Ontem completou um ano da primeira grande queda da Nasdaq, bolsa que aglutina as ações de empresas de biotecnologia e alta tecnologia. No dia 3 de abril de 2000, o Nasdaq Composite fechava em 4.572,83 pontos, uma queda de 7,64% em relação ao fechamento anterior.
Justamente por isso, um grupo de empresas lançava a campanha "Back the Net", para tentar reverter o quadro e recuperar alguma confiança, tanto do mercado de capitais, quanto dos próprios consumidores.
Mas a iniciativa foi um fracasso. Um ano após a grande primeira queda, a Nasdaq continua em seu inferno astral e já se arrasta aos 1.672,61 pontos, menor nível desde 20 de outubro de 1998. Apenas ontem o índice recuou 6,19%, arrastando também a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que caiu 1,75%.
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O pico de más notícias parece ter escolhido a data a dedo. O trágico registro do aniversário da crise pontocom foi a divulgação do pedido de concordata da PSInet, que acumulou até setembro do ano passado 3,6 bilhões de dólares em dívidas. Ontem, a empresa teve suas ações retiradas da Nasdaq.
Empresas símbolo da Nova Economia, como Ariba e i2 também sofreram no aniversário da crise, quando anunciaram cortes no quadro funcional. A primeira cancelou a aquisição da Agile Software e vai demitir 700 empregados após ter revisado para baixo seus resultados. As ações da companhia chegaram a derreter nada menos que 31,73% durante a tarde de ontem, fechando a 2,06 dólares.
No Brasil, o Submarino anunciou corte de 90 funcionários. Mas por aqui, o inferno astral da Nasdaq dava sinais de vida um dia antes. Na segunda-feira, 2 de abril, a IdeiasNet anunciou prejuízo de 23,90 milhões de reais no balanço referente a 2000. E a cotação de sua ação ordinária ontem teve queda de 7,25%. Hoje o papel é avaliado apenas a 2,30 reais, enquanto seu valor no IPO no ano passado era de 11 reais.
O UOL Inc, que não tem capital aberto, informa que seu prejuízo foi de 110 milhões de reais. Na Bovespa, as maiores quedas foram concentradas nas ações preferenciais da Globo Cabo (-5,26%) e Tele Leste Celular (-5,22%).
Essa avalanche é resultado da desaceleração da economia norte-americana. Há exatos 12 meses, Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, dava continuidade ao processo de desaquecimento da economia em busca do fim da "exuberância irracional" do mercado. Ao fim de março, o Fed elevou os juros para 6 % ao ano, até apertar o torniquete a 6,5% ao ano em maio do mesmo ano.
O encarecimento do dinheiro aliado à saturação de produtos de informática nos países desenvolvidos, como ocorreu no caso das vendas de computadores tanto nos Estados Unidos como na Europa chegaram ao seu limite, derrubando os resultados das companhias e esvaziando o interesse dos investidores pelas ações da Nova Economia. Estimativas do banco Santander dão conta que evaporaram 3 trilhões de dólares das bolsas norte-americanas.
Julio Ziegelmann, diretor do BankBoston Asset Management, diz que não é possível estimar se a Nasdaq perderá ainda mais seu valor. Primeiro, porque as companhias do setor de tecnologia são muito novas, deixando os analistas sem informações sobre o compartamento da companhia em momentos de crise. Em segundo lugar, é complicado afirmar que novas quedas podem ocorrer apenas analisando a relação Preço/Lucro (P/L).
"Se por um lado o P/L das companhias continua muito mais alto que em outras bolsas, por outro algumas dessas companhias podem apresentar recuperação rápida. Isso vai depender muito da capacidade de cada empresa em sair da crise", diz.
Ziegelmann mostra que o P/L médio da Nasdaq, baseado nas projeções de lucro divulgado pelas companhias, é 56. Enquanto que o P/L médio do índice Standard&Poors é de 20 anos, e o Dow Jones, 18. Esse índice é um indicativo de quantos anos seriam necessários para que o investidor tenha um retorno sobre seu investimento.
"A expectativa é de que no último trimestre a economia norte-americana volte a crescer. Como a Bolsa antecipa esse movimento, a expectativa é que os negócios em Wall Street voltem ao normal no segundo semestre."
Impossível avaliar se a Nova Economia chegou ao fim do poço. Mas sua profundidade depende da capacidade de cada empresa em obter rapidamente o lucro.
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