Cerca de 25 mil pontagrossenses ficaram sem transporte coletivo entre as 18 e 19 horas de ontem. Motoristas e cobradores fizeram uma greve de alerta. Eles pedem aumento salarial de 7% e exigem o pagamento da primeira parcela do 13º salário hoje, conforme determina a legislação.
A Viação Campos Gerais, concessionária do serviço de transporte coletivo na cidade, alega que não tem condições de pagar o 13º em duas parcelas, e propôs dividir o abono em sete meses. A categoria não aceita esse parcelamento e promete entrar na Justiça caso a empresa não libere parte do abono hoje. "Se a Justiça não nos der o direito ao abono e ao aumento salarial, vamos fazer uma greve geral", diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários Urbanos, Intermunicipal e Fretamento de Ponta Grossa, Noel Machado da Silva.
O horário escolhido pela categoria para fazer a paralisação é um dos mais movimentados do dia nos terminais de transporte coletivo e o clima chegou a ficar tenso durante o protesto. Alguns passageiros, mais exaltados, prometiam quebrar os ônibus caso os motoristas não voltassem ao trabalho. Várias equipes da Polícia Militar foram ao terminal central para evitar atos violentos. O protesto acabou sem o registro de nenhuma ocorrência grave.
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A Viação Campos Gerais diz que só terá condições de repassar o aumento salarial à categoria quando conseguir o reajuste na passagem do ônibus. Hoje a tarifa custa R$ 0,75 e a empresa quer cobrar, no mínimo R$ 1,05.
O prefeito Jocelito Canto diz que só pode autorizar aumento de até R$ 0,93, equivalente ao índice de inflação acumulado no ano. Além desse valor é necessário remeter uma mensagem à Câmara Municipal, pedindo autorização. Porém, como a Câmara entra em recesso a partir do dia 15, a empresa teme não haver tempo hábil para aprovar o reajuste ainda este ano.
A postura do Conselho Municipal do Transporte Coletivo é o principal inibidor do aumento. O Conselho diz que a tarifa está além do que seria justo e alega erros na planilha de custos tanto da prefeitura, quanto da própria VCG.
A discussão é antiga e começou em 99 quando a empresa tentou um reajuste e o Conselho começou a apontar os erros da planilha. O órgão conseguiu inclusive fazer com que a prefeitura contratasse uma empresa especializada no assunto para rever a planilha. O resultado do estudo, no entanto, foi considerado insatisfatório e os próprios conselheiros encontraram erros que invalidaram o trabalho.
Hoje o prefeito, representantes do sindicato, da empresa e do Conselho Municipal de Transporte se reúnem na busca de uma solução.
O advogado dos motoristas, Celso Alves, diz que a categoria vai continuar pressionando a prefeitura para obter o reajuste e consequentemente, o aumento salarial. "A categoria não pode mais se sacrificar em favor da população", considera.
Um motorista de ônibus em Ponta Grossa recebe R$ 625,00 por seis horas de trabalho, enquanto os cobradores têm o salário estabelecido em R$ 375,00. O último aumento que a categoria recebeu, de 5%, foi em outubro do ano passado. No total, a VCG tem 1,2 mil funcionários, cerca de 700 nas funções de motorista e cobrador.
Protesto
Cerca de 200 moradores do loteamento Vila Romana, em Ponta Grossa, fizeram ontem um protesto pedindo uma linha de ônibus. Eles alegam que precisam andar três quilômetros para chegar até a linha mais próxima e, para voltar ao loteamento, atravessam a Avenida Souza Naves, num trecho urbano da BR-376. "Todo dia corremos risco de vida ao atravessar a Souza Naves, especialmente as crianças que precisam se deslocar a outros bairros para estudar", explica o presidente da Associação de Moradores da Vila Romana, Daniel Ferreira Moraes.
Durante o protesto, os moradores impediram a circulação de quatro ônibus. Alguns minutos depois liberaram um deles, porque carregava várias crianças. Os passageiros dos outros três coletivos foram levados ao Terminal Central em viaturas da Polícia Rodoviária, que acompanhou a manifestação.
Na Viação Campos Gerais, que presta o serviço de transporte coletivo na cidade, ninguém quis comentar o assunto. Um funcionário do Departamento de Tráfego, que não quis revelar seu nome, disse apenas que essa nova linha não vai sair. Segundo ele, quem poderia prestar mais informações a respeito do caso eram os responsáveis pelo Departamento de Serviço Viário (DSV), da prefeitura.
No DSV, o funcionário Eduardo Lemes contou que o pedido para implantação da nova linha foi feito em abril. Ele acredita que a empresa não atenderá a solicitação enquanto não conseguir o aumento da passagem de ônibus. A VCG pediu o aumento da tarifa em março, mas até agora a prefeitura não concedeu, o que motivou a empresa a entrar com uma ação na Justiça. Os moradores da Vila Romana avisaram que vão aguardar uma solução até sexta-feira. Caso a prefeitura não consiga viabilizar a linha, eles prometem fazer novo protesto, desta vez fechando a BR-376.