O ex-gerente da agência do Banestado nas Ilhas Cayman no Caribe Ricardo Franczyr revelou nesta segunda-feira à CPI instalada na Assembléia Legislativa que o banco emprestou US$ 4,5 milhões para três empresas brasileiras com juros de mercado internacional - menor que os do mercado brasileiro - em outubro de 1998. A transação foi autorizada pelo ex-diretor Gabriel Pires Neto e pelo então gerente de divisão Ércio de Paula Santos.
Na recomendação vinda do Brasil, os ex-diretores garantiam que as empresas tinham capacidade de pagamento da dívida. ''Não podia questionar a idoneidade da empresa. Quem fazia isso era a diretoria em Curitiba'', relatou ele.
Franczyr contou que quando voltou ao Brasil, após o fechamento da agência Grand Cayman, em fevereiro de 1999, resolveu verificar as garantias dadas ao banco pelas empresas durante o processo de concessão do empréstimo. ''Foi a única operação irregular que tive conhecimento. As empresas deram como garantia apenas notas promissórias'', contou aos deputados.
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A Agência Grand Cayman foi aberta em 1995 por causa da facilidade de empréstimos sem tributação fiscal. Valores pagos normalmente em outros locais (entre 27% a 30%) sofriam isenção nas Ilhas Cayman. ''A não tributação facilitava a concessão de empréstimos por outros bancos internacionais, principalmente dos Estados Unidos e Inglaterra'', declarou o ex-gerente. Os financiamentos eram feitos principalmente para importação e exportação de produtos.
A agência não fazia movimentações financeiras de correntistas. Entre 15 e 20 correntistas faziam aplicações rápidas e transferiam os valores para a agência em Nova York. ''Não havia movimentação em espécie lá. Toda a movimentação em espécie era feita em Nova York'', garantiu ele.
Os balancetes e relatórios financeiros eram enviados mensalmente para a diretoria em Curitiba. Os planejamentos estratégicos eram feitos no Brasil. A movimentação da agência era de US$ 100 milhões a US$ 150 milhões por mês.
Franczyk foi reconvocado para quarta-feira, quando serão ouvidos os ex-gerentes da agência de Nova York Ércio de Paula Santos e Valdyr Perin. Este será ouvido pela quarta vez. ''Não é comum esse tipo de rombo sofrido pelo Banestado. Alguém deve ter levado vantagem com isso'', argumentou o deputado estadual Neivo Beraldin (PDT), presidente da CPI do Banestado.
A Folha tentou falar hoje com Ércio de Paula Santos, mas não conseguiu localizá-lo. O ex-diretor Gabriel Pires Neto disse não lembrar da transação financeira citada por Franczyk, mas garantiu que todas as operações eram feitas de acordo com as normas do Banestado.