A sessão paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) recebeu denúncias de que pelo menos uma pessoa sofreu torturas na sequência da ocupação policial do Bairro Uberaba, em Curitiba, na última quinta-feira, para a implantação da primeira Unidade Paraná Seguro (UPS), uma cópia da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio de Janeiro. A Polícia Militar disse que aguarda a formalização da denúncia e, caso haja envolvimento de pessoas daquela instituição, instalará procedimento administrativo.
A vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da OAB, Isabel Mendes, disse ter recebido telefonema relatando que no sábado um pedreiro de 19 anos, negro e com deficiência em uma das pernas causada por paralisia infantil, chegou em casa por volta das 14 horas, após o trabalho, tomou um banho e saiu com sua bicicleta. Andou duas quadras e foi parado por policiais. "Segundo ele, foi preso, recebeu socos e pontapés e os policiais perguntavam onde estavam as armas, diziam que ele tinha praticado um assalto", disse Mendes.
Ele negou qualquer atividade ilícita e que tivesse armas. Mesmo assim, de acordo com sua versão, foi colocado no porta-malas de um carro e levado para a casa onde mora com uma mulher que considera como mãe e com o filho dela. "Ele percebeu que estava lá porque reconheceu as vozes", contou a advogada. Enquanto permanecia no porta-malas, os policiais teriam vasculhado a casa em busca de armas. "Depois disso, ele disse que foi levado para um quarto pequeno e submetido a várias sessões de choque, enquanto faziam ameaças", afirmou Mendes.
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Por volta das 22 horas, ele foi levado ao 8º Distrito Policial, no Bairro Portão. Comunicada da situação, a família recolheu dinheiro com amigos para chamar um advogado e tirá-lo às 4 horas da madrugada. Isabel disse que soube do caso hoje (5) e comunicou a secretária de Estado da Justiça e dos Direitos Humanos, Maria Tereza Uille Gomes. A presidente da comissão da OAB também acompanhou o rapaz em exames no Instituto Médico Legal. "A olho nu é possível ver sinais de queimaduras", afirmou. O chefe da Comunicação Social da Polícia Militar, major Antonio Zanata, disse que, além da PM, estiveram envolvidos na ação a Polícia Civil e a guarda municipal.
"Aguardamos toda a documentação para verificar se a denúncia trata da PM ou de outra corporação", destacou. "Vamos verificar se houve o fato e se houve excessos, queremos analisar com imparcialidade, mas com rigor e firmeza". Segundo ele, esse é um "fato isolado" que não deve atrapalhar o trabalho de integração dos policiais na comunidade.