Em depoimento prestado ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o dono de uma revendedora de máquinas agrícolas de Londrina afirmou que o atual deputado Tiago Amaral (PSB), entre o final de 2011 e o início de 2012, quando ainda não havia sido eleito para a Assembleia Legislativa (AL) do Paraná, levou a auditores da Receita Estadual de Londrina R$ 33 mil como pagamento de propina. Mais do que isso, Tiago teria intermediado a negociação ilícita entre o empresário e os auditores.
Conforme o relato, feito aos promotor Jorge Fernando da Costa, em 6 de maio, o empresário procurou Tiago após não conseguir liberação de créditos tributários que chegariam perto de R$ 1 milhão. Seu então contador, embora frequentemente fosse à Receita, sempre obtinha respostas negativas. A Receita informava aos contadores que parte do crédito havia sido glosada ou consumida por multas e restava apenas um pequeno valor – cerca de R$ 20 mil.
Após diversas reuniões com os auditores, Tiago informou ao empresário que eles concordaram em liberar R$ 300 mil dos créditos, "mas estavam exigindo 10% do valor liberado", a título de propina.
Leia mais:
Um sucesso, diz médico de Lula sobre procedimento na cabeça para evitar novos sangramentos
Alep adiciona oito mil sugestões populares ao orçamento do Paraná
Previsto no Lote 4, Contorno Leste deve ficar para depois de 2030
CCJ da Câmara dos Deputados aprova impressão e recontagem de votos
O empresário disse que "Tiago mencionou Favoreto, Márcio e Paula como sendo as pessoas com quem teve contato na Receita". Seriam os ex-delegados de Londrina José Luiz Favoreto e Márcio de Albuquerque Lima e Ana Paula Pelizari Lima, mulher de Albuquerque. Os três são investigados nas primeira e segunda fase da operação Publicano. O empresário declarou "que concordou em efetuar o pagamento porque se sentiu constrangido e receoso de futuras retaliações e não liberação de outros créditos". O valor acertado foi de R$ 33 mil.
Na sequência, o empresário disse ao promotor que "pediu a Tiago para levar o dinheiro da propina" aos auditores e que "este não queria fazer isso em hipótese alguma, contudo, após insistência do declarante, acabou cedendo".
Para o empresário, o advogado "agiu de forma correta" porque o "comportamento de Tiago para com o declarante foi para ajudá-lo tão somente".
No depoimento, o revendedor de máquinas agrícolas relata ainda dois episódios de pagamento de propina para liberação de créditos tributários. Em 2011, pagou R$ 270 mil após receber R$ 2,7 milhões em créditos e, em 2014, a propina foi de aproximadamente R$ 320 mil para um crédito de R$ 4,5 milhões. Ou seja, entre 2011 e 2014, ele pagou R$ 623 mil em propina a auditores da Receita.
O advogado de Tiago, Guilherme Gonçalves, confirmou que o deputado, antes de eleger-se, prestava serviços como advogado tributarista e, de fato, tinha o revendedor de máquinas agrícolas como seu cliente, mas, negou, veementemente, que tenha intermediado negociações ilícitas ou levado propina a auditores. "Conversei com o deputado e ele manifestou total estranheza quanto a essas declarações", afirmou. "Ele jamais concordou ou entregou qualquer valor. Quem falou vai ter que provar."
O advogado considerou o depoimento "contraditório". Ele também mencionou que nem o empresário e tampouco o deputado foram alvos de medidas cautelares – como prisão preventiva ou busca e apreensão – nesta segunda fase da Publicano. De qualquer forma, deputados estaduais têm foro privilegiado no Tribunal de Justiça (TJ) para responder a investigações ou processos criminais. "Fiz uma consulta recente à Procuradoria de Justiça e o deputado não é investigado."
O nome de Tiago já havia sido ligado aos auditores porque sua campanha eleitoral de 2014 recebeu R$ 8 mil da Masterinvest, empresa de fachada do auditor Luiz Antonio de Souza, delator do esquema de cobrança de propina na Receita. Em depoimento ao Gaeco, em maio, Souza restringe-se a afirmar que Tiago intermediou acerto para liberação de créditos à empresa. Nada mencionou sobre a doação da Masterinvest para a campanha do deputado.