Família não é estar perto nem estar longe, é estar unido. O exemplo da dona-de-casa Albertina Silva de Moura, de 74 anos, define bem como a união familiar é capaz de transpor barreiras, suportar perdas e sobreviver aos mais duros golpes da vida.
Albertina casou-se em 1954 com Bento Dias de Moura. Ela com 26 anos, ele com 44. No início, a vida foi difícil para a dona-de-casa e o farmacêutico autodidata. Ambos cursaram somente até a terceira série do ensino fundamental. Mas isso não desanimava o casal. Pelo contrário, as adversidades acabaram alimentando o sonho de fazer com que cada um dos filhos concluísse um curso superior. ''Meu marido fazia questão de dar um rolinho (diploma) para cada um dos filhos''.
Mas em Maringá, onde residiam, praticamente não havia nenhuma instituição de ensino superior. A saída foi a Universidade Estadual de Londrina (UEL). Nessa época, os cursos oferecidos pela UEL eram todos pagos.
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Logo no primeiro ano de casada veio o primeiro filho. Depois outro, outro, mais outro,... Assim foi até chegar ao total de 11 filhos, praticamente um por ano. Todos os partos foram feitos em casa pelo marido. Em 19 anos, Albertina ficou apenas um ano e seis meses sem estar grávida. ''Pelo meu marido, nós teríamos bem mais do que 20 filhos'', recorda com os olhos marejados de saudade.
A dona-de-casa viveu 20 anos junto do marido, que faleceu em 1974, vítima de um enfarto fulminante que lhe tirou a vida quando contava 64 anos. Mas a distância provocada pela perda não foi suficiente para separar o casal. Já com os dois filhos mais velhos morando e estudando em Londrina, Albertina decidiu se mudar com o restante da família poucos meses depois.
O patrimônio conseguido até essa época - posto de gasolina, ações, sítios, chácaras, terras arrendadas para usinas de açucar, destilaria, carros e máquinas - deveria servir como garantia para concretizar o sonho alimentado pelo casal desde o nascimento do primeiro filho. Mas, nas mãos de um advogado mal-intencionado, a dona-de-casa viu tudo isso se acabar em apenas sete anos. Ela conta que numa conversa com o falso amigo anos mais tarde disse apenas: ''o senhor pegou todo o dinheiro que nós tínhamos, mas eu consegui formar meus 11 filhos''.
Atualmente, Albertina possui apenas o apartamento, no centro de Londrina, onde mora com a irmã e companheira Benvinda Silva, 84 anos, que a ajudou a criar os filhos.
O primeiro filho, médico, se formou em 1978 e a última, professora de educação física, concluiu o curso em 1990. Todo ano, havia pelo menos uma formatura na família. ''Meu marido queria orientar os filhos para um caminho justo, honesto. Hoje acho que consegui realizar o nosso sonho mas não foi mérito nenhum porque meus filhos ajudaram e entenderam a vontade do pai'', avalia Albertina.
A educação, aliás, esteve presente em todos os momentos da família, como revelam as filhas Salomé e Estér. ''Como éramos em muitos irmãos em casa, meu pai fazia competição de xadrez e leitura entre nós. Tanto que íamos ler todos os dias na Biblioteca Municipal.'' Bento fazia questão de conferir, mensalmente, os boletins escolares de cada um dos 11 filhos. Quanto à força da mãe, as filhas são pontuais: ''ela é nossa heroína.''
A dona-de-casa, que tem 21 netos - seis já cursando faculdades -, considera que esse caso de amor foi obra do destino. ''A mãe dele era a caçula de 15 irmãos e a minha mãe também. Cinco dos irmãos dele morreram e cinco dos meus irmãos também. Isso não é por acaso.''
Leia mais na reportagem de Luciano Augusto na Folha de Londrina/Folha do Paraná deste domingo