A Comissão Nacional da Verdade apresentou nesta quinta-feira, 19, documento que revela a preocupação da ditadura brasileira de apressar uma parceria com o governo militar da Argentina, logo após o golpe no país vizinho, para monitorar o ex-presidente João Goulart e outros 93 brasileiros asilados ou possivelmente escondidos em território argentino. O documento foi produzido no começo de maio de 1976, menos de dois meses depois do movimento que derrubou a então presidente Isabel Perón.
Produzido pelo III Exército, com sede em Porto Alegre, o documento de caráter sigiloso ressalta que João Goulart poderia deixar a Argentina depois do golpe de 24 de março daquele ano. Os militares brasileiros escrevem que necessitavam de "obter através da cooperação das forças de segurança argentinas a confirmação das presenças" dos citados na lista. Eles escrevem ainda que pediriam aos argentinos fotografias recentes, documentos de identidade e cópias de depoimentos em casos de prisões.
O documento foi entregue à comissão por João Vicente Goulart, filho do ex-presidente. João Vicente observou que, tempos depois da produção do documento, um escritório do ex-presidente na Argentina foi invadido pela polícia local. Não há registro se o pedido foi formalizado aos argentinos nem uma resposta. João Vicente observou que o "subversivo" João Goulart, como o pai é citado no documento, não passava mais que duas noites numa mesma residência, com receio de ser vítima dos militares dos dois países.
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Rosa Cardoso, representante do grupo de trabalho da comissão que investiga as relações entre as ditaduras do Cone Sul, ressaltou que a cooperação entre o regime militar do Brasil e forças de repressão da Argentina já existia antes mesmo do golpe contra a presidente Isabel Perón. O documento entregue pelo filho de Goulart, segundo ela, reforça a tese de que a ditadura brasileira logo buscou formalizar uma cooperação com o novo governo argentino. "Já havia um contato com esse novo governo desde as primeiras horas", afirmou.