O londrinense termina o ano de 2013 mais atento com o crime de pedofilia. A prisão do advogado Marcos Colli, acusado de molestar e filmar diversas crianças de um bairro da periferia da cidade, ajudou a abrir os olhos de pais e educadores. "O caso mostrou que o abusador pode ser qualquer um. Ele pode estar dentro das nossas casas, dos nossos trabalhos, das nossas igrejas. A prisão do Colli conseguiu chamar a atenção das pessoas para um assunto que é muito indigesto", destacou a promotora da 6.ª Vara Criminal (Maria da Penha), Susana Lacerda, responsável por investigar a situação desde as primeiras denúncias.
Em entrevista exclusiva ao Portal Bonde, a promotora definiu o crime de pedofilia cometido pelo advogado como o pior da história da cidade. "Vai ser um ano inesquecível", admitiu. "É o caso mais difícil que trabalhei. Pela multiplicidade dos atos e pela quantidade de vítimas", completou.
Marcos Colli era presidente do Partido Verde (PV) em Londrina antes de ser preso. Ele também ocupava cargo de assessor da presidência da Câmara de Vereadores. Já havia sido, ainda, candidato a vereador e até a prefeito de Londrina nas eleições de 2008.
Leia mais:
Homem ameaça companheira, é preso e debocha de policiais urinando no chão em delegacia em Arapongas
Adolescente é apreendido após ser acusado de roubar bolsa de idosa em Londrina
Passageira de moto morre em acidente com ônibus na BR-369, em Rolândia
PRF sente cheiro de maconha e apreende 343 quilos da droga escondidos em caixas de ovos no PR
Foi preso no dia 20 de maio deste ano e segue encarcerado até hoje esperando pela conclusão de seu julgamento. A polícia também apreendeu, à época, diversos computadores com vídeos e fotos dos abusos. O material deixou enojados tanto a promotora como o então delegado do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Alan Flore, profissionais com mais de dez anos de experiência na área criminal. "Quando a gente consegue o relato de uma criança, de cinco, seis anos de idade, aquilo que ela nos relata é quase nada do que realmente aconteceu. Escuto e fico pensando: 'O que realmente aconteceu com ela?'", destacou Susana de Lacerda.
A promotora lembra que a criança não tem como "saber a diferença" entre uma brincadeira e um abuso. "O abusador mascara e engana a vítima. A criança não tem expediente para relatar a verdade", argumentou. "Foi uma coisa que, por ser tão complexa, me trouxe muita reflexão."
Aumento no número de denúncias
A 6.ª Vara Criminal de Londrina, que cuida de casos de abusos e violência contra crianças e adolescentes, é responsável por analisar atualmente cerca de 500 ações penais relacionadas à pedofilia. Sem contar, segundo a promotora, os mais de 1,2 mil inquéritos em andamento - centenas deles protocolados no órgão após o caso Marcos Colli.
"As pessoas estão denunciando mais. A exposição do caso do Colli na mídia e a realização de campanhas de conscientização mostraram aos pais que o abuso pode ser caracterizado de muitas formas. Não é só a conjunção carnal", explicou Susana.
Na avaliação da promotora, é importante que pais e educadores deem às crianças "instrumentos para que elas próprias possam se proteger" dos possíveis abusadores. "E, também, como nós adultos podemos estar atentos a sinais que demonstrem que alguma coisa diferente está acontecendo com essas crianças", acrescentou.
"Monstro"
A defesa de Marcos Colli alegou, em diversas oportunidades durante julgamento, que os pais das vítimas concordaram com os abusos. O defensor do advogado tenta tratar o caso como prostituição infantil. O Portal Bonde conversou com a mãe de três vítimas. Sem se identificar, a mulher chamou Colli de "monstro" e admitiu que ainda não conseguiu digerir toda a situação. Ela confirmou que recebia ajuda do advogado, mas garantiu que nunca desconfiou de nada.
A mulher disse, ainda, que foi ameaçada logo após o caso ser divulgado, por famílias que, assim como ela, recebiam auxílio de Marcos Colli. "Só espero que a Justiça seja feita", limitou-se a dizer.
As três meninas abusadas recebem auxílio psicológico de uma entidade assistencial de Londrina. São acompanhadas semanalmente por psicólogas e assistentes sociais. "Acredito que nunca mais vão ser as mesmas", observou a mãe, emocionada.
Julgamento
O julgamento de Marcos Colli está emperrado na 6.ª Vara Criminal de Londrina desde outubro, quando a promotoria tentou ouvir, por carta precatória, vítimas do advogado que não moram mais em Londrina. Susana de Lacerda acredita que isso deve acontecer no início de 2014, após o recesso. "Vale lembrar que o defensor do acusado tentou unificar os casos, mas não conseguiu. Eles vão correr separadamente", destacou a promotora, garantindo que todos os processos já "estão no fim".
Susana de Lacerda destacou, ainda, que Marcos Colli será ouvido após os depoimentos das vítimas por carta precatória. O advogado ainda não se pronunciou sobre o caso, nem para imprensa tampouco em depoimento ao Ministério Público (MP). "Ele sempre preferiu o silêncio", concluiu Susana.