Inquérito da Polícia Federal (PF) em Londrina pode ser reaberto após a instalação da CPI dos Grampos na Assembléia Legislativa. A denúncia apresentada em novembro de 1996 pelo advogado do PSDB londrinense, Alexandre Hauly Camargo, indica que envolvidos no suposto esquema de escuta telefônica no Palácio Iguaçu estiveram em Londrina durante a campanha eleitoral de 1996, em que Antonio Belinati (sem partido) tornou-se prefeito pela terceira vez.
Segundo o advogado, o governo estadual enviou a Londrina diversos funcionários públicos para apoiar a campanha do prefeito cassado, marido da vice-governadora, e grande aliado político na época do próprio governador Jaime Lerner (PFL). Alexandre Hauly acrescenta que uma aeronave do governo estadual trouxe a Londrina diversos equipamentos utilizados em espionagem, semelhantes aos que constam na denúncia sobre escuta telefônica no Palácio Iguaçu.
Para o delegado da PF Sandro Roberto Viana dos Santos, o inquérito pode ser reaberto quando surgirem fatos novos na CPI: "Qualquer novo elemento que contribua para a investigação daquele inquérito pode determinar sua reabertura imediata". O inquérito foi arquivado em março de 1999 pela juíza eleitoral Lídia Maejima, que alegou a inexistência de provas para punir os culpados por supostos crimes eleitorais.
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Três dos principais envolvidos no escândalo dos grampos telefônicos estiveram em Londrina naquela campanha eleitoral: o secretário chefe do gabinete do governador Gerson Guelmann; o chefe da Casa Militar do Palácio Iguaçu Coronel Luis Antônio Borges Vieira; e o técnico em telefonia Gilberto Maria Gonçalves.
Borges Vieira prestou depoimento em novembro de 1997 na sede da Superintendência Regional do Departamento da PF em Curitiba, mas negou que tenha vindo naquela época a Londrina para participar da campanha de Belinati. Segundo Borges Vieira, "os deslocamentos de aeronaves pertencentes ou fretadas ao governo do estado para a cidade de Londrina são normais, já que a vice-governadora reside nesta cidade".
Guelmann prestou depoimento no mesmo dia que Borges e confirmou ter participado da campanha de Belinati em Londrina. O secretário chefe do gabinte do governador negou a utilização de funcionários públicos por parte do Estado para integrar a campanha eleitoral. Guelmann disse que integrou o comitê de Belinati no período de 25 de outubro e 15 de novembro de 1996, época em que estava licenciado de seu cargo. Segundo a denúncia do PSDB londrinense, Guelmann, mesmo licenciado, recebeu neste período do governo a Contribuição do Fundo de Pensão, o que configuraria ato inconstitucional.
No inquérito aberto pela PF, consta o cadastro de diversos membros da Casa Militar do Palácio Iguaçu e do técnico em telefonia Gilberto Gonçalves em um hotel da cidade. Gonçalves justifica no cadastro que viajava a serviço da empresa Movimento Corações Curitibanos. Gonçalves nunca foi ouvido pela PF neste inquérito.