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Os 12 dias que abalaram o Brasil

Zeca Corrêa Leite - Folha do Paraná
09 out 2001 às 11:11

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No dia 25 de agosto de 1954 o Brasil, ainda sem entender o trauma que vivia, enterrava um líder político de enorme empatia com o povo, Getúlio Vargas. Sete anos depois, em 1961, também num 25 de agosto o País mergulhava em novo assombro – outro ídolo político, Jânio Quadros, renunciava à presidência da República.
Este episódio foi ainda mais traumático pelo vendaval que ocasionou nos bastidores do poder. O vice, Jango Goulart, automaticamente teria que assumir o posto de mandatário, mas os militares interpuseram-se contra. Foram 12 dias de um embate que quase levou a nação a uma guerra civil. "Que as armas não falem", conclamou Jango, apaziguador.
A frase transformou-se no título de um livro que esmiúça os dias de nervos à flor da pele: "1961: Que as Armas Não Falem", de Paulo Markun e Duda Amilton, publicado pela Editora Senac/ São Paulo. A princípio, o lançamento está marcado para 21 de novembro nas Livrarias Curitiba.
"Relatamos a história dos 12 dias em que o Brasil esteve à beira da guerra civil, entre 25 de agosto e 7 de setembro. O fato dos militares impedirem a posse de Jango, gerou um grande movimento de protesto, em que o rádio foi utilizado de maneira muito intensa. Havia ameaça de derrubar o avião presidencial, bombardear o Palácio do governo gaúcho", contou Markun para a Folha Dois.
Se a revolta evoluísse o Paraná estaria no olho do furacão. "Aqui foi onde a guerra quase começou, porque era onde se encontrariam as tropas do 3º Exército do Rio Grande do Sul com as de São Paulo". Markun e a jornalista Duda trabalharam quase um ano na feitura do livro que tem farta ilustração. São mais de 200 fotos mapeando os acontecimentos.
"1961: Que as Armas Não Falem" foi escrito "de maneira que a pessoa possa ler como um romance. É um grande painel desse momento marcante da história brasileira, ocorrido há 40 anos, mas que está absolutamente ignorado pela nova geração", comentou o autor. A realização do livro foi possível com patrocínio do Banrisul – Banco do Rio Grande do Sul, através da Lei Rouanet.
A travessia tortuosa daqueles dias não encerrou no 7 de setembro, como se imaginou na época. O reflexo da derrota dos militares que tiveram de engolir Jango Goulart, viria com o golpe de 1964. "É realmente um momento único da história brasileira. Foi muito gratificante ter feito esse trabalho", frisou Markun.
A série de acontecimentos que se refletiu durante décadas – e continua refletindo até hoje nos destinos do País – tem origem na renúncia de Jânio Quadros. Essa decisão ainda hoje mantém-se envolta em mistérios, e não será neste livro que virá uma explicação conclusiva. Disse o jornalista:
– Não se consegue entender o que levou Jânio àquela atitude absolutamente inesperada. O livro conta várias hipóteses sobre a renúncia e deixa ao leitor a alternativa de dar sua conclusão. Nem os seus colaboradores mais próximos têm uma explicação razoável para o que foi aquele ato absolutamente inesperado de um presidente que tinha grande apoio da opinião pública e era visto como a grande esperança de transformação no País e que renunciou sem mais nem menos.
Uma corrente afirma que estava em curso um golpe de ditadura, engendrado pelo próprio Jânio, mas na evolução dos acontecimentos o tiro saiu pela culatra. Markun não avaliza essa possibilidade. "Se ele fez isso, então não combinou com ninguém, nem com os mais íntimos colaboradores. E é muito estranho isso: você planejar um golpe e não combinar com ninguém. Mesmo depois de renunciar ele teve todas as chances de voltar ao poder, mas não quis". O certo é que os 12 nervosos dias abriram uma inesperada estrada para onde o País seguiu. Sem volta.
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