Num discurso na Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, na noite desta quarta, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ter demitido diretores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, principal órgão de preservação dos bens culturais do país, depois que a instituição interditou uma obra do empresário Luciano Hang, um de seus mais notórios apoiadores.
Bolsonaro afirmou no discurso registrado em vídeo ter ficado sabendo que um pedaço de azulejo apareceu durante as escavações para a construção de uma loja da Havan, o que teria motivado as demissões.
"O que que é Iphan, com 'ph'?", pergunta Bolsonaro. "Explicaram para mim, ripei todo mundo do Iphan. Botei outro cara lá."
Leia mais:
Lula segue lúcido e caminha e se alimenta normalmente, diz boletim
Braga Netto entregou dinheiro em sacola de vinho para plano de matar autoridades, diz Moraes
Câmara de Londrina veta transposição do Vale dos Tucanos
Investigação sobre desvios em compra de vacina da Covid volta ao STF, e PGR analisa em segredo
A plateia de empresários ri e aplaude. Eles estavam reunidos para o evento Moderniza Brasil - Ambiente de Negócios, em São Paulo.
"O Iphan não dá mais dor de cabeça para a gente", acrescentou Bolsonaro.
O jornal Folha de S.Paulo pediu comentários do órgão sobre as declarações.
Além dos ataques do presidente e da troca de funcionários do alto escalão do Iphan, foi sob o governo Bolsonaro que o conselho consultivo do Iphan, a instância máxima para tombamentos e registros de bens imateriais, ficou sem se reunir por um ano e oito meses. Esta foi a maior paralisação do Iphan em 65 anos -algo que não foi visto nem na ditadura militar.
Tombamentos e registros são as mais importantes formas de preservação do patrimônio do país. O Iphan tem em sua lista de bens tombados e registrados, por exemplo, o Teatro Oficina, em São Paulo, o centro histórico de Salvador, Rio de Janeiro e Ouro Preto, em Minas Gerais, entre outras cidades históricas, e acervos como o do Museu Lasar Segall, em São Paulo, e o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio.
Tombar um imóvel e seu entorno pode atravancar o avanço de projetos imobiliários -restrição que o próprio presidente já se posicionou contra.
Na famosa reunião ministerial de abril de 2020, o presidente ironizou que para preservar um "cocô petrificado de índio" o Iphan teria travado obras de Luciano Hang.
"O Iphan para qualquer obra do Brasil, como para a do Luciano Hang. Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô, para a obra", disse Bolsonaro, na reunião.