Em alegações finais, o Ministério Público (MP) reafirmou as acusações feitas em processo que tramita na 3ª Vara Criminal de Londrina de suposta fraude na contratação da oficina Providence, de Cambé, para prestar serviços mecânicos à frota do Estado, esquema que começou a ser investigado em meados de 2014 e resultou na Operação Voldemort, deflagrada em março do ano passado. Sete réus foram acusados fraude em licitação, falsidade ideológica e organização criminosa.
Em 288 páginas, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) Jorge Barreto da Costa e Leila Schimiti reafirmam, que, de fato, o parente distante do governador Beto Richa (PSDB), Luiz Abi Antoun, é o verdadeiro dono da Providence, juntamente com o sócio Roberto Tsuneda, e que o mecânico Ismar Ieger é apenas o "laranja".
Abi, por sua proximidade com o governo e influência política, sustentam os promotores, seria o líder da organização criminosa: "Não há dúvidas de que o réu Luiz Abi atuava como efetivo líder da organização criminosa denunciada, valendo-se de sua influência política e de seu amplo poder econômico para executar os planos por ele engendrados e, assim, alcançar os objetivos almejados por todo o grupo". Na segunda fase da Operação Publicano, que apura um esquema de corrupção e sonegação fiscal na Receita Estadual, Abi é acusado pelo MP de ser o líder político da organização, tendo, inclusive, supostamente, pedido que auditores arrecadassem verba para a campanha de reeleição de Beto, em 2014, fato rechaçado pelo PSDB e pelo governador.
Reafirmam ainda que o advogado José Carlos Lucca deu suporte jurídico às fraudes e que o empresário Paulo Midauar intermediou o contato entre Ieger e Ernani Delicato, funcionário do Departamento de Transporte Oficial (Deto) da Secretaria Estadual de Administração e Previdência (Seap), que teria atuado diretamente na fraude das propostas da dispensa de licitação para a contratação da Providence. "Todos os acusados agiram motivados pela ganância e pela pretensão de enriquecimento ilícito", escreveram os promotores, ao tratar sobre os motivos determinantes para o crime.
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"Tudo o que foi alegado na denúncia, com base em interceptações telefônicas, depoimentos e documentos, foi fartamente comprovado durante a instrução do processo", afirmou Costa ontem à FOLHA. A chamada instrução ocorreu em novembro do ano passado, com a tomada de depoimentos de testemunhas arroladas pelo MP e pelos réus e pelo próprio interrogatório dos acusados.
Perante o juiz Juliano Nanuncio, eles negaram as acusações e sustentaram, em linhas gerais, que Abi apenas alugou o barracão onde estava a oficina e que fez investimentos, pagando contas e comprando equipamentos, por temor de que o mecânico não tivesse condições de pagar os valores pactuados pelo aluguel.
Para o MP, essa tese não prospera. "A real propriedade dos acusados Luiz Abi e Roberto Tsuneda foi amplamente comprovada nos autos, verificando-se que estes não apenas financiaram todos os investimentos necessários à constituição e manutenção da empresa, como também exerceram a gerência do estabelecimento comercial", escreveram nas alegações finais, última peça processual antes da sentença.
Agora, os réus são intimados para, em cinco dias, também apresentarem suas alegações finais. Ontem, os advogados de todos eles foram procurados em seus escritórios, nos quais a reportagem deixou recado, mas não deram retorno até o fechamento desta edição.