É uma cena que tem se tornado cada vez mais comum na campanha e seria impensável em eleições anteriores: Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do Partido dos Trabalhadores, cercado por empresários engravatados, com adesivos colados à roupa, implorando uma foto como recordação - ao lado do seu novo ídolo político.
Esse clima podia ser observado mais uma vez na madrugada de sexta-feira, numa churrascaria superlotada da Barra da Tijuca, onde mais de 700 empresários, alguns com suas famílias, foram recepcionar o candidato. Na blusa de algumas mulheres, a estrela do PT bordada com lantejoulas. A platéia estava ali para ouvir o discurso apontando rumos para a economia brasileira. E é justamente nesse ponto, usando a palavra, que Lula tem atraído a simpatia de gente que sempre o rejeitou.
Nada é aleatório. Quem ouve as propostas do candidato nota logo um cuidadoso trabalho de assessoria. Lula já decorou estatísticas e projeções que que costuma expor com desenvoltura.
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Sua fala tem um eixo principal: o Brasil precisa retomar o seu desenvolvimento e não pode continuar produzindo sobretudo matérias primas para serem exportadas a preço vil e depois beneficiadas por outros países.
Outro apelo para sensibilizar o empresariado é a alegada boa aceitação da experiência administrativa do PT nos cinco Estados e 188 cidades que vem governando. Apesar de algumas exceções - diz a cartilha de Lula - são administrações marcadas pela seriedade e honestidade, facilitando o relacionamento com empresários muitas vezes assediados por pressões não muito éticas da ''política tradicional''.
''O PT e o Lula têm apresentado um programa estratégico marcado pelo fortalecimento do mercado interno. Quero cada vez mais gente ganhando melhores salários para que possa comprar meus produtos'', exemplifica o empresário fluminense Arthur Medina, da área de equipamentos de informática. Ele relembra que, no setor, ainda dependente das importações, os tempos do dólar equiparado ao real estimulavam o negócio. ''É por isso que aplaudo o Lula, quando pede o fortalecimento da tecnologia nacional, para ajudar a substituir as importações''.
O cientista político Zairo Cheibub observa que o e empresariado não é um bloco só e sobretudo os pequenos e médios empreendedores vêem com simpatia o cenário pintado por Lula: ''Estrategicamente, o candidato está no caminho certo, porque atrai novos eleitores, sem perder os antigos. Creio que o impacto causado pelas alianças que o PT decidiu fazer já foram absorvidas, praticamente sem danos eleitorais'', observa Cheibub, que é professor da Universidade Federal Fluminense.
Outro fator que explica o aparente êxito da incursão de Lula - observa Cheibub - é o cuidado em esclarecer que não quer a volta da inflação. Quando fala aos empresários, Lula gosta de pinçar situações objetivas: cita, por exemplo, que o Brasil está obtendo a sua maior safra de café, enquanto o preço para exportação baixou muito. O que não se entende, diz ele, ''é que a Alemanha e não o Brasil seja o maior produtor de café solúvel do mundo''.
Na palestra para os empresários da Barra, provocou risos quando contou o caso de uma empresa que vendia uniformes para o Exército: ''Só que tudo era fabricado na China''.
A promoter Nely Habib, se diz bem impressionada com o candidato: ''As idéias que apresenta para enfrentar os problemas são convincentes''.
Empresário da área de alimentos, Modesto Lopes _ que também foi ver Lula na Barraria - além de achar o discurso ''coerente para uma época de economia globalizada'', destaca o que considera uma qualidade do candidato: ''Ele transmite autenticidade. Não parece aqueles políticos demagogos que fazem promessa só para conquistar votos.''