O universitário Pedro Igor Silva das Neves, de 19 anos, motorista do Kia Cerato atingido há uma semana por cinco tiros supostamente disparados por policiais militares, afirmou nesta segunda-feira (6), em depoimento, que desrespeitou a ordem de parar na Linha Amarela, no Rio, porque ficou com medo de que se tratasse de uma falsa blitz. À Polícia Civil, o comando da Polícia Militar (PM) afirmou que a blitz era totalmente regular.
Durante a perseguição por cerca de cinco quilômetros, que terminou no bairro de Piedade, zona norte do Rio, o estudante de cinema João Pedro Cruz, de 23 anos, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) foi atingido por um tiro de fuzil e morreu. Cruz estava sentado atrás do motorista. O caso aconteceu na madrugada do dia 30.
"Ele disse que se assustou ao ver a blitz e decidiu não parar depois que ouviu um estampido. Ficou receoso de que fosse uma blitz feita por criminosos. Afirmou também que, depois que furou a blitz, ouviu vários barulhos de tiros vindos de trás. O rapaz negou que estivesse armado, e disse não ter visto nenhuma arma com os três colegas que também estavam no Cerato", relatou o delegado José Pedro Costa da Silva, da 21ª Delegacia de Polícia (Bonsucesso), responsável pelas investigações.
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Ainda de acordo com o delegado, Neves admitiu que havia pequena quantidade de maconha e cocaína dentro do carro, para consumo do grupo dos amigos. Os outros dois jovens que estavam no Cerato deverão prestar depoimento nesta terça-feira (7). São eles Luiz Gustavo Lopes de Almeida e João Pedro Eusébio de Queiroz, os dois de 22 anos.
O advogado Pedro d'' Alcântara, que representa o motorista, disse que o rapaz ainda está bastante confuso e não se lembra de detalhes do que ocorreu. "Ele só lembra do pavor que sentiu ao pensar que passaria por uma falsa blitz ou um arrastão que, infelizmente, são comuns na Linha Amarela. Não procede a informação de que ele não parou por causa da droga no carro, até porque a quantidade era desprezível".
Alcântara disse que Neves só deu falta de um dos amigos quando já estava na viatura da PM sendo levado para a delegacia. "Ele perguntou para um colega onde estava João Pedro, e ouviu de um policial que ele estaria ferido no hospital. Mas na verdade o rapaz morreu no local".
Em depoimento no dia do episódio, quatro PMs que participaram da perseguição disseram que só abriram fogo depois que um dos ocupantes do veículo atirou contra eles. Os PMs foram identificados como cabos André Luiz Fernandes da Silva e Rodrigo Vinícius Ferreira Duarte, e sargentos Charles Pinto Pereira da Silva e Wagner Luiz da Silva Ramos.
A versão dos praças, no entanto, foi descartada na última sexta-feira pela perícia. Os peritos concluíram que os dois tiros que atingiram a viatura da PM foram efetuados pelos próprios policiais, durante a perseguição. Já o Cerato foi acertado por cinco disparos. Uma pistola e três fuzis que estavam com os PMs foram apreendidos e serão submetidos a exame de balística.
A Polícia Militar informou que os quatro praças foram afastados do serviço de policiamento enquanto durarem as investigações. Foi aberto inquérito policial militar (IPM) para apurar o episódio. Caso sejam considerados culpados, os PMs podem ser expulsos. Os policiais ainda não constituíram advogado nos autos. A reportagem não conseguiu contato com eles.