O dia seguinte à histórica ocupação do pátio da Assembleia Legislativa (AL) do Paraná, que impediu a votação do "pacotaço" fiscal do governador Beto Richa (PSDB), foi de tranquilidade. Do lado de dentro, profissionais contratados pela Casa faziam reparos nos portões e concluíam o trabalho de limpeza, em parte já feito pelos próprios manifestantes. Fora, educadores e integrantes de movimentos sociais seguiam acampados no gramado que dá acesso ao Palácio Iguaçu, sem data prevista para sair do local.
O governo do Estado agendou uma reunião com a direção da APP-Sindicato, que representa os professores, com o objetivo de discutir o fim da greve e a retomada das aulas. O encontro, marcado pelo chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra (PSD), porém, só ocorrerá depois do carnaval, na próxima quinta-feira, às 14h30. Por enquanto, os docentes dizem que a orientação é manter a mobilização até 23 de fevereiro, quando os deputados estaduais retomam os trabalhos. Anteontem, sem falar em prazos, o Executivo havia anunciado a retirada, para "reexame", das mensagens 06/2015 e 60/2015, que cortam gastos e arrocham direitos trabalhistas.
Em nota, a assessoria de imprensa da AL informou que a Casa seguirá fechada até o dia 18 e que, neste período, a direção fará um levantamento dos estragos provocados pela ocupação. Ontem, todos os servidores foram dispensados de suas atividades. Conforme o Legislativo, a mudança do local das sessões, do plenário para o restaurante, só ocorreu porque os manifestantes descumpriram o mandado de reintegração de posse.
Leia mais:
MP do TCU pede suspensão do salário de militares indiciados pela PF
Jair Bolsonaro pode pegar até 28 anos de prisão por tentativa de golpe
Golpismo pode levar Bolsonaro a 28 anos de prisão e a mais de 30 inelegível
Coordenador de equipe de Tiago Amaral fala em ‘portas abertas’ durante transição de governo
Logo após os docentes tomarem conta do pátio da AL, o presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB), e o líder do governo, Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), divergiram sobre de quem teria sido a decisão de votar as matérias nesta semana. Para o primeiro, cabe ao Executivo apresentar as pautas e ao Legislativo somente colocá-las em votação. Já o peemedebista assegura que a pressa foi fruto de uma orientação da Mesa Executiva. Romanelli também garantiu que não apresentará novos pedidos de comissão geral enquanto estiver na liderança do governo.
Mobilização
De acordo com a professora Marluza Andrade, de Curitiba, a retirada dos dois projetos de lei foi "uma batalha vencida de uma guerra que não terminou". "Nós vamos nos manter em greve. A ideia é fazer um esquema de revezamento, para que sempre alguém fique no acampamento e represente a nossa categoria." Desde que a paralisação começou, há cinco dias, os educadores têm contado com a colaboração de companheiros da capital, que oferecem suas casas para as pessoas tomarem banho e eventualmente descansarem.
Natural de Guarapuava, o professor Orlei de Jesus Lopes contou que pelo menos 17 pessoas vindas da cidade devem permanecer no acampamento durante o carnaval. "Vamos ficar intercalando. Daqui a dois dias, volta um ônibus, mas um novo grupo se organiza e vem." Um dos objetivos da mobilização, segundo ele, é esclarecer a comunidade sobre o movimento, o que inclui apontar quais são os deputados "inimigos da educação", isto é, os que votaram a favor do "tratoraço". Lopes relatou, ainda, que nos municípios do interior muitos docentes têm feito uma espécie de vigília em frente às casas dos parlamentares favoráveis ao pacotaço. "Algumas famílias dizem que estão incomodadas. Mas é esse o objetivo."