A movimentação política com vistas à eleição estadual do ano que vem começa a chegar aos principais institutos de pesquisa do Paraná. Em alguns deles, o assédio ainda limita-se a uma consulta superficial para checar se já existem índices de intenção de voto do eleitorado. Mas em outros, faltando cerca de um ano para o início da campanha, o trabalho de campo está a todo vapor.
"Desde maio, a gente vem realizando uma pesquisa por semana. Os levantamentos são para deputados e pré-candidatos", conta Murilo Hidalgo Lopes, diretor comercial da Paraná Pesquisas, de Curitiba. A empresa também realizou dois trabalhos em todas as regiões do Estado sobre a sucessão ao Palácio Iguaçu. Os clientes e as medições são mantidos em sigilo. "É apenas para veiculação interna", diz Lopes.
Mesmo que a largada oficial da campanha ocorra só em agosto de 2002, políticos governistas estão preocupados com a imagem e o prejuízo que poderão sofrer nas urnas caso continuem a defender posições espinhosas, como a privatização da Copel. Quem conta o caso é o estatístico Daniel Hatti, diretor técnico da Canadá Pesquisas, de Londrina. A empresa foi contratada por um deputado estadual.
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"O parlamentar pediu para fazer uma pesquisa sobre sua imagem perante o eleitorado. Ele está preocupado com a questão da Copel, por ser do governo e ter que defender a venda da empresa. Ele quer saber a reação de seus eleitores", relata Hatti, que não revela o nome do deputado.
O segredo faz parte da tática de quem pede a avaliação. "Nenhum político mal posicionado numa pesquisa vai querer passar uma posição de fraqueza para os eleitores. Ele vai usar os números negativos nos bastidores para melhorar sua performance", diz um especialista da área. Na ótica dos institutos, tanta reserva também tem explicação.
Num curto período da campanha de 1998, entre 6 de setembro e 1º de outubro, 21 institutos (16 do Paraná) faturaram juntos R$ 511 mil. Esse é o único registro oficial disponível no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sobre o volume financeiro que circula em torno das empresas. Por lei, em período eleitoral, elas são obrigadas a avisar o TRE sobre a disposição de realizar os levantamentos, além de informar quem pagou, a região e a data em que a pesquisa será promovida.
Waldimir Coutinho, diretor da Alvorada Pesquisas, de Londrina, diz que durante a campanha o faturamento aumenta 60% e ajuda a equilibrar a receita do resto do ano. Ao contrário da Paraná Pesquisas, Coutinho diz que "ainda é cedo" para os políticos procurarem os institutos. "É um período de recesso e os partidos estão em fase de renovação de diretórios."
O Instituto Bonilha, de Curitiba, usará como aliado o tempo que separa o começo da caça pelos votos para definir sua estratégia. Em vez de fazer pesquisas para políticos de várias tendências, o instituto deverá trabalhar apenas para um candidato. "Estamos escolhendo o nome. Queremos trabalhar com um cliente, alguém que tenha potencial de vitória e aceite nossa forma ética de refletir a realidade", diz o diretor-geral do instituto, o sociólogo Rogério Bonilha.
Diretores dos institutos londrinenses Alvorada e Canadá dizem que são muito procurados nesta época do ano por políticos curiosos em saber se existem sondagens sobre o ânimo do eleitorado. Mas com a antecipação do paulista Datafolha, que divulgou pesquisa sobre a sucessão estadual há três semanas, Waldimir Coutinho diz que os institutos do Estado acabaram prejudicados. "Na eleição majoritária, eles mataram o interesse pois todos ficaram atraídos pela pesquisa nacional".