A propaganda para a próxima eleição municipal, em outubro, começa nesta terça-feira em meio à incerteza sobre a participação da presidente Dilma Rousseff na campanha.
Presidente mais bem avaliada em início de mandato desde o fim da ditadura – segundo pesquisa do Datafolha, ela é aprovada por 62% da população –, Dilma não tem sinalizado a intenção de usar sua popularidade para alavancar candidaturas Brasil afora.
Ademais, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, alguns fatores tendem a limitar o poder da presidente na próxima eleição: ela deve se manter distante de disputas em cidades onde o PT concorrerá com partidos da base aliada do governo federal; e pleitos municipais costumam seguir lógicas locais, nem sempre sujeitas à influência presidencial.
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Nesta terça-feira, começam a ser veiculadas no rádio e na TV as propostas de candidatos a vereador, que ainda ocuparão as quintas e os sábados. A propaganda de postulantes a prefeito terá início na quarta-feira e ocorrerá também nas segundas e sextas.
Atuação discreta
Para Ricardo Ismael, professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, Dilma tem tido atuação discreta quanto à eleição. Segundo ele, uma maior participação da presidente depende dos desdobramentos das greves dos servidores federais. Caso os protestos não arrefeçam, diz o professor, Dilma corre o risco de topar com manifestantes em palanques pelo país, constrangimento que evitará, ele aposta.
Além disso, Ismael afirma que a presidente tem mostrado que sua prioridade no segundo semestre é garantir que o país retome o crescimento econômico.
Na semana passada, Dilma lançou a primeira parte de um pacote econômico que visa baixar os custos de produzir no Brasil e estimular investimentos.
O plano anunciado inclui a privatização de grande parte das rodovias e ferrovias brasileiras. O lançamento das ações restantes, previsto para as próximas semanas, ainda depende de ajustes e discussões que têm ocupado boa parte da rotina de Dilma no Planalto.
Nas próximas fases, devem ser anunciados benefícios para a indústria e novas privatizações, desta vez de portos e aeroportos.
Segundo o professor, mesmo que Dilma se empenhe na campanha, seu poder de influenciar os resultados da eleição é incerto.
"A eleição municipal é sempre voltada a assuntos locais, às avaliações dos prefeitos. Fatores nacionais não vão determinar a eleição de um prefeito ou de outro", diz ele.
"Tentativas de nacionalizar a campanha, de fazer um terceiro turno da eleição de 2010, são sempre difíceis, porque há outros ingredientes historicamente mais fortes nas eleições municipais."
Siglas aliadas
Para Maria do Socorro Souza Braga, professora de ciências políticas da Universidade de São Paulo (USP), Dilma deve evitar participar de campanhas onde candidatos do PT disputam com filiados de outros partidos da coalizão governista.
A estratégia, diz ela, visa prevenir novos desgastes na relação já conturbada que ela mantém com algumas siglas aliadas.
A eleição municipal, aliás, já tem gerado tensões entre o PT e o PSB, um dos maiores partidos da base governista. A animosidade surgiu em Recife, quando o governador pernambucano e presidente do PSB, Eduardo Campos, decidiu lançar um candidato próprio à eleição – o ex-secretário estadual Geraldo Júlio.
O PT, por sua vez, concorrerá na cidade com o senador Humberto Costa.
Em Belo Horizonte, os dois partidos também se desentenderam e desfizeram a aliança em torno do pessebista Marcio Lacerda, que concorrerá à reeleição apoiado pelo PSDB de Aécio Neves. O candidato petista na capital mineira será Patrus Ananias.
Em São Paulo, a disputa eleitoral oporá, ao menos no primeiro turno, o PT e seu principal aliado, o PMDB. Lançado à corrida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, do PT, disputará votos com o peemedebista Gabriel Chalita.
A situação deve impedir, segundo Braga, que Dilma atue incisivamente na campanha paulistana no primeiro turno, abrindo espaço para Lula.
O ex-presidente, diz ela, é um cabo eleitoral muito influente entre os mais pobres, embora em São Paulo os governadores venham exercendo maior influência nas últimas eleições.
No governo do Estado desde 1995, o PSDB também tem comandado a prefeitura desde 2005 (a exceção, o atual prefeito Gilberto Kassab, do PSD, era vice-prefeito do tucano José Serra, novamente candidato).
Eleições de 2014
Segundo Braga, embora fatores locais costumem definir as eleições municipais, seus resultados terão muita importância para as próximas disputas aos governos estaduais e à Presidência, em 2014.
Ela diz, por exemplo, que os resultados poderão indicar qual partido será vice na chapa da provável candidatura de Dilma à reeleição.
Para Ricardo Ismael, da PUC-Rio, o pleito também influenciará a estratégia da oposição para a disputa presidencial.
Ele diz que o senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB à Presidência no próximo pleito, tem se esforçado para que o partido tenha bom desempenho nos municípios maiores, com vistas a apoios em 2014.
Segundo a Folha de S.Paulo, o senador gravou mensagens para as campanhas de candidatos em 192 cidades com mais de 200 mil eleitores.