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Balanço

Kireeff diz ter criado 'condições estruturantes' para a cidade

Loriane Comeli e Nelson Bortolin - Grupo Folha
31 dez 2016 às 13:03

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Após quatro anos à frente da Prefeitura de Londrina, sem sobressaltos políticos ou denúncias de conchavos ou corrupção, Alexandre Kireeff (PSD) acredita que será lembrado como "um prefeito honesto, trabalhador, dedicado, que se atentou aos aspectos mais estruturantes da cidade". A declaração foi feita durante entrevista à FOLHA, na quinta-feira (29), penúltimo dia de efetivo exercício do mandato, enquanto esvaziava gavetas e armários.

Ao futuro prefeito, Marcelo Belinati (PP), Kireeff prevê um ano de dificuldades especialmente em razão da crise nacional. A solenidade de transferência de cargo acontece neste domingo (01), a partir das 18 horas na Câmara Municipal e na Prefeitura. "Eu torço para que o sucessor supere, mas ele também vai ter dificuldade; a dificuldade que estou tendo aqui vai continuar a existir em 2017. Não adianta olhar só para dentro de Londrina. Tem de olhar o cenário como um todo."

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Mesmo assim, perguntando sobre a necessidade de revisão da Planta Genérica de Valores (PGV) para o cálculo do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), ele não acredita que o cenário nacional permita aumentar impostos em 2017. "A crise a gente tem de enfrentar com cortes de gastos, busca de eficiência e não com aumento de impostos. O desafio da gestão não pode ser pautado pelo aumento de tributos."

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Em 2014, seu segundo ano de mandato, Kireeff enviou e defendeu arduamente a revisão da PGV. Entretanto, após sucessivos pareceres contrários e justificando a crise econômica que dificultaria o pagamento de mais tributos, pediu o arquivamento do projeto, que poderia resultar no incremento de até R$ 80 milhões. A última revisão da planta ocorreu em 2001.

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À FOLHA, disse ter sido pressionado a apresentar o projeto. "Vou ser sincero: nunca quis votar a planta de valores. Na verdade, existia um movimento interno que me pressionou bastante. A planta que eu queria apresentar gerava resultado zero para o município. Eles (técnicos) não conseguiram construir uma planta neste sentido. Sempre tinha um superávit de R$ 30 milhões. Esse foi o menor que conseguimos fechar. E não fazia parte da minha agenda pessoal, mas de uma agenda interna."


Ruralista, militante na área do agronegócio e oriundo de rica e tradicional família de Londrina, Kireeff acabou fazendo um governo "mais à esquerda", evitando privatizações, efetuando contratações sobretudo nas áreas de saúde e educação e concedendo passe livre irrestritamente a todos os estudantes de Londrina, independentemente do grau ou da condição financeira.

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"A nossa Constituição é de centro-esquerda. Eu sou um legalista. Quem fala que é liberal, que vai... Não vai nada. Tem de universalizar os serviços de saúde e de educação e você tem de conviver com os conselhos municipais que têm suas agendas que determinam as diretrizes das políticas públicas locais e, majoritariamente, leva a um direcionamento para uma política de centro-esquerda. Não tem muito que inventar moda", declarou. "Essa discussão de direita e esquerda está um pouco saturada. Acho que sou contemporâneo, sou realista."


Foi nesse contexto que Kireeff falou sobre o passe livre. Defendeu que os gastos nesse setor não prejudicam outros e que as políticas públicas devem ter caráter universal. "Toda política pública tem de ser universal. Se você partir do princípio que deve segregar grupos econômicos numa política pública de mobilidade urbana ou de acesso à educação você teria de aplicar esse mesmo critério para uma UPA ou escola pública. Não tem como separar. Se é uma política pública, precisa ser de acesso a quem necessitar dela ou optar por ela."

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Ao tratar sobre as realizações de seu governo, Kireeff especificou algumas obras e medidas: "Entregamos duas UPAs, cinco postos de saúde. Contratamos mais de mil profissionais na saúde, melhoramos o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), contratamos mais de mil professores, recuperamos a infraestrutura geral do Município. O parque de máquinas está recuperado. Recuperamos o prédio da Prefeitura. Implementamos a cultura da manutenção permanente dos prédios públicos. Mas a principal característica é de trabalhar de forma transparente e honesta. E seguindo uma agenda estruturante."


Entretanto, ao ser questionado sobre o que deixou de ser feito, Kireeff respondeu genericamente: "Muitas coisas". Não pontuou qualquer delas. Um dos projetos que foi atropelado pelo tempo foi o ousado Lixo Zero, que previa aproveitamento total do lixo, reciclando e compostando todos os detritos produzidos na cidade. Porém, quatro anos depois, a coleta do lixo continua sendo feita exatamente da mesma forma. Ao anunciar o Lixo Zero, estimava-se o valor de R$ 100 milhões.

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"É que é um projeto de maturação de longo prazo. E precisava da solução financeira que está vinculada à contratualização com a Sanepar. Esses recursos que recebemos do fundo de saneamento podem e devem ser destinados também à gestão de resíduos sólidos. E essa é a solução econômica, que era a última etapa que precisava ser superada", justificou Kireeff.


A mesma justificativa o prefeito utilizou para outro grande projeto de sua administração, o Superbus, que foi parcialmente executado. "É que realmente as soluções mais complexas são de solução mais longa. A decisão evidentemente é do próximo gestor, como o Superbus. São projetos que vão além de um mandato. A expectativa é que seja dada continuidade."

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Também no papel ficou a criação Agência Municipal de Regulação de Serviços Públicos de Londrina (Arselon), que importaria na reforma administrativa da Companhia de Trânsito e Urbanização (CMTU), a qual permaneceria apenas com as incumbências de trânsito e transporte. "Eu mandei para a Câmara o projeto para criar a Arselon, mas aumentava os gastos do Município."


Questionado sobre o principal "pepino" da próxima administração, Kireeff prontamente respondeu: "A Sercomtel." A companhia telefônica acumulava prejuízo e precisou de aportes. Nos últimos dois exercícios, fechou com lucro. Porém, a competitividade do setor faz com que o equilíbrio seja tênue. "Ela fez dois anos de lucro. Mas é um local que requer muita atenção. Não é para amador. Tivemos a felicidade de ter gestores muito eficientes. Na minha avaliação é um local que requer a maior atenção." Disse, ainda, que não vislumbra qualquer situação, no momento, que possa implicar a necessidade de venda da Sercomtel.

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Para o prefeito, a situação da Caixa de Assistência, Aposentadoria e Pensões (Caapsml) não é preocupante e ele acredita, contrariando o que o superintendente da autarquia diz, que não serão necessários aportes do município em 2018. A situação financeira é estável, afirma, mas, é preciso implantar medidas atuariais. "A próxima medida é fazer um parcelamento desse potencial deficit atuarial em 35 anos. Mas só pode ser feita após a reforma previdenciária."


Sobre a relação com a Câmara, Kireeff a classificou como "ótima". "Nunca ninguém me chantageou. Era o que se falava. Que eu seria vítima disso porque não tinha nenhum vereador eleito. E pelo contrário. Conseguimos administrar a Prefeitura. Só um projeto nosso que não foi aprovado", contabilizou.


Tendo se recusado a disputar a reeleição, por "não ter um projeto de poder", Kireeff não se sente responsável por não ter feito um sucessor, elegendo o candidato que apoiou, o tucano Valter Orsi. "Meu projeto era de governo de quatro anos. Não tenho ambição de construir uma oligarquia, fazer um grande grupo de poder e de ocupação de espaços e de cargos." O prefeito ainda respondeu sobre seu futuro político. Disse que vai pensar sobre eventual candidatura em 2018. "Muita gente veio conversar comigo e eu realmente vou avaliar."


Desenvolvimento econômico

Para o desenvolvimento econômico da cidade, Kireeff disse que seu legado é a aprovação dos projetos finais do Plano Diretor – a Lei de Uso e Ocupação do Solo (zoneamento urbano) e a Lei do Sistema Viário, criando um marco regulatório para a industrialização, e condições estruturantes para o setor. "Londrina ficou mais amigável para instalação de indústrias." Como "condições estruturantes", citou, ainda, o gasoduto na zona oeste, a extensão da Avenida Saul Elkind até Ibiporã e Cambé, o parque industrial que está sendo construído na região norte (Cilon), acesso da PR-445 ao pool de combustível e finalização das desapropriações do aeroporto. "E incluo também a duplicação da Avenida Angelina Rice Vezozzo (zona norte) que passa do lado do Lote 70, onde já têm indústrias em construção. Essas medidas garantirão o desenvolvimento econômico."


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