O delegado Armando Marques Garcia, da delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, deve ser afastado ainda hoje do inquérito sobre a carga de jornais com críticas ao governador Jaime Lerner (PFL) e a subordinados do primeiro escalão. A confirmação foi feita ontem à noite pelo delegado-chefe da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, que justificou a medida afirmando que Garcia fez uma interpretação errada para liberar os exemplares, na sexta-feira. Ribeiro afirmou que ele invocou a Lei de Imprensa, mas deveria ter recorrido ao Código Penal.
O governador Jaime Lerner (PFL) pode pedir a cassação dos mandatos dos parlamentares que estiveram na Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas na sexta-feira passada, por falta de decoro parlamentar. O governo avalia que os deputados e vereadores podem ter pressionado o delegado Armando Marques Garcia para liberar uma carga de jornais com críticas a Lerner e subordinados do primeiro escalão. O delegado afirmou que não sofreu contragimento por parte dos deputados. Lerner requereu ontem ao delegado a lista com os nomes dos parlamentares. Os deputados alegam que não foram fazer pressão e condenaram a atitude do governador.
Os jornais, que pertencem ao Fórum de Luta por Trabalho, Terra, Cidadania e Soberania, pedem o impeachment de Lerner e estavam apreendidos na delegacia desde quarta-feira. O advogado de Lerner, José Cid Campêlo, diz que os deputados constrangeram o delegado a liberar a carga. No documento enviado pelo advogado à delegacia, consta que "constrangimento constitui crime podendo ser causa, além de punição penal, a falta de decoro parlamentar".
Leia mais:
Moraes diz que 8/1 demonstrou falência de autorregulação das plataformas
STF marca julgamento de ação de Bolsonaro para tirar trama golpista da relatoria de Moraes
Vereadores de Londrina rejeitam projeto de lei que autorizava troca de imóveis para sede da Codel e Ippul
STF retoma julgamento que pode punir redes sociais por conteúdos de usuários
Estiveram presentes os deputados estaduais Tony Garcia (PPB), Ângelo Vanhoni (PT) e Algaci Túlio (PTB), o deputado federal petista Florisvaldo Fier (o Doutor Rosinha), além dos vereadores Natálio Stica (PT), Jorge Samek (PT), Paulo Salamuni (PMDB) e Adenival Gomes (PT). Garcia disse que o episódio "reflete a truculência" do governo. Vanhoni afirmou que o objetivo não foi intimidar o delegado. "Temos respeito pela Polícia. O governo perdeu o senso de realidade e de ridículo", revidou.
Para o presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão (PTB), o governador "está mal orientado e mal assessorado". A avaliação de Túlio é a mesma. "A assessoria do governador está perdida. Foi atacada pelo vírus da incompetência jurídica". Túlio disse que "não tinha nada de ilegal na presença dos parlamentares". "Esse é o papel do político. Pode errar mas não pode se omitir", resumiu. O líder da oposição, Waldyr Pugliesi (PMDB) saiu em defesa dos deputados. "Este governo vai entrar no livro Guiness do ridículo. é mais um recorde". "É uma coisa disparatada, existe um desgoverno". O vereador Stica classificou a atitude de Lerner como "absurdo" e "desespero".
O senador Roberto Requião (PMDB) também engrossou o coro de críticas a Lerner e afirma que o delegado Armando Marques Garcia foi ameaçado de demissão. Ontem Requião encaminhou uma carta ao delegado-geral da Polícia Civil no Paraná, Leonyl Ribeiro, recomendando que ele mantenha Garcia no cargo. Caso o delegado seja afastado, Requião garante que vai encaminhar o caso ao Senado.
A direção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Paraná decidiu entrar na Justiça contra a liminar concedida ao governador, que tirou de circulação o jornal editado pela entidade, integrante do Fórum de Lutas. O material foi apreendido pela segunda vez na sexta-feira, pouco depois da liberação. A carga foi apreendida em Curitiba, antes do início da distribuição.
Cerca de 30 mil dos 100 mil exemplares da publicação estão sob responsabilidade de um fiel depositário. A Justiça também determinou uma multa diária de R$ 4 mil para a CUT caso o jornal seja distribuído. De acordo com o presidente da CUT no Estado, Roberto Von Der Osten, a direção do Fórum se reúne hoje para discutir as próximas ações.
O jornal seria distribuído em todo o Estado antes do dia 11 de junho, quando acontece a marcha popular contra a privatização da Copel, na Capital. Lideranças do Fórum Popular Contra a Venda da Copel esperam reunir 10 mil pessoas em uma passeata que terminará na Assembléia Legislativa, para protocolar o projeto de lei de iniciativa popular que proíbe o Estado de vender a estatal de energia.