O secretário estadual de Saúde, Armando Raggio, admite que os recursos disponíveis para a área no Paraná são escassos. Argumenta que este ano a secretaria vai ampliar a verba destinada à prevenção de doenças, com o objetivo de conter a disseminação delas. Em entrevista à Folha, o secretário fala sobre a situação do Estado e comenta as principais estratégias de prevenção.
Folha - A incidência de doenças que antes se acreditavam controladas, como tuberculose, malária e dengue, é considerada alta no Paraná. Como o senhor avalia essa situação?
Armando Raggio - O que acontece no Paraná não é um fator isolado. Existe uma generalização dessas doenças em todo o mundo. Fatores climáticos, ambientais e a facilidade em ultrapassar fronteiras contribuem para o surgimento ou remergência de doenças. Nós não temos mais fronteiras climáticas, geográficas e econômicas. Hoje, qualquer lugar do mundo pode ter qualquer doença do mundo. No Paraná, a situação não é diferente. Nós temos hantavirose, por exemplo, uma doença descoberta na Coréia, que hoje está no mundo inteiro, porque o rato silvestre (transmissor da doença) está em todo o mundo. A doença é ressaltada pela promiscuidade na relação entre o rato e o homem. Como aqui nós temos atividades que se concentram em várias épocas do ano, como extração de madeira, a incidência do hantavírus é favorecida.
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Folha - Quais as doenças consideradas preocupantes no Estado?
Raggio - O que mais preocupa é a dengue. A dengue não dá imunidade. Se você tiver dengue uma vez, pode ter mais três vezes, sempre com gravidade maior. A hantavirose também preocupa porque, se não for controlada, a taxa de letalidade é alta. Doenças como tuberculose e malária não preocupam tanto porque estão controladas e têm medicamentos com efeitos imediatos, mas precisam ser tratadas.
Folha - E como o Estado pretende enfrentar essas doenças?
Raggio - Surtos localizados podem acontecer sempre e só têm uma garantia para isso: vigilância. Além de manter vigilância constante, vamos ampliar o orçamento destinado ao controle e prevenção de doenças transmissíveis. No ano passado, o orçamento da secretaria foi de R$ 180 milhões. Este ano, o orçamento total será de R$ 297 milhões e, 20% disso, serão destinados a políticas de prevenção e controle. Mesmo assim, o orçamento ainda é escasso porque as necessidades vão se deslocando. Há um ciclo.
Folha - E o que pode ser feito para controlar a situação?
Raggio - Vigilância e controle são as palavras-chaves. Temos 600 técnicos do Ministério da Saúde e 1,5 mil funcionários da secretaria trabalhando em programas de prevenção de mais de 30 doenças. O Estado está se manifestando, mas só isso não protege a população. Há uma cultura negligenciada de informação.
Folha - O senhor está dizendo que a falta de informação da população é um dos problemas que contribuem para a disseminação das doenças?
Raggio - É um problema importante, mas é mais do que informação. Antigamente, as populações viviam em grupos mais ou menos pequenos e mais ou menos estáveis. A fusão dos pequenos grupos em grandes grupos, que dá ganho de escala numa porção de coisas, também dá perdas. Se produz uma massificação da vida e, com isso, se está massificando soluções, como as vacinas.
Folha - E de que forma isso representa perigo?
Raggio - Com vacinas nós evitamos o sarampo, por exemplo. Mas, em 1998, aplicamos a vacina tríplice viral (que imuniza contra caxumba, sarampo e rubéola), o que provocou celeuma muito grande porque causou reação ao componente da caxumba. Mas estávamos certo em aplicar o imunizante para o sarampo. Conseguimos evitar que se estabelecesse no Estado uma epidemia de sarampo. Mas medidas de massa têm esses inconvenientes. Um remédio padronizado para todos faz bem para a maioria da população, mas não para todos.
Folha - Se antigamente as epidemias que dizimavam a população não podiam ser controladas por falta de técnica ou informação, atualmente o controle dessas epidemias pode também representar perigo com as "soluções massificadas", como as vacinas?
Raggio- Hoje tem um saber que se deixou de transmitir. Você sabe o que está acontecendo no Japão em tempo real, por exemplo. Isso tem que acontecer com as doenças. O efeito mais grave do regime autoritário (1964-1985) no País foi atrofiar a prática da discussão. Temos que recuperar esse tempo perdido, aprofundar a informação. A secretaria está fazendo isso ao publicar boletins periódicos sobre as doenças.