No dia 9 de fevereiro deste ano, o auxiliar de enfermagem A.P.R., de 36 anos, deu entrada no Pronto Socorro do Hospital Universitário de Londrina (HU), com graves ferimentos à bala. Durante os 69 dias que passou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), A.P.R. passou por cinco cirurgias, várias diálises e transfusões de sangue.
Médicos de diversas especialidades foram mobilizados para tentar salvar a vida do paciente. O custo médio por cada dia de internação na UTI, que é de R$ 1,1 mil, se multiplicou e ficou em cerca de R$ 75 mil. O prejuízo, no final, foi muito maior: o homem morreu no hospital no dia 19 de abril, e a violência contou mais uma vítima na cidade.
Esse caso é apenas um exemplo das consequências trazidas pela escalada do crime em Londrina, que os hospitais testemunham e sofrem todos os dias. Na mesma proporção em que cresce o número de homicídios, aumentam os atendimentos de saúde a pessoas lesadas por armas de fogo e pelas chamadas armas brancas (facas, tesouras, enxadas, etc.).
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Só no HU, já foram atendidas neste ano 110 vítimas de lesões com armas, contra 168 em todo o ano de 2002. Os números do ano passado representam uma média de dois atendimentos do gênero a cada 645 pacientes.
Parece pouco, mas segundo o superintendente do HU, Francisco Eugênio de Souza, a média é considerável e deve aumentar em 2003. O secretário de Saúde de Londrina, Sílvio Fernandes, concorda que o problema é grave, mas diz que os serviços de saúde da cidade estão preparados para atender a demanda.
Dependendo da gravidade dos ferimentos, o tratamento que um paciente deste tipo exige pode ser bastante complexo, penoso e caro. Souza destaca que o aumento da violência já está forçando as equipes médicas a adotarem um esquema especialmente voltado a vítimas de armas.
''Muitos pacientes chegam com múltiplas lesões e precisam de vários cirurgiões'', explica. De acordo com o superintendente, o uso de drogas, comum a pessoas envolvidas no mundo do crime, é outro ponto que pode complicar um tratamento.
Os prejuízos causados pelo crime não ficam só nos hospitais. Segundo um levantamento da Santa Casa de Londrina, as 114 vítimas internadas em 2002 devido a lesões por armas perderam, juntas, 198 anos de vida potencial e 317 dias de trabalho. ''É uma perda que recai não só sobre o paciente, mas sobre a família, o SUS, o INSS, e sobre a economia do País como um todo. A pior perda causada pela criminalidade, no entanto, é a perda da esperança'', diz o diretor da Santa Casa, Fahd Haddad.
Pelo menos para o garoto J.G.S., 14 anos, que há 18 dias deu entrada no Hospital Evangélico (HE) após ter sido atingido por uma bala destinado a outro, a esperança foi mantida. Ele saiu ontem da UTI. O chefe do Pronto Socorro do HE, Luiz Koury, conclui: ''São muitos problemas causados justamente por aquilo que poderia ser completamente evitado: o crime''.