Caso cumpra o que vem repetindo há dias, ou seja, não usar o horário eleitoral gratuito para revidar os ataques do candidato à sucessão presidencial José Serra (PSDB), a trégua anunciada pelo candidato Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, vai se limitar à propaganda no rádio e na TV.
Na coletiva concedida na manhã de ontem, após encontro com o bispo auxiliar da diocese do Rio, Dom Felippo Santoro, Ciro fez duras críticas ao tucano e indicou que vai apostar na estratégia de ligar Serra à imagem de um governo fracassado, e adotar a linha ''bateu, levou''.
''Nunca houve, na História do Brasil, desde que foi criada a carteira de trabalho, tal violência na informalização do mercado quanto no governo ao que o senhor José Serra serviu há oito anos e de quem quer ser o candidato de continuidade'', criticou Ciro, afirmando que, se a informalidade da economia voltar ao nível anterior ao governo FH - cair 10% -, a arrecadação da previdência vai subir de R$ 65 bilhões para R$ 89 bilhões.
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Embora, na quarta-feira, tenha feito ameaças veladas ao tucano, citando os casos Ricardo Sérgio (ex-tesoureiro da campanha de Serra) e Flávio Bierrenbach (ex-deputado federal que acusou o tucano de abuso de poder e de suspeita de corrupção nas eleições paulistas de 1988), Ciro assegurou ontem que a propaganda eleitoral não deve ser usada ''de forma clandestina, covarde, sem assinatura, como fez o candidato do governo''. Ciro fez, então, a primeira das várias críticas a setores da imprensa, a quem acusou de apoiar o candidato governista. ''O caso Ricardo Sérgio é público. Apenas por conveniência de um setor da grande mídia, a serviço claro da propaganda oficial, sumiu-se com esse assunto. Com o caso Bierrenbach também.''
Questionado se vai mudar seu programa de governo por causa da redução de R$ 10 bilhões na proposta para orçamento de 2003, enviada ontem ao Congresso, o candidato deu outra estocada em Serra. ''Essa proposta prova como falta com a verdade o programa do candidato do governo, porque eles produziram 11 milhões e 700 mil desempregados e Serra está propondo 8 milhões de empregos'', disparou.
Apesar da redução do orçamento para o próximo ano, Ciro afirmou que deve manter seu programa de governo, pois, segundo ele, não defende ''promessas mirabolantes''. ''Não tenho coragem de cometer essa falta de respeito com a população brasileira. Prometer gerar 10 milhões de empregos como o Lula está fazendo... O Lula, eu absolvo. É inexperiência. Mas o Serra, que é muito experiente, está faltando com a verdade com a população.''
Sobre sua queda nas últimas pesquisas, Ciro minimizou os resultados e lembrou que, ainda quando estava em melhor posição, já dizia que, no Brasil, pesquisa tem baixo nível de confiabilidade.
O encontro do candidato com o bispo Dom Felippo Santoro, no Cosme Velho, foi intermediado pelo deputado estadual Carlos Dias (PPB). Embora o partido dele apóie, no Rio, o candidato tucano, Carlos Dias anunciou ontem que seu voto é em Ciro. ''Ele é o candidato que se enquadra nos critérios da nossa igreja. A minha indicação dentro dos movimentos católicos será também para Ciro''.