A definição das alianças para a disputa do pleito de outubro no Paraná criou algumas situações inusitadas. E se engana quem pensa que o palanque duplo para Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB), apoiados tanto por Gleisi Hoffmann (PT) como por Roberto Requião (PMDB), seja a principal delas. Se por um lado a candidatura do senador é vista com bons olhos pelo Palácio do Planalto, sobretudo por dificultar a reeleição do governador Beto Richa (PSDB), por outro há casos de apoios que contrariam as executivas nacionais ou até mesmo de coligações cujos candidatos possuem bandeiras frontalmente opostas.
O PPS, por exemplo, que nacionalmente se coligou a Eduardo Campos (PSB), no Paraná irá de Aécio Neves (PSDB). A interlocutores, o deputado federal Rubens Bueno (PPS), presidente da sigla no Estado, disse que pesou o fato de Campos ter se juntado a Beto, mesmo antes de o PPS ter abdicado da candidatura própria. Em convenção que avançou até as 23 horas de anteontem, Bueno retirou seu nome da disputa ao Palácio Iguaçu para, em suas palavras, não "beneficiar o pior", numa clara referência a Gleisi e Requião, seus adversários políticos.
Já o PSB seguirá ao lado do governador, dando continuidade à aliança que vem desde os tempos em que o filho de José Richa era o prefeito de Curitiba, com Luciano Ducci (PSB) como vice. Apesar da proximidade com os tucanos paranaenses, para a presidência a sigla estadual não vai abdicar de defender a candidatura de Eduardo Campos.
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Ao PSB do Paraná cabe mais uma incongruência: o ex-tucano e conselheiro aposentado do Tribunal de Contas (TC) Hermas Brandão (PSB) será o coordenador da campanha de Requião. Em função do racha, seu filho, o deputado estadual Hermas Brandão Jr. (PSB), desistiu de concorrer à reeleição.
O PP e o Pros, ambos apoiadores de Dilma, também decidiram engrossar a longa lista de aliados tucanos no Estado. E pode-se dizer que em grande estilo, já que Cida Borghetti (Pros), mulher do ex-secretário de Indústria e Comércio Ricardo Barros (PP), será vice de Beto. A parlamentar, aliás, dias antes do anúncio, publicou em sua conta no Instagram uma foto ao lado da presidente Dilma, tirada durante a convenção nacional do Pros.
O exemplo mais emblemático, contudo, talvez seja o acordo do PRB, partido de base evangélica, com o PT, o PCdoB e o PDT. Como será válida para as proporcionais, a coligação colocará do mesmo lado o militante LGBT (sigla que se refere a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) Toni Reis (PCdoB), ferrenho defensor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, e o pastor Edson Praczyk (PRB), para quem "a prática da homossexualidade (não o gay em si, pondera) é uma afronta à natureza". Ambos serão candidatos à Assembleia Legislativa (AL).
Conforme as regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo sistema atual o cálculo das cadeiras é feito como se as coligações fossem um único partido. Assim, primeiro é definido o número de vagas e, depois, quem irá ocupá-las, seguindo a ordem dos mais votados. Ou seja, um ativista do movimento gay, simpático a Reis, pode ajudar a eleger o pastor da Igreja Universal.
Para os agora aliados, contudo, a situação não representa uma incoerência. Ambos estimam que, sozinhos, não conseguiriam se eleger. "A divergência é comum, faz parte da democracia. E estamos dispostos a fazer esse debate de ideias. Como disse Voltaire, sem concordar com o que dizes, defendo a sua discordância", afirmou Praczyk. "Todo mundo sabe que estou há 30 anos no movimento LGBT e vou continuar defendendo as minhas bandeiras. Na política há visões diferentes e, em dados momentos, se não houver um consenso, vamos votar separados", completou Reis.