O ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto contou em delação premiada que, logo após sua nomeação para o cargo, em 2011, foi obrigado a assinar uma carta de renúncia que poderia ser usada pelo seu padrinho político, o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quando quisesse.
A colaboração do ex-vice da Caixa foi um dos elementos que embasou a operação deflagrada nesta sexta-feira, 1, e que tem como alvo Lúcio Bolonha Funaro, apontado como o lobista que achacava empresas junto com Cunha.
Conforme o relato de fontes com acesso às investigações, o documento seria usado se Cleto não colaborasse com o esquema de corrupção no Fundo de Investimento do FGTS.
Leia mais:
Vereadores de Londrina rejeitam projeto de lei que autorizava troca de imóveis para sede da Codel e Ippul
STF retoma julgamento que pode punir redes sociais por conteúdos de usuários
Entenda o caminho do pacote de corte de gastos no Congresso
TikTok entra com recurso e adia decisão sobre obrigatoriedade de cadastro
O ex-vice da Caixa acusou Cunha e o agente do mercado financeiro Lúcio Funaro de receber suborno de empresas que captavam recursos do fundo. Ele admitiu que atuava para viabilizar os aportes, a pedido do deputado e de Funaro, que seria parceiro do peemedebista no esquema.
Nos depoimentos prestados à Procuradoria-Geral da República (PGR), Cleto afirmou que, dois dias após sua nomeação, em 2011, Funaro o fez assinar a carta. Assim, relatou, a qualquer momento ele poderia ser destituído do cargo, dependendo da vontade do delator.
Cleto já teria se comprometido diante dos procuradores a devolver cerca de R$ 5 milhões a título de multa. O valor corresponde à soma das propinas que ele recebeu numa conta na Suíça. De acordo com o delator, após deixar o Banco Itaú, ele montou seu próprio negócio: um fundo de investimentos.
À frente do empreendimento, conheceu Lúcio Bolonha Funaro. Apontado pela Polícia Federal como operador de Cunha, o agente financeiro convidou Cleto para ocupar uma sala em seu escritório, na capital paulista. Após aceitar a proposta, Cleto montou uma "mesa de operações financeiras" no escritório do novo amigo e, pouco tempo depois, foi apresentado por ele a Cunha.
Amizade feita, a relação comercial foi estabelecida em 2011, quando Funaro, via Eduardo Cunha, o indicou para o cargo na Caixa..
Propina
De acordo com Cleto, a relação com a empresas não era feita por ele. Ele contou que nunca pediu propina para ninguém, tarefa que cabia sempre a Cunha ou Funaro.
"Sabia pelo Eduardo Cunha o montante (da propina)", afirmou o delator, que se autointitula "um profissional de mercado". Segundo ele, o deputado lhe dizia que exigia comissões variáveis de até 1% do valor de cada projeto - 80% desse montante ficava com Eduardo Cunha. Cleto recebia quantias menores.