A defesa do senador afastado Aécio Neves (PSDB) enviou ao Supremo Tribunal Federal quatro fotos com a data de 2006 com o intuito de eliminar suspeitas de que, em um diálogo interceptado em 29 de abril entre Aécio e uma pessoa identificada como "Moreno", as menções a motos e motoqueiros sejam formas cifradas de se referir a delatores. Não passariam de referências a um hobby do tucano, segundo a defesa.
Para a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal (PF), Aécio usou as expressões "motoqueiros malucos" em alusão a "delatores" e "passeio de moto" em referência a delações. E, quando Aécio fala em "guia", estaria se referindo a Sergio Andrade, dono da Andrade Gutierrez. Os investigadores destacam que, no mesmo dia da conversa de Aécio, Sergio Andrade foi o tema de uma reportagem do jornal O Estadão de S. Paulo, com a informação de que seria ouvido por investigadores da Lava Jato em relação à negociação de propina nas obras da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio - tema de investigação contra Aécio com base na delação da Odebrecht.
Inicialmente, os investigadores pensavam que o "Moreno" que conversa com Aécio Neves é o empresário Alexandre Accioly, citado em delações da Odebrecht como intermediário de vantagens indevidas pagas ao político mineira. Mas após a nova rodada de interceptações, a análise aponta que a denominação "Moreno" "parece ser utilizada indistintamente entre três pessoas, ao menos. "Assim, e com base na informação complementar em anexo, não se pode afirmar que o interlocutor da conversa em tela seja Alexandre Accioly".
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Quando pediu a prorrogação das interceptações, a PGR destacou que a PF fez uma correlação entre o diálogo de Aécio com o "Moreno" em 29 de abril e uma reportagem do Estadão intitulada "Dono da Andrade vai depor sobre suspeita de propina a políticos" publicada no mesmo dia.
"Observa-se que no diálogo anterior Aécio Neves menciona que alguns 'motoqueiros' em vez de conversar, resolveram antecipar-se, e na matéria veiculada no Estadão observa-se o trecho relacionado a Sergio Andrade: 'Segundo pessoas próximas a Sergio, ele se antecipou a uma convocação oficial dos procuradores, considerada inevitável, para explicar a questão de Santo Antônio, que não fez parte do acordo inicial da empreiteira. Aparentemente, a alusão a 'motoqueiros' seria uma referência aos colaboradores, a 'viagem de moto' ao procedimento que envolve tais delações, o guia seria especificamente 'Sergio Andrade', já que Aécio Neves diz que ele (o guia) 'procurou pra ... fazer o roteiro', para fazer a colaboração', diz a análise da PF.
Abaixo, o diálogo transcrito pela PF no relatório dos áudios interceptados na Operação Patmos:
Aécio Neves: Deixa eu te falar, cara. Não sei se vai ser simples...
Moreno: Unhum
Aécio Neves: Naquela organização que a gente ia fazer em julho.
Moreno: Unhum.
Aécio Neves: É. Porque... você viu nos jornais hoje?
Moreno: Mais ou menos. Uma parte sim, outras... algumas outras coisas aí.
Aécio Neves: É não. É não. Tem uns negócios listados que o cara ia ser o guia, sabe? inaudível
Moreno: Unhum. Sei.
Aécio: Procurou para... pra fazer o roteiro, entendeu? Ainda...
Moreno: Tá.
Aécio Neves: E eu tô sem nenhuma...sabe... informação que, que por conta daquelas coisas, daqueles malucos lá, sabe?
Moreno: Unhum.
Aécio Neves: Aqueles motoqueiros malucos que falaram qualquer coisa. Em vez de chamar, eles resolveram se antecipar, sabe?
Moreno: Eu falo com ele ... ele está por aqui. Eu falei com ele ontem... .
Aécio Neves: Lê o Estadão ... lê o Estadão ... lê o Estadão ... e ai porque tá... né... a verdade mesmo, sempre, tudo... só pra você ver se consegue ter um notícia em que
Moreno: Tá bom.
Aécio Neves:... termos que vai ser a viagem ... se vai ser mais longa. se ele... se é aquele trajeto que a gente tinha já combinado, entendeu?
Moreno: Vai manter aquele mesmo né?
Aécio Neves: É... ou se teve alguma... alguma coisa nova. Tenta ver se você dá um colada nele pessoalmente nele até segunda...
Moreno: Tá bom. Tá joia.
Aécio Neves: Vai pessoalmente.
Moreno: Ok. tá ótimo.
Aécio Neves: Você entendeu né?