"A eleição de 2018 começou agora no Brasil". Quem faz o alerta é a ex-presidente Dilma Rousseff que, numa entrevista à TV pública suíça, garante que não tem a intenção de voltar ao poder.
"Eu não vou voltar à presidência. Eu vou continuar fazendo política todos os dias de minha vida", disse. "De agora até 2018, quero assegurar que o Brasil tenha um encontro correto com a democracia", insistiu. "E que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa concorrer", completou, lembrando que perder é parte da democracia.
Nesta sexta-feira, 10, Dilma começou uma verdadeira campanha. Ela foi recebida por organizações internacionais, numa agenda programada para ocorrer no mesmo momento em que o Brasil reassumiu uma cadeira no Conselho de Direitos Humanos da ONU. A reportagem apurou que a diplomacia brasileira se mostrou profundamente irritada com o tratamento concedido pelas entidades à ex-presidente. Nos próximos dias, ela dará coletivas de imprensa, entrevistas para jornais europeus e falará em seminários para centenas de pessoas.
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Mas foi sua agenda diplomática que irritou o governo. Em Genebra, ela foi recebida pelo diretor máximo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, na sede da própria entidade, com protocolo. A assessoria de imprensa da entidade se recusou a dar detalhes do conteúdo da conversa e avisou antes mesmo que não haveria nem foto do encontro. Ryder, antes do encontro, confessou à reportagem que acompanha de perto os acontecimentos políticos no Brasil.
Dilma, que viajou acompanha por Marco Aurélio Garcia, também foi recebida pelo Conselho Mundial de Igrejas, entidade que também tem sede em Genebra e que tem se transformado em um local privilegiado de diálogos entre grupos de oposição. Em seu hotel, no centro de Genebra, a ex-presidente recebeu lideranças parlamentares da Suíça.
Ela não usou carros oficiais durante a viagem, que ainda contou com uma equipe total de seis pessoas. De um a outro lugar, chamou táxi e chegou a questionar sobre como poderia chegar de ônibus. Mas fontes envolvidas na organização da turnê revelaram que sua visita foi considerada como um momento "delicado" para diversas entidades, que são obrigadas a manter boas relações com o governo brasileiro. Dilma ainda concedeu uma entrevista ao principal jornal da TV suíça, em horário nobre, e que vai ao ar no domingo.
Neste sábado, ela ainda será a principal convidada de um festival de cinema, que se transformou no principal evento paralelo às reuniões de direitos humanos da ONU. Já na segunda-feira, ela dará uma palestra num dos principais centros de estudos internacionais da Europa. Ela falará sobre "a defesa dos direitos sociais na América do Sul". Mais de 700 pessoas estão inscritas para assistir ao discurso.
Enquanto a ex-presidente é recebida, o governo brasileiro passou os primeiros dias de seu novo cargo dentro da ONU insistindo no fato de que as instituições do Estado estão funcionando, que a democracia é sólida e que o devido processo de lei está sendo respeitado em julgamentos.
Há uma semana, foi a vez da ministra de Direitos Humanos, Luislinda Valois, declarar que "o Brasil voltou", ao subir no pódio da ONU. "Depois de um processo político difícil, o Brasil se levanta para mostrar ao mundo a robustez de nossas instituições, nosso apego à lei e à Justiça e, acima de tudo, o caráter aberto e democrático de nossa sociedade e de nosso sistema político", disse.
Nesta semana, em uma segunda intervenção, o governo brasileiro afirmou que "a promoção e proteção de direitos humanos incorporam valores fundamentais sobre os quais estão as fundações da legitimidade e democracia do Brasil".