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"Ímpeto juvenil"

Carta de filho faz Luiz Caron pedir exoneração

Redação Bonde
01 jun 2007 às 19:12

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Surpreendido por uma carta de seu filho publicada no jornal O Estado do Paraná desta sexta-feira, na coluna de Paulo Pimentel, o secretário especial Luiz Caron encaminhou carta ao governador Roberto Requião solicitando exoneração. Na carta, Caron lamenta a atitude do filho, Guilherme Richter Caron, e agradece a oportunidade de ter participado "dos melhores tempos que um governo do Paraná já teve".

Abaixo a íntegra da carta de Luiz Caron ao governador:

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"Curitiba, 01 de Junho de 2007

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Prezado Governador,

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Em dezembro de 2002, numa conversa franca na Granja, acertamos minha assunção à Secretaria de Obras. Lá o senhor deixou explícito e claro o que esperava da Secretaria em ações e seu papel no cumprimento do seu plano de Governo. Como deve ser a conversa entre amigos.


Foram 4 anos de uma gestão tão profícua que arriscaria asseverar ser o melhor governo do Paraná das últimas décadas. Sentir orgulho nem sempre é um sentimento de nobreza, muitas vezes é apenas soberba, mas ter trabalhado neste governo, arrisco sem medo de errar, a afirmação do orgulho e a honra de ter servido.

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Apreendi ao longo deste tempo todo o conteúdo programático do seu governo, expresso não apenas no discurso ou nas grandes linhas de ações, mas também e não menos importante, nas atitudes mais simples e sempre carregadas de significado. Aprendi a ler nas entrelinhas, a ouvir as pausas e a compreender as lacunas.


Ontem, dia 31 de maio, em audiência em seu gabinete tivemos mais uma das conversas francas. Tratamos do Centro Judiciário de Curitiba, sem dúvida iniciativa de tão ou maior porte da que Bento tomou no início da década de 50 quando decidiu implantar o Centro Cívico. Tratamos da reforma do Palácio Iguaçu, outra iniciativa importante para a preservação da memória histórica e patrimônio cultural dos paranaenses, compondo magnífico acervo arquitetônico, agora enriquecido pelo Palácio das Araucárias. Outra das boas conversas francas, pena que mais rareadas pelas contingências.

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Logo a noite estive reunido com um grato amigo, prefeito de Irati, quando Sergio recebeu os projetos do Centro Cultural Denise Stoklos e ele foi testemunha de meu entusiasmo, comentando quão positivo é quando as pessoas demonstram paixão pelo que fazem. De fato Governador, os planos para o futuro são promissores e passado um período de ajustes as ações deverão se encaminhar da melhor maneira e o sucesso de mais uma gestão se configura de forma concreta.


Porém, nesta madrugada, com a maior surpresa, leio na coluna ET Cetera, no site Paraná On Line, o texto com o título "O desabafo de Guilherme Caron".

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Não sei o que dizer. Sinto que meu filho Guilherme não tenha me ouvido em janeiro e nesta oportunidade não tenha ao menos me avisado de sua intenção ao escrever esta carta ao Sr. Paulo Pimentel, tendo me surpreendido desta forma. Ele, Guilherme, se mudou com a família para outra cidade e me alimento de esperanças que seu ímpeto juvenil se arrefeça com o tempo. Sinto que estou sendo usado e que meu filho tenha caído na armadilha, certamente provocado pelo que ainda ontem a coluna veiculou sofismando que eu havia me manifestado sobre aquisição de mobiliário para o Palácio das Araucárias, afirmativa de resto inverídica. Imagino que Guilherme preconcebeu que o senhor retaliasse sobre mim e esta notícia foi o estopim de sua reação, ocasionando uma interferência indevida em minha vida pessoal e profissional. Mas nada que eu faça poderá justificar a atitude ou modificar o fato. De forma alguma, mesmo na intimidade afirmei o que estava escrito na coluna, mesmo porque, sobre este assunto, não conheço absolutamente nada e nem seria minha competência opinar.


Mas, senhor Governador, o constrangimento de hoje não é possível suportar. Abandono os planos que alimentei até ontem, os sonhos de coordenar a construção do Centro Judiciário de Curitiba, como planejamos desde meados de 2003, a necessária e urgente reforma do Palácio Iguaçu e outros tantos.

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O senhor haverá de compreender o conflito entre o pai e o profissional, entre o íntimo de meus sentimentos e a interface pública de um Secretário Especial. Servi com total probidade aos pressupostos de seu Governo e segui à risca as diretrizes emanadas de seu comando e lhe sou leal como fui sem desvios nestes 4 anos, maravilhosos anos. Se alguma aresta houve nada foi que não pudesse ser lapidada e suavizada pela mútua compreensão que temos da coisa pública e pela minha exata percepção dos seus objetivos como homem público da maior envergadura. Porém, permanecer em sua equipe será continuar propiciando instrumentos de provocação diária ocasionando o desgaste da nossa relação.


Requião, permita-me a intimidade, sinto-me muitíssimo grato pela oportunidade que me deu de participar dos melhores tempos que um governo do Paraná já teve. Levarei para sempre em minhas lembranças e grafado em meu currículo o que de melhor pude fazer para que sua gestão viesse marcar novos tempos. A vida segue seu curso e estarei sempre no fervor de que esta terceira gestão supere todas as expectativas.

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Estarei protocolando solicitação de minha exoneração ainda hoje. Espero encontrá-lo sempre, agora com menos tensão e um prazer ainda maior.
Do amigo


Luiz Caron



Abaixo, o texto da carta do filho de Luiz Caron publicada na coluna de Paulo Pimentel.


"Bom-Dia Dr. Paulo Pimentel


O dia aqui amanheceu frio, cinza, porém muito mais bonito que os dias que tem feito aí no Paraná. Estou morando em uma cidade litorânea de Santa Catarina, bem pequenininha. Não sei se chega a 20 mil habitantes. É um lugar onde ninguém passa fome. Ontem mesmo foram pescadas 60 mil tainhas. Comprava-se o peixe a R$ 0,50/KG. Isso mesmo! É um lugar onde as pessoas só ambicionam a qualidade de vida, o amor entre as pessoas, amor ao meio ambiente... Completamente diferente daí. A causa desta reviravolta em minha vida, e consequentemente na da minha família, foi porque depois de ter trabalhado 4 anos dentro de um governo com tantos indícios de corrupção, minha decepção foi tamanha a ponto de mudar até meu estilo de vida, e principalmente meu padrão.


Hoje vivo com muito menos. Meu lazer aqui não custa nada, me sinto feliz e em sintonia com meus filhos e minha esposa. Até isso foi tirado de mim quando estava no meio daquela corja. Enfim, valeu como aprendizado. Mas não quero passar por aquilo nunca mais. Conviver com pessoas que gastam todo seu tempo pensando em como prejudicar alguém, como tirar este ou aquele do caminho pra poder fazer alguma pilantragem, conviver com ameaças - sim, ameaças, eu e minha família fomos alvos de inúmeras ameaças via telefone, cartas e até e-mails.


Aqui a única ameaça que sofremos é de chuva, frio ou ressaca do mar. Aqui eu tenho paz pra realizar meu projeto de turismo e meio ambiente e viver sem a preocupação de ter alguém querendo me prejudicar.


E meu pai... Infelizmente não saiu do governo quando foi ofendido pelo desvairado. Se manteve íntegro, mas muito triste por ter engolido aquele sapo sem ao menos a ajuda de um copo d’água. Os motivos daquele ataque de nervos do governador não foi apenas por causa da Cequipel ou das divisórias.


Tem muito mais coisa por trás dessa explosão desnecessária (desnecessária aos olhos de quem assistiu). Mas era necessária para o governador ou para seu irmão mais novo, porque obrigaria uma pessoa que durante 4 anos atrapalhou muitas tentativas de saque da SEOP, através de o senhor sabe quem, a pedir demissão. Eles tinham certeza que meu pai sairia. Até eu briguei com meu pai e escrevi aquela carta por não concordar com o fato do meu pai ter engolido calado toda aquela humilhação.


Hoje eu compreendo. Ele deixou o ônus para eles. Eles teriam que demiti-lo e era exatamente isso que a corja não queria. Para eles demitir meu pai era muito arriscado. O secretário de Obras era muito competente, honesto, muito querido pelos escalões menos valorizados do governo e tinha uma ótima relação com a imprensa. Seria difícil justificar sua demissão. Por isso aquela palhaçada do dia primeiro de janeiro.


Engraçado... Esses dias um amigo me mandou um e-mail preocupado, porque leu na Gazeta que eu seria candidato a vereador em Curitiba e que eu prometera a ele apoio nas eleições também para vereador. Falei para ele que eu não seria candidato a vereador de Curitiba.


Expliquei que minha missão era muito mais importante que cuidar da nossa cidade. Para isto já tem gente muito boa lá. O que eu quero é fazer é livrar o Estado do Requião e sua família. Quero que Requião responda por todos os processos que ele tem sem a proteção que um mandato lhe proporciona nessas ações.


Quero também que ele não tenha mais condições de empregar mais nenhum parente incompetente seu. Quero fazer os Melo e Silva trabalharem ao menos uma vez na vida sem mamar nas tetas do erário. Quero concorrer ao Senado. Quero tirar a vaga dele. Ou alguém ainda acha que ele quer mesmo ser candidato a presidente? Piada, né?


Bom, Dr. Paulo, um dia gostaria de conversar consigo pessoalmente. Admiro muito sua história política e empresarial e também sua coragem na briga com estes crápulas. Saiba que estou do seu lado.
Um abraço.

Guilherme Richter Caron."


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