"Não adianta me perguntar de secretariado que eu não sei de nada." "Mas o senhor volta para a chefia da Casa Civil?" "Não sei, depende do governador." O nervoso diálogo do secretário demissionário Alceni Guerra com os jornalistas da área de política, na entrada da Tribunal de Contas, deu o tom de como foi o dia em Curitiba ontem. O governador Jaime Lerner (PFL) preferiu isolar-se em sua casa, no bairro Cabral, e indiretamente contribuiu para o começo de uma série de especulações sobre a formação de seu novo secretariado.
Lerner e a maioria de seus secretários, que seguiram o exemplo de Alceni na semana passada, não deram qualquer declaração a respeito das costuras políticas da nova equipe de governo. O silêncio em torno do assunto também atingiu a vice-governadora Emília Belinatti (PTB). "Acho que deve haver maior representação do interior, mas isso é uma opinião e não uma sugestão", afirmou a vice-governadora. Ela assegurou que nos últimos dias conversou apenas uma vez com o governador e que não foi consultada sobre indicações de secretários.
Ontem as especulações nos bastidores da política paranaense davam conta que o ex-ministro do Esporte e Turismo Rafael Greca iria assumir a secretaria da Comunicação Social. Em menos de um mês, Greca já esteve cotado para os Transportes e Desenvolvimento Urbano. O atual secretário da Fazenda, Giovani Gionédis, voltaria para a chefia da Casa Civil (cargo que ocupou ao final da primeira gestão de Lerner) em substituição a Alceni Guerra, que seria deslocado para uma nova secretaria, reunindo as pastas de Educação, Cultura, Esporte e Turismo.
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Duas coordenadorias - com status de secretarias - seriam especialmente criadas para acomodar os secretários do Planejamento, Miguel Salomão, e de Ciência e Tecnologia, Alex Beltrão. O ex-presidente do Banestado Reinhold Stephanes seria o escolhido para ocupar a secretaria da Fazenda, mas isso só ocorreria depois que o diretor geral da pasta, Nestor Bueno, assumisse o cargo durante a interinidade de alguns meses. A diretora da Fundação Teatro Guaíra, Mônica Rischibieter, poderia substituir Lúcia Camargo na Secretaria da Cultura.
O único consenso entre os secretários que pediram demissão é a afirmação de que Lerner "precisa ter liberdade" para formar sua nova equipe. "Cabe ao governador definir os cargos de confianças dele (os secretários) e de todos os cargos em comissão", argumentou o secretário da Segurança José Tavares. Ele disse que aceitaria continuar no cargo se Lerner assim desejar. Alceni Guerra disse que pode terminar "amanhã" (hoje) a definição do novo secretariado.
O secretário particular de Lerner, Guaraci Andrade, passou a manhã com o governador e garantiu que "vai sair da cabeça dele" a indicação dos novos secretários e também a diminuição ou fusão das atuais 29 secretarias de Estado. "Ele (Lerner) está muito consciente do que tem que ser feito", afirmou Guaraci.
As especulações sobre a formação do novo secretariado também repercutiram na Assembléia Legislativa. O presidente Nelson Justus (PTB) voltou a defender uma maior participação de políticos na equipe de Lerner. "É mais fácil um político trabalhar com um técnico ao seu lado, do que o contrário", argumentou. Justus considerou "deselegante" responder se aceitaria voltar para a Secretaria da Indústria e Comércio (cargo que ocupou na primeira gestão de Lerner). "Tenho dito aos assessores mais próximos do governador para que não me convidem porque não vou aceitar", garantiu.