde", adianta. Os bailarinos ensaiam desde agosto e a estréia do espetáculo acontece no dia 20 de outubro, no Teatro Guaíra.

O discoConfira a relação das músicas, os compositores e intérpretes que participam da coletânea
- "A Natureza" (Plínio de Oliveira), com Plínio de Oliveira
- "Gaivotas" (Plínio de Oliveira), Plínio de Oliveira
- "Periquito da sorte" (Paulo Vítola e Marinho Gallera), com Paulo Vítola, Marinho Gallera , Selma Castro e coro
- "As Cores do Leme" (Waltel Branco), com Waltel Branco
- "Passantes" (Fidalgo), com Grupo Fato
- "Tacundeira" (Julian Barg), com Jubah Jabuh
- "Sonho" (Bento Mussurunga), com Quarteto de Cordas Alberto Nepomuceno
- "Fantasia Daniel" (Waltel Branco), com Waltel Branco e David Chew
- "Bela Morena" (Bento Mussurunga), com Quarteto Tunus
- "Bingo" (Jorge Falcom), com Jorge Falcom
- "Truco : espadas/ ouros/ copas/ paus" (Vadeco - Jorge Falcon), com Vadeco e Os Astronautas
- "Tribos: clubber / Hip Hop/ Punk/ Hippie" (Vadeco - Jorge Falcon)/"Ter o canto" (Vadeco / Sérgio Izidoro), com Vadeco e Os Astronautas
- "Terra Aberta" (Augusto Weber - Gustavo Weber), com Wahari
- "Discussão" (Waldir Teixeira), com Waldir Teixeira e Ari Lunardon
- "Italianíssimos!" (Henrique Peters), com Camarada Zó
- "Descaração" (Paulo Tarso - Julian Barg - Clone Dt)
- "Baião do Trenzinho Maria Fumaça"/"Hora de Dormir"/"Canto da mãe Preta" – com Alceo Bocchino e Orquestra Sinfônica do Paraná
- "Para as mocinhas da cidade" (Paulo Tarso - Clone Dt)
- "Rainha dos Pinheirais" (Plínio de Oliveira), com Plínio de Oliveira e orquestra

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