O cabo Luiz Antonio Jordão trabalha desde 1979 na Polícia Militar. Ele ficou 17 anos no setor de Inteligência (Bptran e Casa Militar) antes de ser transferido para a Divisão de Vôo em maio de 1999. Os casos de grampo no governo do Estado começaram a ganhar destaque da imprensa em outubro de 1999, quando a secretária de Estado da Administração, Maria Elisa Paciornik, suspeitou que o telefone do gabinete estava sendo grampeado. Ela pediu uma varredura e o grampo foi encontrado. Em novembro daquele ano, ela entregou a denúncia para a Procuradoria Geral da Justiça. Apenas em março deste ano, as investigações começaram a ser realizadas pela Polícia Civil.
Em abril, o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) recebeu uma denúncia de grampo na Ocidental Distribuidora de Petróleo e prendeu em flagrante o instalador da GVT, João Batista Cordeiro. Ele estava com mini-gravadores numa caixa de distribuição telefônica de Araucária. Ao ser ouvido em depoimento, Cordeiro disse que grampeou os telefones a pedido de funcionários da Casa Militar e do Palácio Iguaçu. Foram citados os nomes do cabo Luiz Antonio Jordão e o do soldado Afrânio de Sá.
Os dois policiais militares foram afastados no dia 5 de abril das atividades da Casa Militar. Jordão foi transferido para o 12º Batalhão da Polícia Militar e está em férias até o dia 24 de maio. Sá está no 17º Batalhão da Polícia Militar, realizando atividades operacionais. O técnico Gilberto Maria Gonçalves, acusado de controlar o serviço de telefonia do Palácio Iguaçu, foi exonerado do cargo no dia 9 de abril.
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O delegado Gerson Machado, responsável pelo inquérito que investiga grampos no Palácio Iguaçu, relacionou os dois casos de grampo. Ele suspeita que os autores do grampo da Ocidental sejam os mesmos do grampo encontrado no gabinete de Maria Elisa. Também estão sendo investigados no inquérito os técnicos da Telepar, Edgar Fontoura Filho e Jefferson Martins Stoner, diretores da Defense Assessoria e Consultoria, chamados sistematicamente para realização de varreduras em linhas telefônicas do Palácio Iguaçu.
Leia a seguir a entrevista exlusiva dada pelo cabo à Folha do Paraná:
Folha - Por que agora você resolveu falar e revelar parte do que sabe?
Jordão - Depois que aconteceu isto, que eu fui acusado, a minha vida mudou. Passei de herói, que sempre fui, para um bandido. Eu nunca fiz isto. Tudo o que eu fiz foi cumprindo determinações superiores, nunca fiz nada por minha conta, na minha vontade, dentro da Casa Militar ou no BPtran onde estive. Sempre foi a mando de alguém.
Folha - Inclusive grampos?
Jordão - Grampos eu nunca fiz. Pelo contrário. Sempre fui um que combati a espionagem eletrônica em telefones. A Casa Militar deve ter documentos - que foram preparados por mim - sobre problemas de grampos no governo.
Folha - Que tipo de problemas de grampos que você tinha conhecimento?
Jordão - Dos grampos que já existiam em outras secretarias.
Folha - E você informou a chefia?
Jordão - Informei para minha chefia imediata e para a Casa Militar. Os chefes do setor de Inteligência, todos eles tinham conhecimento disto. Do capitão Soares até o Coronel Vieira. Para hoje dizerem que eu grampeava...
Folha - Quem poderia estar querendo jogar toda esta responsabilidade na suas costas?
Jordão - É muito fácil dentro da Polícia Militar a corda arrebentar do lado mais fraco. E eu sou o lado mais fraco nesta história. Eu sei demais e é este o problema.
Folha - Sabe demais o quê?
Jordão - A Inteligência trabalha com todas as informações possíveis a respeito do governo. Eu sou uma caixa de surpresas dentro do governo.
Folha - Você chegou a sofrer algum tipo de ameaça?
Jordão - Nos últimos dois dias recebi duas ameaças.
Folha - De quem?
Jordão - Eu desconheço. Mas veio do telefone 350-2400. É o telefone do Palácio Iguaçu. Não consegui identificar a voz.
Folha - Onde entra sua participação no caso do grampo da Ocidental?
Jordão - Recebi a solicitação de um amigo para que pedisse uma varredura num determinado telefone. Fiz contato com o Jeferson Martins Stoner e com o Edgar Fontoura Filho para eles fazerem a varredura. Eles são da Telepar e tem a Defense. Nos primeiros dias acompanhei o serviço e depois não acompanhei mais.
Folha - E o grampo?
Jordão - Não tenho conhecimento. Ele só me levou um relatório dizendo que estava tudo bem e não havia problema algum na linha.
Folha - Qual era sua relação com o Jeferson?
Jordão - Através da Casa Militar, sempre solicitando varreduras. Quem me apresentou ele foi a Casa Militar. Eu não conhecia antes.
Folha - E o soldado Afrânio?
Jordão - Ele é meu amigo. Ele é que me pediu para fazer a varredura. Eu indiquei e deu o que deu.
Folha - Mas vocês confessaram o caso da Ocidental.
Jordão - Fomos obrigados a confessar. Contra força não há resistência. Primeiro na delegacia, toda a estrutura. Fui arrebatado na frente de meu filho de um ano e dois meses na frente da minha casa. Isto foi armado, porque o Gilberto me ligou e disse que tinha uma encomenda para me entregar na porta da minha casa.
Folha - O seu advogado deu declarações de que o coronel Vieira é irresponsável, corrupto e arbitrário. Você tem conhecimento de algo que possa desabonar a conduta do coronel?
Jordão - É contra o regulamento censurar atos de superiores. Neste caso, não posso falar nada. Superior é superior e se eu falar, posso ser preso.
Folha - Você chegou a ter algum problema com o coronel em campanhas políticas?
Jordão - O coronel Vieira sempre foi meu amigo. Frequentei a casa dele, ajudei ele muitas vezes (lágrimas), ele também me ajudou. Mas a Polícia Militar tem uma ala a favor dele e outra contra. Quando fui chamado para esta campanha, eu fui com dois profissionais que não eram da ala dele. Acabei sendo rotulado como ala anti-coronel Vieira. Talvez até minha saída da inteligência tenha ocorrido em função disto.
Folha - Ele mudou com você depois disto?
Jordão - Totalmente. Ele nem me cumprimentava no corredor. Aliás, ele nem me cumprimenta. Um certo dia eu fui chamado no gabinete do Dr. Gerson para tratar de assuntos que não posso falar porque o regulamento de salvaguarda de assuntos sigilosos não me permite. O coronel Vieira estava presente. Quando ele viu que nós iríamos nos encontrar no pátio, ele deu a volta. No ano passado, quando fui chamado para trabalhar na segurança do Cassio, ele me chamou e me humilhou. Chorei por duas horas.
Folha - Que tipo de humilhação?
Jordão - Ele disse que a Casa Militar era o coronel Vieira e não o cabo Jordão. O meu mérito profissional ninguém tira, nem mesmo ele. (lágrimas). Eu dei o primeiro lugar para ele no Curso Superior da Polícia. E hoje ele me acusa de grampeador. Tudo isto.
Folha - O que você quer dizer com "tirou o primeiro lugar para ele" na Escola de Polícia?
Jordão - Ele foi fazer o curso superior de polícia em Florianópolis, Santa Catarina. A monografia do trabalho que ele teve que apresentar fui eu que fiz, com a ajuda do soldado Benedito. A maior parte foi toda minha. Quando ele retornou e tinha tirado o primeiro lugar, ele falou "nós tiramos o primeiro lugar lá".
Folha - Você chegou a ter que assumir outras responsabilidades a mando do Vieira?
Jordão - Eu estava no BPtran na época. Era da inteligência. Tinha um carro à nossa disposição. Ele solicitou este veículo e acabou tendo o carro furtado. E eu assumi a bronca. Ele pediu e pela amizade, assumi. Não era verdade. Respondi um inquérito administrativo e o carro acabou sendo recuperado.
Folha - Você teme ser expulso da Polícia Militar?
Jordão - Sim. Nunca tive inimigos dentro da Polícia Militar, sempre tive amigos. Só que a partir do momento que a Casa Militar me mandou embora, todos me viraram as costas. Inclusive os amigos da Casa Militar. Estou sendo visto como o pior bandido da história e não sou. Abro minha conta bancária, abro mão de tudo. Vejam que eu não tenho nada.
Folha - O que você pretende fazer agora?
Jordão - Não sei, sinceramente não sei. Vou me apresentar dia 24 de maio e não sei o que minha vida vai ser.
Folha - O que te fez falar tudo isto agora. Você disse que vai preso, que tem medo. Por que dar a entrevista neste momento?
Jordão - Por que é a única garantia que eu tenho neste momento. Se eu não falar, daqui a pouco eu estou morto e ninguém sabe porque eu morri. Agora se eu morrer, todos sabem porque.