Dos 35 vereadores de Curitiba, pelo menos 13 têm parentes trabalhando em seus gabinetes na Câmara Municipal, segundo levantamento feito pela Folha junto a fontes dos próprios gabinetes. Alguns não levam o mesmo sobrenome, mas têm algum tipo de parentesco. Os cargos em comissão são de livre escolha e a nomeação de parentes é legal.
O nepotismo na Câmara Municipal de Curitiba pode ser comprovado pelo Diário Oficial do município, número oito, do último dia 25 de janeiro, que traz as nomeações para os cargos em comissão nos gabinetes. Dos 13 casos levantados, em 12 gabinetes o sobrenome dos assessores parlamentares nomeados e dos vereadores é o mesmo.
Os salários pagos variam entre R$ 250,00 a R$ 4,5 mil. Os valores dos vencimentos foram publicados no Diário Oficial número sete, do dia 23 de janeiro. O gabinete de cada vereador pode contar com um mínimo de quatro e máximo de 10 cargos de provimento em comissão- que são de livre nomeação e exoneração.
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Os críticos ao nepotismo não gostam de falar abertamente sobre o assunto. "É um método de contratação muito discutível. O vereador, ao nomear parentes mais próximos, indiretamente está encontrando uma forma de incrementar o orçamento da família. E o contribuinte é quem paga isso", argumenta uma fonte que prefere não se identificar.
Outro ponto que pesa, ainda segundo os críticos do nepotismo, é que, ao no nomear parentes para cargos em comissão, o que se estabelece no poder público é uma extensão da ligação familiar e não uma relação mais profissional como seria o indicado na avaliação dessa corrente. "O vereador vai controlar o horário do pai como se o mesmo fosse qualquer funcionário?", questiona outra fonte ouvida pela Folha.
O presidente da Câmara, vereador João Cláudio Derosso (PFL), não vê problema algum na prática do nepotismo, desde que os parentes nomeados pelos colegas cumpram o expediente à risca. Derosso admite que o nepotismo na Câmara "não é de hoje". E não sinaliza qualquer disposição em interferir no processo de escolha das pessoas.
Os vereadores que mantêm parentes nos gabinetes alegam que o que importa é a qualificação e a confiança. Jorge Bernardi (PDT), conta que tem dois primos e a mulher trabalhando como assistentes parlamentares. O vereador, que está no quinto mandato, afirma que o que pesa na escolha é a competência. "Eles me assessoram em sociologia, biologia, turismo, entre outras diversas áreas nas quais preciso de apoio."
Bernardi diz que nomeou nove assessores. Entre eles, estão Wanderley José Bernardi, Maria Elizabete Lopes Bernardi e Amarildo Antonio Bernardi. "Eu tenho uma verba de R$ 14 mil brutos. E posso nomear até dez pessoas. Nomeei um a menos." Os nove nomeados do vereador têm salários entre R$ 750,00 e R$ 3 mil.
O vereador Elias Vidal (PSDB) tem um filho que trabalha como assistente parlamentar, Ednilson Vidal. "Ele é formado e trabalhou engajado na minha campanha. É uma pessoa em quem tenho plena confiança", argumenta Vidal. "Temos que contratar as pessoas que sabemos que realmente trabalham", emenda o vereador.
Paulo Frote (PSC) disse que a mulher, Rosmari, é seu braço direito no gabinete. "É uma das pessoas que mais trabalham por aqui." O vereador lança mão do mesmo argumento dos colegas e afirma que a mulher é uma pessoa em quem ele pode confiar plenamente. "É difícil encontrar funcionários qualificados e de confiança, seja para trabalhar numa empresa privada ou na Câmara", justifica.
Paulo Salamuni (PMDB) compartilha da mesma opinião. A mãe, Hôda, é assistente parlamentar em seu gabinete. "Ela é professora aposentada, fala dois idiomas e já foi diretora de escola. Tenho total confiança nela", afirmou. Salamuni disse que a sociedade deveria discutir de forma franca o nepotismo. "No caso de cargos de comissão, que não são vitalícios, não há problemas. E o que pesa é a qualificação."
Julieta Reis (PFL) tem o filho, Rodrigo, lotado em seu gabinete. "Ele me acompanha desde a campanha e ajuda muito, principalmente na parte gráfica, porque tem muito talento. Além disso, durante a campanha eleitoral a gente mexe sempre com orçamento, e precisa de alguém da maior confiança" , argumenta a vereadora.
A pefelista acredita que o número de parentes por gabinete poderia ser limitado. "Mas proibir (o nepotismo) seria burrice, porque no final das contas, estaria prejudicando a pessoa só porque ela tem um parente, sem considerar a sua competência", comenta. Julieta Reis está iniciando seu segundo mandato.
Antonio Bueno (PSL) nomeou a irmã Michelle. "Acho errado colocar só parentes. Mas se empregar em casos isolados, as pessoas que tenham experiência política e profissional, não há impedimento". "E todos têm que cumprir horário", entende.
De acordo com o Diário Oficial do Município, têm parentes ou assessores com o mesmo sobrenome ainda os vereadores Ailton Araújo (PFL), Aldemir Manfron (PTB), Angelo Batista (PDT), Arlete Caramês (PPB), Celso Torquato (PMDB), Jair Cezar de Oliveira (PTB) e Valdemir Manoel Soares (PPB).