''Que tal mostrar um cara barbudo vestido de guerrilheiro com um cinturão carregado de balas transpassado no peito e uma metralhadora na mão, tendo ao fundo uma bandeira vermelha e o locutor perguntando em off 'É isso que você quer para o nosso país?' Aí corta para a bandeira do Brasil e começa o nosso programa.''
A proposta foi apresentada no início do segundo turno das eleições de 1989 como vinda de dona Leda Collor, mãe de Fernando Collor de Mello, então candidato à Presidência da República para quem eu dirigia os programas de televisão do Horário Gratuito. Apaziguados temporariamente os impulsos beligerantes, seguimos resistindo a uma chuva constante de pedidos neste mesmo sentido - o de identificar o adversário com o que houvesse de mais parecido com satanás, até sair da campanha, eu e toda minha equipe, por não admitirmos a exibição da maior baixaria eleitoral de todos os tempos - o depoimento de Míriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, revelando aos telespectadores-eleitores detalhes da vida íntima do candidato do PT de forma totalmente indefensável do ponto de vista ético e político (em seu depoimento, que a imprensa acusou de ter sido comprado, ela afirmava ter sido obrigada por Lula à prática de aborto).
Treze anos depois - bate na madeira - os últimos números das pesquisas quantitativas, fazem analistas especializados em pesquisas qualitativas, as que medem as reações mais profundas do público à propaganda, preverem queda nos índices de civilidade das críticas.
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A nova realidade do todos contra um deve fazer Lula cair entre 4 e 5 pontos. Mas este é um patamar que, historicamente, se recupera nos dias imediatamente anteriores às eleições, quando se dão as definições de última hora. Portanto, ou a ''pauleira'' contra o candidato aumenta muito, ou as chances de ele ganhar no primeiro turno são muito fortes. É esta conta que empurrou os programas de Serra para apresentar o segundo turno como se já fosse um fato consumado e tentar, através de um cutucar a onça com a vara cada vez mais curta - na expressão de um tarimbado serrista - tirar Lula do ''Olimpo''.
Duda Mendonça, marqueteiro do PT, comentou para o Jornal do Brasil que considerou baixaria o comercial em que o programa de Serra exibe um discurso do presidente do PT, José Dirceu, incentivando a participação da militância do partido, seguido por imagens de Mário Covas, então governador de São Paulo, sendo agredido por manifestantes. ''Quando se diz em um discurso vamos bater neles nas urnas e nas ruas, não quer dizer vamos partir para a briga física, todo mundo sabe isso, é apelação'', diz.
Nelson Biondi, que responde pela estratégia de marketing de Serra, fala por cima dos gritos de Nizan Gaunaes, o todo poderoso da campanha do PSDB, que estava muito bravo, sexta-feira, com um artigo de Ricardo Kotcho , jornalista petista, que utilizara a expressão ''urubu gordo''. Biondi confessa que, mesmo que o Tribunal Eleitoral não tivesse determinado a retirada do ar da peça que exibia a agressão a Covas, ela teria sido descartada. Assim como a menção a Lula não ter diploma.
''Citamos a exigência de curso universitário por parte de uma prefeitura do PT para mostrar incoerência, mas as pessoas entenderam como preconceito. E as agressões foram mostradas para lembrar que existe um PT virtual e outro real'', comenta o assessor que é categórico em negar qualquer possibilidade de satanização do adversário. Até por aspectos práticos, avalia. ''Lula criou uma aura de santo e bater muito nele pode se voltar contra nós.''
As comparações de currículo entre os dois primeiros colocados nas pesquisas apresentadas na televisão foram consideradas até aceitáveis pelo {i}staff {/i}petista. A surpresa é terem sido analisadas como uma tremenda bola fora por um especialista em pesquisas qualitativas que trabalha para o PSDB. ''Como é que o Serra começa o programa tentando mostrar que o Lula e o PT são trogloditas e querem bater nas pessoas, ferir autoridades constituídas como um governador de estado e, em seguida, traça uma comparação que diz que durante anos e anos ele e seu concorrente tiveram uma trajetória parecida? É esquizofrênico'', analisa, preferindo não se identificar, para fugir da ira da fogueira de vaidades que rege o meio do marketing político.
Um outro analista de qualitativas, este do lado do PT, avalia: ''Serra só tem uma proposta básica, o emprego e, nas pesquisas de grupo, esta proposta não é bem aceita. É contraposta ao que o atual presidente não fez durante os dois mandatos, mesmo pelos menos instruídos. Portanto, descontruir Lula, quando já lá se foram 14 programas ao ar e faltam apenas mais 5, é só na base do golpe muito baixo e reconstruir Serra, bem, é praticamente impossível. Só se houver segundo turno''.