Planilhas entregues ao Ministério Público Federal (MPF) pelo ex-gerente de Engenharia e Serviços da Petrobras Pedro Barusco Filho apontam o pagamento de pelo menos R$ 91,2 milhões em propina envolvendo três obras na Refinaria Getúlio Vargas (Repar) em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Segundo o delator, que fechou acordo de delação premiada nas investigações da Operação Lava Jato em novembro do ano passado, o suborno teria sido usado para garantir que as empreiteiras executassem os projetos.
Os três contratos referentes à Repar que aparecem nas planilhas envolveram os consórcios Engevix/Skanska (formado pelas empresas de mesmo nome); Conpar (Odebrecht, UTC Engenharia e OAS); e Interpar (Mendes Jr., Setal e MPE), entre os anos de 2007 e 2010, e atingiram a soma de R$ 4,5 bilhões. O primeiro consórcio fechou contrato para prestação de serviços na unidade de propeno da refinaria (R$ 224,9 milhões); o segundo foi responsável pelo projeto de desenvolvimento da Carteira de Coque (combustível derivado do carvão betuminoso) e HDT (hidro tratamento) de Diesel (R$ 1,8 bilhão); e o terceiro de obras das interligações das unidades de Coque/HDT e Gasolina (R$ 2,5 bilhões).
Ao todo 87 contratos firmados pela estatal petrolífera entre 2003 e 2011 fazem parte das planilhas apresentadas por Barusco. Esses contratos somam a quantia de R$ 97 bilhões e, conforme o denunciante, R$ 1,2 bilhão teriam sido pagos em propina. Nas tabelas, o ex-gerente indicava as empresas, quais projetos, os valores dos contratos fechados com a Petrobras, o percentual de propina, a divisão (como o dinheiro seria dividido) e o nome dos agentes e contatos nas empresas.
Leia mais:
Bolsonaro é plano A, posso ser o plano B, diz Eduardo sobre eleição de 2026
Comissão de Constituição e Justiça aprova projeto que transforma Detran em autarquia
Plano de precatórios garante economia milionária para Londrina
Reforma da Câmara Municipal de Londrina deverá ser entregue somente em 2025
No caso da Repar, 2% do valor dos contratos seriam repassados como suborno e, deste total, 1% iria para o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa que, posteriormente dividia recursos com o doleiro Alberto Youssef e políticos do Partido Progressista (PP). O outro 1% seria repartido entre o Partido dos Trabalhadores (PT), sendo que 0,5% iria para o tesoureiro João Vaccari Neto, e os outros 0,5% para a "Casa" referência à diretoria de Engenharia e Serviços, comandada por Renato Duque e por seu braço-direito, o próprio Barusco.
O projeto de maior valor segundo as planilhas apresentadas pelo ex-gerente, foi fechado em 26 de fevereiro de 2010 para a aquisição de oito cascos do pré-sal. As anotações do delator apontam que os anos "mais produtivos" do esquema ocorreram em 2007 e 2008 (ainda no mandato do ex-presidente Lula), com 48 contratos firmados.
"A atuação do cartel na Petrobras já se dava há muito tempo, mas foi facilitada a partir de 2006 até 2011, em razão do grande volume de obras de maior porte, sendo que o critério técnico de seleção das empresas costumava sempre indicar as mesmas empresas do cartel e outras que eram ‘simpatizantes’, o que proporcionava as ações do cartel no sentido de dividir entre si as obras", diz Barusco em um dos trechos de sua delação. Em novembro, ao fechar o acordo, ele se comprometeu a devolver quase US$ 100 milhões (cerca de R$ 278 milhões).
Outro contrato
Um empreendimento da Repar que não foi citado nas planilhas de Pedro Barusco, mas que também estaria envolvido no pagamento de propina seria a obra da unidade de recuperação de enxofre, retificação de águas ácidas, tratamento de gás residual e das subestações, no ano de 2009. Conforme declarações de outros dois delatores e executivos da Toyo-Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e Júlio Gerin de Almeida Camargo, houve pagamentos de R$ 12 milhões em propina pelo consórcio CCPR-Repar, composto por Camargo Corrêa e Promo Engenharia. Segundo eles, a solicitação do pagamento de vantagem indevida teria ocorrido em nome de Renato Duque. Caso a informação se confirme, os valores da propina paga envolvendo as obras da Repar podem ultrapassar os R$ 100 milhões.
Nona fase
As planilhas montadas pelo ex-gerente da estatal, além de seu depoimento, serviram de base para a Polícia Federal (PF) desencadear a nona fase da Lava Jato, deflagrada na última quinta-feira. Além de Vaccari Neto, outros dez operadores do mercado ilegal de dinheiro que atuavam junto à Diretoria de Serviços da Petrobras, também foram ouvidos e são alvos dessa fase das investigações. Segundo os dados repassados por Barusco, três operadores diferentes atuaram na intermediação do pagamento de propina envolvendo as três obras da Repar. Em relação ao consórcio Engevix/Skanska, ele cita o "agente" Milton Pascovitch, e o contato seria Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix que está preso na carceragem da PF em Curitiba. No caso do consórcio Conpar (Odebrecht, UTC Engenharia e OAS), o operador foi Rogério Araújo, diretor da Odebrecht Plantas Industriais, que também seria o contato dentro da empreiteira. E no consórcio Interpar (Setal, Mendes Jr. e MPE), o agente designado para intermediar o suborno teria sido Mário Goes e os contatos nas empresas seriam os executivos Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da Toyo-Setal, e que firmou delação premiada; Alberto Elísio Vilaça Gomes, executivo da Mendes Jr.; e Carlos Maurício teria ligação com a Montagens e Projetos Especiais S/A. (MPE).
Respostas
Questionada sobre as acusações apresentadas por Barusco, a Odebrecht se manifestou ressaltando que "nega veementemente as alegações caluniosas feitas pelo réu confesso". A empresa completou que "nega em especial ter feito qualquer pagamento a qualquer executivo ou ex-executivo da Petrobras. A empresa não participa e nunca participou de nenhum tipo de cartel e reafirma que todos os contratos que mantém, há décadas, com a estatal, foram obtidos por meio de processos de seleção e concorrência que seguiram a legislação vigente", destacou.
A empreiteira OAS informou que prefere não se pronunciar neste momento, e que dará os devidos esclarecimentos à Justiça. A UTC Engenharia informou que não vai se manifestar sobre o assunto; e a Petrobras avisou, por meio de assessoria, que não vai se pronunciar sobre os contratos citados nas planilhas. As empresas MPE, Mendes Jr, Toyo-Setal, Engevix e Skanska foram procuradas mas não responderam aos telefones da reportagem.